CELEBRAR O DOMINGO VIGÉSIMO SEXTO
A Palavra de Deus elogia a abertura do Espírito e convida-nos a acolher com benevolência todas as pessoas que fazem o bem. Na verdade, o Espírito Santo não reconhece as barreiras que queremos impor aos outros. Ele sopra onde quer; e ninguém pode ousar ser destinatário exclusivo dos seus dons (primeiro leitura). E também não podemos pensar que temos o direito de exigir este ou aquele privilégio em função das riquezas ou da pertença à Igreja… O mais importante, o que resulta dos ensinamentos divinos que alegram o coração (salmo), é a fé vivida na atenção às necessidades dos outros (segunda leitura), a fé vivida com coerência e orientada pelo amor (evangelho), seguindo os passos de Jesus Cristo.
«Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta»
O livro dos Números recebe o nome do recenseamento — o número de pessoas — do povo de Deus descrito nos primeiros capítulos. O povo judeu tinha sido libertado da escravidão do Egito; sob a batuta de Moisés, caminha pelo deserto até à Terra Prometida.
O texto proposto para primeira leitura do vigésimo sexto domingo (Ano B) refere a ação do Espírito de Deus entre o povo. Depois de Deus ter entregue ao povo os Dez Mandamentos, Moisés é a única pessoa que fala com Deus. Contudo, Moisés sozinho não consegue governar um povo tão numeroso, de maneira que Deus retira parte do Espírito dado a Moisés e distribui-o por setenta anciãos que constituíam o conselho de governo. Estes experimentam de imediato a força do Espírito. Inclusive dois homens que não se tinham aproximado da tenda também recebem a força do Espírito. O jovem Josué, zeloso da missão exclusiva do seu mestre, vai denunciar o acontecimento a Moisés. Este, ao contrário do que era esperado, dá-lhe uma admoestação que é, ao mesmo tempo, um desejo para todos: «Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta».
Há de acontecer algo semelhante no tempo de Jesus Cristo, quando os discípulos denunciam a ação miraculosa de alguém que, supostamente, não fazia parte do grupo. Na esteira de Moisés, a resposta surpreende-os: «Ninguém pode fazer um milagre em meu nome e depois dizer mal de Mim». Esta é a atitude que se pede aos cristãos: profetizar e agir em nome de Jesus Cristo; e alegrar-se pelo bem realizado pelas pessoas de boa vontade, mesmo que não pertençam ao (nosso) grupo.
O II Concílio do Vaticano foi muito sensível a esta visão de fé sobre as realidades positivas que há para além da Igreja: «O mesmo Senhor nem sequer está longe daqueles que buscam, na sombra e em imagens, o Deus que ainda desconhecem […]. Nem a divina Providência nega os auxílios necessários à salvação àqueles que, sem culpa, não chegaram ainda ao conhecimento explícito de Deus e se esforçam, não sem o auxílio da graça, por levar uma vida reta. Tudo o que de bom e verdadeiro neles há, é considerado pela Igreja como preparação para receberem o Evangelho, dado por Aquele que ilumina todos os homens, para que possuam finalmente a vida» (Constituição Dogmática sobre a Igreja — Lumen Gentium, 16).