CELEBRAR O DOMINGO DA SAGRADA FAMÍLIA


Fé, fidelidade, confiança: são palavras com significados muitos próximos («acreditar», «dar crédito»). Estas atitudes estão bem expressas nos textos bíblicos propostos para a festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José (Ano B). São características de Deus (salmo) que também devem ser características do crente, do cristão: Abraão é, por isso, o pai dos crentes ou o seu modelo (primeira leitura); a Carta aos Hebreus evoca os frutos dessa fé (segunda leitura). Quanto a Maria e a José, são fiéis Àquele que é o autor das leis (evangelho) e totalmente disponíveis à sua graça…

«Levanta os olhos para o céu e conta as estrelas, se as puderes contar»
A primeira leitura coloca-nos perante a escuridão da noite de Abr(a)ão e de Sara: um casamento sem filhos para os amparar na velhice e dar continuidade à família.
Por isso, Abraão fala com Deus para expor a sua situação. Ao mesmo tempo, confia numa promessa divina que parece impossível. É o testemunho duma fé pura. Entretanto, Deus responde-lhe com um desafio: «Levanta os olhos para o céu e conta as estrelas, se as puderes contar». O Deus de Abraão é paradoxal: as pessoas não podem contar as estrelas; mas podem acreditar.
Deus promete, e cumpre. Abraão passa à história como modelo para todos os crentes. Sim, a humildade crente de Abraão faz parte da história religiosa da humanidade. Abraão acredita e espera; Deus promete e cumpre.
A fé expressa a nossa disponibilidade para acolher a fidelidade de Deus (estamos a celebrar o Natal, isto é, o cumprimento mais surpreendente da fidelidade divina). É muito mais do que ter uma ideia clara sobre Deus (o seu ser e o seu agir). A fé faz-nos entrar no campo da experiência, uma experiência não raras vezes salpicada de dúvidas. Abraão, por cima de todas as razões humanas que o podiam levar a colocar em dúvida as palavras de Deus, acreditou. A sua confiança deslocou-se do crédito às suas dúvidas razoáveis para as palavras de Deus. Esta é a experiência mais autêntica que se pode ter de Deus. Só num clima de fé é que a palavra de Deus se converte em «recompensa», se transforma em realidade, se aproxima da verdade, se experimenta como fidelidade. O capítulo onze da Carta aos Hebreus é um testemunho vibrante da importância da fé (vivida) na relação com Deus.
No livro do Génesis, primeiro está a fé e só depois a narração do nascimento do filho Isaac. A criança recém-nascida é a revelação do amor e da fidelidade de Deus. A família converte-se em sinal da fé humana e do amor divino.

«A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida. Transformados por este amor, recebemos olhos novos e experimentamos que há nele uma grande promessa de plenitude e se nos abre a visão do futuro. A fé, que recebemos de Deus como dom sobrenatural, aparece-nos como luz para a estrada orientando os nossos passos no tempo» (Francisco, Carta Encíclica sobre a fé — «Lumen Fidei», 4).

© Laboratório da fé, 2014

Celebrar o domingo da Sagrada Família (Ano B), no Laboratório da fé, 2014

Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 26.12.14 | Sem comentários
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