CELEBRAR O DOMINGO VIGÉSIMO SÉTIMO


Neste «domingo das famílias», dia em que (re)começa o Sínodo dos Bispos, a Palavra de Deus recorda o fundamento familiar associado ao projeto divino: a criação do ser humano, homem e mulher (primeira leitura). E o salmista canta a felicidade oferecida por Deus, dá graças pela felicidade conjugal (salmo 127). Em continuidade, Jesus Cristo confirma a magnanimidade do amor que une o homem e a mulher: faz deles «uma só carne»; é um amor indissolúvel (evangelho). Porque nos amou com perfeição (segunda leitura), Jesus Cristo não impõe algo impossível de viver, mais convida a segui-lo pelo caminho exigente da verdadeira felicidade.

«Os dois serão uma só carne»
A primeira leitura proposta para o vigésimo sétimo domingo (Ano B) situa-se na segunda narrativa da Criação, no livro do Génesis. Depois do relato solene, no primeiro capítulo, estruturado em sete dias, nos quais Deus, através da Palavra, criou o Universo, o segundo capítulo apresenta uma perspetiva diferente. Neste, Deus atua como um oleiro que modela todos os seres criados.
Importa salientar dois aspetos. O primeiro é óbvio, mas nunca é demais repeti-lo: não se trata dum «tratado de biologia», pelo que qualquer tentativa de explicar a origem da mulher a partir do homem não tem razão de ser. O segundo é que também não se trata dum «tratado de psicologia», pelo que é errado usar o texto para justificar uma suposta primazia do homem sobre a mulher.
O que está verdadeiramente em causa, tal como no primeiro relato, é a afirmação de que Deus é o Criador e o ser humano é uma criatura: homem e mulher, diferentes, mas complementares. Trata-se duma narração simbólica, expressiva, reflexo da literatura semítica mais antiga, que propõe uma reflexão teológica e antropológica.
Neste trecho, o homem é convidado a atribuir um nome a «todos os seres vivos» criados por Deus; mas não encontra outro ser «semelhante a ele» para o «auxiliar» e lhe fazer companhia. Surge de novo a iniciativa divina: tomou uma parte do homem («costela») e dela «formou» uma companheira, a mulher. Com um grito de entusiasmo, o homem reconhece alguém verdadeiramente como ele, alguém com quem pode partilhar a vida e dar-lhe sentido. É um dom de Deus Criador!
O texto original hebraico usa um jogo de palavras — homem (ish) e mulher (ishah) — para expressar a semelhança e a diferença entre ambos. A tradução esquece este (importante) jogo de palavras que expressa uma origem comum, ao mesmo tempo que aponta para um destino também comum: «os dois serão uma só carne».

Este domingo começa o Sínodo dos Bispos sobre a família: «A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo». É mais uma bela ocasião para pedir ao Espírito Santo que ilumine a mente e o coração dos participantes para que, juntamente com o Papa, sejam capazes de encontrar caminhos adequados para propor a vocação e a missão da família, no contexto atual, segundo a criatividade evangélica: «o anúncio do Evangelho da família constitui uma urgência para a nova evangelização».

© Laboratório da fé, 2015

Celebrar o domingo vigésimo sétimo (Ano B), no Laboratório da fé, 2015

Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 2.10.15 | Sem comentários
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