CELEBRAR O QUARTO DOMINGO DE ADVENTO
O quarto domingo de Advento (Ano B) é o domingo do encontro e da disponibilidade. Deus vem ao encontro do humano: «O Senhor está contigo» (primeira leitura e evangelho). E aguarda a (nossa) disponibilidade. Maria é o nosso modelo mais perfeito de disponibilidade à vontade de Deus (evangelho). Antes dela, o rei David foi convidado a acolher o desígnio de Deus relevado através do profeta Natã (primeira leitura). Ao longo da história, Deus sempre procurou e continua a procurar corações disponíveis para acolher a sua aliança (salmo)… Coloquemo-nos na escola de Maria e aclamemos a glória d’Aquele que nos vem salvar (segunda leitura).
«Faz o que te pede o teu coração, porque o Senhor está contigo»
O texto da primeira leitura, retirado do Segundo Livro de Samuel, assinala uma mudança radical na vida de David: de chefe de tribo a fundador duma dinastia «para sempre».
Começa com uma consideração sobre a construção do Templo. No mundo antigo, a construção dum templo manifestava a piedade e a glória dos reis.
A narração surpreende por não ser previsível. Expressa o que poderíamos chamar «uma segunda opinião» de Deus. O previsível era a construção do Templo de Jerusalém. Aliás, essa tinha sido a primeira afirmação do profeta: «Faz o que te pede o teu coração, porque o Senhor está contigo». Mas a surpresa e a imprevisibilidade estão precisamente no facto de Deus corrigir a aprovação do profeta Natã. Este pensa como os homens, mas a «palavra do Senhor» propõe outros caminhos!
O núcleo do texto desenvolve-se na evocação dos feitos grandiosos realizados por Deus em favor de David: «Tirei-te das pastagens onde guardavas os rebanhos… Estive contigo… Exterminei diante de ti todos os teus inimigos». Tudo foi obra de Deus; David é um recetor de dons. De novo, Deus anuncia a sua última decisão: «O teu trono será firme para sempre». David queria construir uma casa, um templo para Deus; mas é Deus que vai edificar uma «casa» (descendência) para David. Esta promessa converte-se em garantia do futuro que Deus quer para Israel, que se vincula concretamente a David e à sua descendência e que vai muito além dos desaires da história.
No Advento, nós, cristãos, temos a ousadia de proclamar que o futuro que Deus quis para a humanidade passa por esta promessa feita a David. A «promessa davídica» abre a porta à futura ação de Deus: não está ligada a um lugar físico (Templo de Jerusalém), mas a uma «casa» humana: Jesus Cristo pertence à «casa de David»; um dos seus títulos será «Filho de David», não segundo a carne, mas segundo a promessa.
A melhor maneira de dar graças a Deus será permitir que Ele nos honre a nós! É salutar promover as obras da fé; mas, antes, é ainda mais importante reconhecer as maravilhas que Deus fez e faz em nosso favor. Mais do que gastar energias em projetos humanos em nome de Deus, urge discernir no silêncio e na oração o projeto que Deus tem para nós. Assim, ganhará pleno sentido a afirmação: «Faz o que te pede o teu coração, porque o Senhor está contigo».