CELEBRAR O DOMINGO QUINTO


«Ai de mim se não anunciar o Evangelho!» — diz Paulo (segunda leitura). Como seria bom que cada um de nós fizesse a mesma declaração! Descobrir que o Evangelho é um tesouro de vida a partilhar, que «é uma obrigação que me foi imposta», não por dever, mas por felicidade… Sim, quando como Job (primeira leitura), apesar das dificuldades da vida, mantemos a confiança e rezamos com fé. Sim, quando, como muitos outros, fazemos a experiência de que «é agradável e justo celebrar o seu louvor» (salmo). Sim, quando, como os discípulos e a multidão, vamos à «procura» de Jesus Cristo (evangelho). Sim, quando, acolhendo o Evangelho, nos tornamos testemunhas entusiasmadas da Boa Nova revelada em Jesus Cristo. «Não nos deixemos roubar o entusiasmo missionário! […] Não deixemos que nos roubem a alegria da evangelização!» (Francisco, Exortação Apostólica sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual — «A Alegria do Evangelho», 80.83).

«A minha vida não passa de um sopro»
O livro de Job é uma das obras mais singulares de toda a Sagrada Escritura. O início e o fim são uma espécie de conto com um final feliz. Todavia, no coração do livro, constituído pelos diálogos entre Job e os seus amigos e, depois, com o próprio Deus, deparamo-nos com o grande enigma do sofrimento e com a inquietante pergunta sobre a justiça de Deus. E tudo desemboca na grande interrogação sobre o sentido da existência, que, para os humanos, será sempre uma questão em aberto.
O fragmento da primeira leitura do quinto domingo (Ano B) possui um tom terrivelmente sombrio. Job, diante dos seus amigos, lamenta-se da sua situação, lamenta-se da vida que experiencia como uma carga insuportável, pois nem a noite serve para descansar: «agito-me angustiado até ao crepúsculo». A vida é comparada à lançadeira que faz passar o fio da trama de um ao outro lado do tear. Job está convencido de que se aproxima o fim dos seus dias: «a minha vida não passa de um sopro».
Podemos ficar surpreendidos, mas é útil recordar que, nesta época, a teologia judaica ainda não tinha descoberto a vida para além da morte (ressurreição). Para eles, Deus premeia ou castiga nos (curtos) anos de vida. A história humana era o lugar da justiça de Deus. Assim, a doença, a pobreza, a morte dos entes queridos, eram vistas como castigos divinos.
Mas Job não consegue conciliar os males de que padece com a justiça divina. E atreve-se a colocar em causa a «teologia» do seu tempo. Ele representa o crente que não se contenta com as respostas convencionais.
Em que consiste a justiça de Deus? Vale a pena uma vida breve e cheia de sofrimentos? A resposta é esboçada apenas no final do livro quando coloca a nu as (nossas) falsas imagens e destaca a necessidade de conhecer melhor a Deus. Ora, nós, cristãos, temos acesso ao conhecimento de Deus a partir de Jesus Cristo, das suas palavras e das suas ações. É o Evangelho! E Jesus Cristo não está com os que causam a dor, mas com aqueles que sofrem. Jesus Cristo veio para dar saúde e vida plena ao ser humano.

© Laboratório da fé, 2015

Celebrar o domingo quinto (Ano B), no Laboratório da fé, 2015

Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 5.2.15 | Sem comentários
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