Gaudium et Spes — Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo atual [3]
Vocação humana e sociedade
A Igreja sabe que a vocação à comunidade é inerente ao ser humano, pois a vida tem origem em Deus que colocou, no coração dos homens e mulheres, a vocação a ser membro da família humana. E Jesus Cristo ensinou que o amor a Deus não pode ser separado do amor ao próximo (GS 24). Neste sentido, cada pessoa é chamada a participar nas mais variadas instituições sociais com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento das outras pessoas. E, como membro, também tem o direito a ser beneficiada pelas ações dessas instituições. «No nosso tempo, devido a várias causas, as relações e interdependências mútuas multiplicam-se cada vez mais; o que dá origem a diversas associações e instituições, quer públicas quer privadas. Este facto, denominado socialização, embora não esteja isento de perigos, traz, todavia, consigo muitas vantagens, em ordem a confirmar e desenvolver as qualidades da pessoa humana e a proteger os seus direitos» (GS 25). Contudo, devido a problemas de vária ordem nem todas as sociedades têm condições para dar aos seus membros as condições básicas para uma vida verdadeiramente humana, tais como: «alimento, vestuário, casa, direito de escolher livremente o estado de vida e de constituir família, direito à educação, ao trabalho, à boa fama, ao respeito, à conveniente informação, direito de agir segundo as normas da própria consciência, direito à proteção da sua vida e à justa liberdade mesmo em matéria religiosa» (GS 26).Respeito pelo ser humano
Coerente com o Evangelho, o Concílio defende o respeito por todo e cada ser humano e denomina como «infame» o seguinte: «tudo quanto se opõe à vida, como seja toda a espécie de homicídio, genocídio, aborto, eutanásia e suicídio voluntário; tudo o que viola a integridade da pessoa humana, como as mutilações, os tormentos corporais e mentais e as tentativas para violentar as próprias consciências; tudo quanto ofende a dignidade da pessoa humana, como as condições de vida infra-humanas, as prisões arbitrárias, as deportações, a escravidão, a prostituição, o comércio de mulheres e jovens; e também as condições degradantes de trabalho; em que os operários são tratados como meros instrumentos de lucro e não como pessoas livres e responsáveis» (GS 27). Todavia, os Padres conciliares lembram a necessária caridade e o esforço para dialogar com todos, mesmo com aqueles que defendem ideias contrárias, pois também esses são seres humanos (GS 28).Igualdade
A igualdade entre todos deve ser sempre reconhecida. É inaceitável que haja desigualdades económicas e sociais, pois são obstáculo à justiça social, à equidade, à dignidade e à paz social e internacional. O Concílio lembra que compete às instituições, privadas ou públicas, estar ao serviço da dignidade humana, combatendo qualquer forma de sujeição política ou social, e salvaguardando, sob qualquer regime político, os direitos humanos fundamentais (GS 29). Afirma, também, que a justiça e a caridade devem imperar em favor do bem comum e, em função disso, são superiores a uma ética puramente individualista (GS 30).Participação social
Para que todos cumpram a sua função social é necessário que a educação seja uma prioridade. Neste sentido, dizem os Padres conciliares, «podemos legitimamente pensar que o destino futuro da humanidade está nas mãos daqueles que souberem dar às gerações vindoiras razões de viver e de esperar» (GS 31). A terminar, recorda-se que «esta índole comunitária aperfeiçoa-se e completa-se com a obra de Jesus Cristo. Pois o próprio Verbo encarnado quis participar da vida social. Tomou parte nas bodas de Caná, entrou na casa de Zaqueu, comeu com os publicanos e pecadores. Revelou o amor do Pai e a sublime vocação humana, evocando realidades sociais comuns e servindo-se de modos de falar e de imagens da vida de todos os dias» (GS 32).Este texto foi elaborado a partir das «fichas» apresentadas pelo «Ambiente Virtual de Formação» da Arquidiocese de Campinas, Brasil — www.ambientevirtual.org.br —