CELEBRAR O DOMINGO PRIMEIRO DA QUARESMA


O tema da Aliança remete para a fidelidade de Deus na «História da Salvação»: Deus não quer a «destruição» mas a vida. Esta é a primeira das cinco catequeses que serão apresentadas nesta Quaresma (Ano B). O arco-íris surge como o sinal da aliança estabelecida entre Deus e a terra (primeira leitura). O ser humano, para ser fiel à aliança, apoia-se na bondade divina, nas «graças que são eternas» (salmo). Pedro explica que há continuidade entre a antiga e a nova aliança realizada em Jesus Cristo (segunda leitura). E o episódio do evangelho mostra Jesus Cristo já vencedor de Satanás, vencedor do mal. A Quaresma é uma oportunidade para «abrir o ouvido do coração» para «escutar a melodia do presente»: «o desafio é atirar-se para os braços da vida e ouvir aí o bater do coração de Deus. Sem fugas. Sem idealizações» (José Tolentino Mendonça).

«Será um sinal da aliança entre Mim e a terra»
O fragmento do livro do Génesis proposto na primeira leitura é um oráculo colocado na boca de Deus: um decreto sobre a intenção de Deus após a narração do Dilúvio. Trata-se de um texto que pertence ao chamado «Relato Sacerdotal», que surgiu durante o exílio do povo de Israel na Babilónia, um acontecimento que marcou decisivamente a histórica e a experiência de fé do povo bíblico. É provável que a experiência caótica do exílio se encontre plasmada de forma simbólica e criativa na narração do Dilúvio.
Deus anuncia a Noé a sua intenção unilateral de estabelecer uma Aliança, um ato de afeto para com a Criação. Tudo sugere a imagem duma nova criação.
A promessa mais importante consiste na não repetição dum dilúvio: o mundo e a vida não voltarão a ser postos em perigo. A promessa é paralela à de Isaías (54, 9-10): «Vou agir como no tempo de Noé: jurei que nunca mais o dilúvio se abateria sobre a terra. Do mesmo modo, juro nunca mais me irritar contra ti, nem te ameaçar. Ainda que os montes sejam abalados e tremam as colinas, o meu amor por ti nunca mais será abalado, e a minha aliança de paz nunca mais vacilará. Quem o diz é o Senhor, que tanto te ama». Trata-se duma promessa de amor e duma aliança de paz que expressa a total solidariedade de Deus com a comunidade do exílio.
No texto do Génesis, há um sinal especial: o arco-íris. É um sinal que mostra o alcance da fidelidade de Deus, tão grande como a própria Criação: «Será um sinal da aliança entre Mim e a terra». Cada vez que vemos o arco-íris podemos dizer: é verdade, Deus não rompe a sua aliança, a terra não será destruída. Há esperança: trabalhemos pela vida!

A teologia do Antigo Testamento desenvolve sucessivas alianças: com Noé, com Abraão, com o povo, até que os profetas anunciam uma «nova e eterna aliança». Mas a salvação oferecida por Deus não se impõe, antes é uma proposta que pode ser aceite ou recusada pelos humanos. Pouco a pouco, Deus vai dando a conhecer a sua vontade salvífica: desde a (antiga) aliança com Noé e com toda a Criação até à sua máxima expressão na (nova e eterna) aliança realizada em Jesus Cristo.

© Laboratório da fé, 2015

Celebrar o domingo primeiro da Quaresma (Ano B), no Laboratório da fé, 2015


Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 19.2.15 | Sem comentários
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