CELEBRAR O PRIMEIRO DOMINGO DE ADVENTO
Advento, tempo dos profetas, tempo dos vigilantes: eis que se anuncia a vinda do Senhor Jesus Cristo. Aquando do Exílio, Israel suplica a Deus que venha em seu auxílio: estes crentes dão-nos um belo exemplo de confiança (primeira leitura), também cantada pelo salmista. Esta graça é-nos dada plenamente em Jesus Cristo (segunda leitura), no Natal. Mas Jesus Cristo fala também da sua vinda no final dos tempos (evangelho). Sim, esperamos a sua vinda gloriosa! Então, «vigiai»! Toda a nossa vida é vigilância, pois o cristão precisa de ter o olhar voltado para o regresso do seu Senhor. Eis o feliz tempo de Advento! Que a (primeira) vela da coroa de Advento nos desperte, nos abra os olhos, para a descoberta do que realmente é essencial!
«Nunca os olhos viram que um Deus, além de Vós,
fizesse tanto em favor dos que n’Ele esperam»
A primeira leitura contém diversos fragmentos dos últimos capítulos do livro de Isaías, uma obra complexa que se estende desde os textos mais antigos, testemunhos do grande profeta de Jerusalém do século VIII, passa pela segunda parte (capítulos 40 a 55), os poemas de ânimo aos filhos de Judá deportados na Babilónia, e acaba com uma miscelânea de textos proféticos da época persa ou do início da época helenística (os versículos da leitura). Trata-se de uma prece dirigida a Deus em nome de um povo oprimido e desprovido de qualquer poder. Contudo, a voz profética está convencida de que Deus pode intervir para tornar a vida pacífica e gozosa. Aliás, a vida sem Deus não se pode suportar; a vida com Deus é sempre marcada pela esperança. Este é o sentido da prece que nos é oferecida no primeiro domingo de Advento (Ano B), primeiro dia do novo ano litúrgico.
O profeta recorda que Deus já «desceu» outras vezes na história do povo, referindo-se aos factos do Êxodo, quando Israel foi libertado e Deus estabeleceu com o povo uma Aliança. O Advento é a esperança de que os factos fundamentais da memória de Israel podem ser atualizados: acontecimentos tão extraordinários que desafiam qualquer outra categoria explicativa que não seja a da fé.
Entretanto, a prece muda de tom e passa para a confissão de culpa. O povo de Israel reconhece-se «impuro», isto é, ritualmente inaceitável: já não se pode apresentar dignamente perante Deus. Nestas circunstâncias, Deus não pode «descer»… mas o povo pode invocar o nome de Deus e recordar tudo o que Deus fez em seu favor: «Nunca os olhos viram que um Deus, além de Vós, fizesse tanto em favor dos que n’Ele esperam».
O tempo de Advento abre com este poema de Isaías: por um lado, é um reconhecimento da nossa condição pecadora; por outro, uma garantia da esperança que procede de Deus. Em suma: uma condição de pecado não derrotista, mas cheia de esperança. Hoje, este é o motivo da nossa ação de graças (eucaristia). Rezamos o «Prefácio do Advento I» que pode ser muito bem acompanhado pela «Oração Eucarística III»: «esperando a sua vinda gloriosa, nós Vos oferecemos, em ação de graças, este sacrifício vivo e santo».