CELEBRAR O DOMINGO DÉCIMO OITAVO
O alimento evocado nos textos bíblicos propostos para o décimo oitavo domingo (Ano B) serve para colocar a questão de fundo sobre a fé, sobre a confiança em Deus: no deserto, quando têm fome, os filhos de Israel esquecem-se que foram libertados do Egito e perdem a confiança em Deus (primeira leitura). Em Cafarnaum, Jesus Cristo convida a multidão a repensar o caminho da fé, a fazer memória daquilo que os seus pais contaram (salmo) e a reconhecer o verdadeiro Pão do Céu, o Pão da Vida (evangelho). Para viver desse pão, é preciso acreditar em Jesus Cristo, o enviado do Pai, e deixar-se renovar pelo Espírito Santo (segunda leitura).
Os factos relacionados com a libertação do Egito são prodigiosos: o Deus dos escravos vence o faraó e os seus deuses. A passagem do mar foi a vitória contra as forças do mal.
O povo de Israel percorre as primeiras etapas do caminho pelo deserto para chegar à «Terra Prometida». Cedo começa a murmurar contra os mediadores, Moisés e Aarão. A passagem do mar deixou o povo no deserto, um lugar de fome, que inevitavelmente conduz à morte. Nessas circunstâncias, o Egito, o lugar da escravidão, é recordado como um lugar onde havia carne e pão. A necessidade de comida faz esquecer que o caminho do deserto conduz à liberdade e ao bem-estar. Estamos perante uma perversão da vida própria de pessoas que não enxergam além dos interesses imediatos: a (suposta) sobrevivência em vez da (verdadeira) liberdade!
O deserto é apresentado, no livro do Êxodo, como uma realidade ambivalente: por um lado, é o lugar das revelações de Deus, da providência solícita para com o seu povo. Mas, por outro, é o lugar dos confrontos com Moisés, o enviado de Deus, o lugar da carência e da nostalgia.
O que realmente surpreende na narração é que Israel não é censurado pelos seus horizontes limitados, antes recebe uma resposta imediata e positiva: «Vou fazer que chova para vós pão do céu». Deus não abandona o seu povo; tampouco se dá por vencido: dá-lhes um alimento diário. É um pão que tem a sua origem nos «armazéns» do céu e não nos armazéns do faraó. Além disso, em contraste com a carne do Egito, a terra da escravidão, Deus providencia as codornizes. O dito «pão do céu» é um alimento desconhecido — «Man-hu?», quer dizer: «Que é isto?». Moisés, o mediador, desvela o seu sentido: «É o pão que o Senhor vos dá em alimento».
O «pão do céu» («maná») torna-se, na história bíblica, o alimento diário dado por Deus, alimento suficiente para caminhar. Eis a prefiguração do «pão da vida», Jesus Cristo: «Tomai, todos, e comei: isto é o Meu Corpo, que será entregue por vós». Agora, a Eucaristia realiza a oferta do alimento, não só suficiente para caminhar, como também «dura até à vida eterna». Hoje, é fundamental ter presente a nossa união pessoal com Jesus Cristo como o objetivo dos nossos encontros eucarísticos (dominicais): unirmo-nos a Jesus, comungar com Ele; «uma comunhão com Cristo na Eucaristia, que transforme a vida» (EG 138).