CELEBRAR O DOMINGO DA SAGRADA FAMÍLIA
Em tempo de Natal, eis-nos convidados a contemplar a Sagrada Família que, diz a oração coleta, Deus nos dá como «modelo de vida». Somos desafiados a imitar a confiança de Maria e de José, a docilidade deles à Palavra, ao Espírito, aos «acontecimentos»: Maria«guardava todos estes acontecimentos em seu coração» (evangelho), como no dia do nascimento do Menino. Maria confia em Deus. Como Ana (primeira leitura), conta com o amor de Deus, um amor que gera vida. Elas ensinam-nos a acolher a graça e a cantar as maravilhas de Deus (salmo). Vivamos, portanto, como «filhos de Deus» (segunda leitura), testemunhas do seu amor.
«Seja consagrado ao Senhor»
Ana sentia-se desolada porque não tinha filhos. Pediu a Deus e o filho foi-lhe concedido, numa época em que o povo de Israel se encontrava absolutamente necessitado de um salvador e de um rei. Samuel, o filho que Deus concedeu a Ana, fará a ponte entre o passado (na época dos juízes, anterior à monarquia) e o futuro (centrado na pessoa e na descendência de David com as esperanças messiânicas que dele hão de derivar).
A primeira leitura proposta para a festa da Sagrada Família (Ano C), um texto retirado do Primeiro Livro de Samuel, centra-se na fidelidade de Ana, mãe de Samuel, e o cuidado amoroso que tem para com o seu filho, acolhido como dom de Deus. O importante do texto é o profundo sentido religioso dos protagonistas: a consciência de pertencerem a Deus e a confiança radical.
Assinale-se que, no fragmento do evangelho, a devoção a Deus por parte de Maria e de José manifesta-se numa peregrinação que fazem por altura da Páscoa. Contudo, o objetivo principal é proporcionar o contexto adequado para mostrar a verdadeira fidelidade de Jesus.
No caso de Ana, a fidelidade da mãe alimenta a fidelidade do filho. Samuel foi um dom dado por Deus a Ana; ela, em agradecimento, entrega de novo a Deus esse dom tão desejado: «eu o ofereço para que seja consagrado ao Senhor todos os dias da sua vida».
Num momento de necessidade na história do povo, Deus intervém. Neste caso, Samuel será a pessoa que terá de identificar e investir o salvador real escolhido por Deus: David.
A mãe, Ana, e o menino, Samuel, diante do mistério de Deus, que manifestou a sua generosidade no dom do filho, não podem fazer mais do que prostrar-se e adorar. Confiança e gratidão para com Deus são duas qualidades do crente de todos os tempos.
Instituída pelo papa Leão XIII (em 1893), inicialmente no terceiro domingo depois da Epifania, a festa da Sagrada Família acontece no domingo a seguir ao dia de Natal (ou no dia 30 de dezembro, quando o dia de Natal coincide com o domingo). A escolha da data ajuda a entender a festa no contexto do mistério da Incarnação. Também se pode associar a uma dupla perspetiva: a família formada por José, Maria e Jesus como «modelo de vida»; a família formada pela comunidade cristã como «modelo de fé». Numa e noutra, Jesus Cristo é nosso «irmão», acompanha-nos no amor ao Pai, ou melhor e primeiro, no deixarmo-nos amar pelo Pai.