CELEBRAR O DOMINGO TERCEIRO


A Liturgia da Palavra do terceiro domingo (Ano B) sugere que não há tempo a perder para proclamar a Boa Nova, para entrar no caminho de conversão e acreditar no Evangelho: é por isso que Jonas se dirige à cidade de Nínive (primeira leitura), é esse o objetivo das palavras de Paulo (segunda leitura), é essa a mensagem central de Jesus Cristo (evangelho). Sim, «o tempo é breve», «cumpriu-se o tempo», não há tempo a perder: Jesus Cristo ressuscitado é o caminho (salmo) a seguir e a testemunhar com alegria.

«Acreditaram em Deus»
A primeira leitura propõe o capítulo terceiro do livro de Jonas (valeria a pena ler todo o livro, que é composto por quatro breves capítulos). Em rigor, não estamos perante uma profecia — a pregação de Jonas resume-se a uma frase: «Daqui a quarenta dias Nínive será destruída» —, mas perante uma narração didática a propósito do comportamento dum profeta.
Primeiro, Jonas nega-se a cumprir a missão confiada por Deus (primeiro capítulo): é um «antiprofeta» (a essência do profeta é «escutar e proclamar» a mensagem de Deus). Na sequência dos acontecimentos é atirado ao mar e engolido por um «grande peixe», em cujas entranhas permanece durante três dias e três noites; por fim, é vomitado «em terra firme» (segundo capítulo). Agora (terceiro capítulo), Jonas aceita a missão e dirige-se a Nínive para anunciar a destruição dessa grande cidade. O diálogo final entre Deus e Jonas (quarto capítulo) dá a conhecer o objetivo fundamental do livro: a misericórdia de Deus é universal.
«Daqui a quarenta dias, Nínive será destruída» — proclama Jonas, conforme a indicação dada por Deus. O desenrolar da narrativa causa surpresa porque se trata apenas de uma afirmação, de uma constatação, sem propor qualquer tipo de atitude. São os próprios habitantes da cidade que, de forma criativa, assumem uma atitude de arrependimento, para a qual não tinham sido convocados. A verdade é que essa atitude provoca um resultado eficaz e imediato: Deus «desistiu do castigo». De facto, a atitude dos ninivitas é surpreendente: «acreditaram em Deus».
Nínive é a cidade assíria por excelência, símbolo dos «inimigos» de Israel. Por isso, é merecedora do maior dos castigos: a destruição. Jonas representa o pensamento dominante: se Deus é justo não pode perdoar, tem de destruir a cidade. A surpresa e a novidade que Jonas não está disposto a aceitar é que Deus se compadece e desiste do castigo perante a conversão dos habitantes de Nínive.

O livro de Jonas ensina-nos a não dizer a Deus «o que tem de fazer», nem muito menos a colocar os nossos desejos na boca de Deus. Ao mesmo tempo, releva-nos um Deus misericordioso, um Deus capaz de transformar a desgraça anunciada em graça concretizada.
A fé (acreditar em Deus) supõe deixar que Deus leve por diante a sua obra salvadora, sempre aberta à misericórdia. Só assim poderemos degustar o sabor da conversão: não como resposta a uma ameaça divina, mas como fruto do acolhimento duma Boa Notícia revelada em (e por) Jesus Cristo.

© Laboratório da fé, 2015

Celebrar o domingo terceiro (Ano B), no Laboratório da fé, 2015

Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 23.1.15 | Sem comentários
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