CELEBRAR O DOMINGO VIGÉSIMO QUINTO
Jesus Cristo, pela segunda vez, anuncia a Paixão aos discípulos (evangelho). E acrescenta um ensinamento sobre o serviço: o maior é aquele que serve, aquele que ama. Ele é o exemplo mais perfeito deste ensinamento: por nós, fez-se servo, o Justo perseguido (primeira leitura). Seguindo os seus passos, somos convidados a fazer o mesmo, sob o olhar de Deus. Na certeza de que, quaisquer que sejam as ameaças, Deus está do nosso lado (salmo). Por isso, não cedamos ao facilitismo: inveja e cobiças provocam más ações; mas nós somos chamados a praticar o bem e viver em paz (segunda leitura), com a graça de Deus.
«Se o justo é filho de Deus, Deus o protegerá»
O livro da Sabedoria foi escrito em grego, na cidade de Alexandria, no Egito, numa data próxima da alvorada do acontecimento cristão.
A primeira parte do livro expõe algumas reflexões profundas sobre o justo e a justiça. Esta é muito mais do que uma realidade política e social; é um valor que compreende todos os âmbitos da existência: a relação da pessoa com Deus, o cumprimento da Lei, o compromisso em favor do bem comum. A via da justiça é, portanto, o caminho sapiencial.
O texto proposto para primeira leitura do vigésimo quinto domingo (Ano B) destaca dois tipos de pessoas: o justo que acredita em Deus e o ímpio que, além de não acreditar, troça de quem tem confiança em Deus. Percebe-se que o justo incomoda porque não pactua com as obras dos ímpios, censura e repreende os comportamentos incorretos.
O ímpio é aquele que vive sem Deus: está convencido de que Deus nada faz, por isso pensa que pode agir impunemente contra a vida do justo; e até ridiculariza: «se o justo é filho de Deus, Deus o protegerá».
No texto, ainda que não o diga claramente, pode-se intuir uma referência à vida depois da morte: «Condenemo-lo à morte infame, porque, segundo diz, Alguém virá socorrê-lo». O livro da Sabedoria supõe um «avanço» indiscutível na revelação bíblica sobre a vida depois da morte que culminará na Ressurreição de Jesus Cristo (e na promessa de um «novo céu e de uma nova terra»).
Outro aspeto que importa destacar é a antecipação da figura do «justo» que cumpre a vontade de Deus, mas é recusado pelos seus contemporâneos. Desta forma se antecipa a condenação à morte de Jesus Cristo.
A mensagem é clara: Deus está sempre do lado dos justos, não os abandona, antes protege e socorre os seus filhos. Recordemos que depois do silêncio de Sexta-feira Santa surge a explosão da Páscoa!
«A sanidade espiritual depende de vermos que, em cada momento de cada dia, Deus faz o que fez na Sexta-feira Santa, não deixando que o mal, a morte e a destruição tivessem a última palavra, mas enobrecendo a humanidade com uma resiliência extraordinária e, através do poder de uma graça assombrosa, permite-nos aproveitar ao máximo mesmo as piores situações, deixando que a luz e a vida tenham a última palavra. O domingo de Páscoa é a resposta de Deus à Sexta-feira Santa: a vida tirada da morte» (Richard Leonard, Onde diabo está Deus?, ed. Paulinas).