CELEBRAR O DOMINGO VIGÉSIMO TERCEIRO


Eis-nos convidados a louvar a Deus (salmo) por tudo o que faz. E, em particular, porque se realiza tudo o que os profetas anunciaram (primeira leitura): em Jesus Cristo, a salvação chegou até nós, também para os pagãos (evangelho). Ele cura, na Decápole (dez cidades), um surdo. E todos apregoam: «Tudo o que faz é admirável: faz que os surdos oiçam e que os mudos falem». Hoje, compete-nos acreditar em Jesus Cristo como o Salvador sem fazer qualquer «aceção de pessoas» (segunda leitura). E, em consequência, viver o mesmo amor de predileção pelos mais pobres.

«A língua do mudo cantará de alegria»
O fragmento oferecido na primeira leitura do vigésimo terceiro domingo (Ano B) pertence a um dos últimos capítulos (35) do designado «Primeiro Isaías» (as Bíblias mais recentes apresentam o livro de Isaías dividido em três partes; a primeira termina no capítulo 39). Todavia, os capítulos 34 e 35, uma espécie de «pequeno apocalipse», estão mais em sintonia com o «Livro da Consolação» do «Segundo Isaías», no qual se sublinha a esperança e a vitória do povo Israel, apesar de oprimido e maltratado no presente.
O profeta fala a pessoas perturbadas e desanimadas. A mensagem está intensamente dominada pela esperança: «Tende coragem, não temais». É uma característica dos textos apocalípticos: no meio da escuridão provocada pelas dificuldades e perseguições acende-se a lâmpada da esperança oferecida por Deus. Ora, num tempo em que o povo de Israel tinha perdido o entusiasmo para viver segundo os ensinamentos de Deus, a voz profética anuncia uma boa nova: é a novidade de Deus, reconhecida, pelos cristãos, como «evangelho».
Deus faz saber que estará de novo visível, ativo, decisivo, próximo: «Ele próprio vem salvar-nos». Deus tornar-se-á presente na história para restaurar a esperança e a vida: «Então se abrirão os olhos dos cegos e se desimpedirão os ouvidos dos surdos. Então o coxo saltará como um veado e a língua do mudo cantará de alegria».
O profeta fala também de transformações na Criação, entre as quais a abundância de água no deserto. Hoje, porém, tendo presente o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, precisamos de fazer ecoar bem alto as palavras do Papa na Encíclica sobre o Cuidado da Casa Comum (número 30): «nota-se um desperdício de água não só nos países desenvolvidos, mas também naqueles em vias de desenvolvimento que possuem grandes reservas. Isto mostra que o problema da água é, em parte, uma questão educativa e cultural, porque não há consciência da gravidade destes comportamentos num contexto de grande desigualdade».

Na profecia de Isaías reconhecemos a boa nova (evangelho) realizada em e por Jesus Cristo. No ministério de Jesus Cristo, a salvação prometida pelo profeta é já uma realidade. E Deus continua a oferecer sinais da sua presença: onde há caridade, aí habita Deus; onde há pais que fazem tudo pela saúde dos filhos, aí habita Deus; onde há acolhimento de imigrantes e refugiados, aí habita Deus; onde há cuidado pela Criação, aí habita Deus..

© Laboratório da fé, 2015

Celebrar o domingo vigésimo terceiro (Ano B), no Laboratório da fé, 2015


Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 4.9.15 | Sem comentários
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