«Quem tem ouvidos para ouvir, oiça»
Santiago Casanova Miralles, membro da equipa do projeto «iMisión», reflete sobre a relação entre as redes sociais e a vida, discordando daqueles que dizem que as redes sociais não têm nada a ver com a vida do dia a dia. E recorda ainda a importância que Jesus Cristo dá ao anúncio do Evangelho. Há alguma relação entre as redes sociais e a Ressurreição?
A mim, parece-me estranho que haja tantas pessoas que digam que as redes sociais são uma realidade virtual que não tem nada a ver com a vida. Por favor! Aqueles que as frequentamos com fluidez e assiduidade já percebemos — e continuamos a percebê-lo diariamente — que as redes sociais são como a própria vida! Cada um tem de se associar a esses lugares de encontro e perceber o que está a acontecer, quem se passeia por lá e que tipo de relações se estabelecem. Vou dar um exemplo de grande atualidade e muito pastoral.
Estamos em tempo de Páscoa. Todos os que seguimos Jesus celebramos com alegria que Jesus ressuscitou, que está vivo, que já não há motivo para a falta de esperança nem para a tristeza. A luz vence as trevas, a vida vence a morte. Jesus salvou-nos. Há alguma relação entre as redes sociais e a Ressurreição?
Gosto - Partilhar ou Favorito - Retweetar
Há pessoas na vida, como nas redes sociais, que não gostam de se comprometer em demasia. Mas também não querem estar afastadas; por isso, relacionam-se à sua maneira, mas não geram muita vida à sua volta. São os assíduos ao «gosto» do Facebook ou aos favoritos do Twitter. Pessoas que acumulam experiências, que lêem tudo, que estão em todas, que se inscrevem aqui e ali, colecionadoras de sentimentos, emoções, momentos, fotografias, recordações. Estão lá, presentes à sua maneira. Lêem tudo e guardam para si, acumulando talentos, enterrando tesouros e guardando pérolas. Certamente que têm razões para isso e que o Senhor as conhece. Talvez exista algo que as impeça de gritar, de se mostrarem, de se atirarem de cabeça... Se és uma dessas pessoas, gostaria de te escutar em silêncio, aberto à tua verdade.
Há outros que não aguentam, que entendem que a vida não é só sua e que quando alguém encontra um tesouro, vende tudo o que tem para o conseguir. São pessoas multiplicadoras, geradoras de correntes, de movimento... São testemunhas do bem, Madalenas que correm a anunciar que se encontraram com o Mestre, coxos e cegos que contam o seu milagre porque será semente de fé para outros... São pessoas que entendem a vida em comunidade, coerentes com a sua aposta em fazer parte de algo maior do que elas próprias.
Vale a pena dizer que as ferramentas dos meios de comunicação social que calculam o nível de influência de qualquer pessoa na rede valorizam as respostas, os retwetes, os comentários... participação ativa. Jesus, que também sabia um pouco de comunicação social, pede a Madalena e às mulheres, e depois aos apóstolos: Ide e anunciai. Não basta que vós saibais a Boa Notícia! Porque será boa e será notícia se for transmitida, propagada, anunciada... A Boa Notícia só é boa quando não fica só para um.
Amigos? Seguidores?
Há os que são amigos de todos, que nem sequer conhecem os amigos. Há os das amizades raras, profundas e cultivadas e aqueles que se rodeiam de conhecidos a quem nem sequer perguntariam as horas. Existem os que seguem muitos só porque são seguidos por eles, os que só seguem os que têm a mesma opinião, os que só seguem os que são populares e os que nem a família conhecem, quase. As redes sociais não se parecem com a vida? Então! Mas o melhor é que também existem os que conhecem bem as pessoas desconhecidas porque se oferecem para acolher e se dão a conhecer. Existem os que conectam, os que se apoiam, os que se unem, os que constroem algo que vale a pena... Isto é mais real do que muitos «avatares» com pernas e braços com quem me cruzo no dia a dia.
E há pessoas que rezam umas pelas outras, que vivem juntas a sua fé, que se apoiam, que se amam, que se escrevem, que se animam, que se apoiam à distância... E a mim isso cheira-me a um Jesus real, vivo e ressuscitado.
Quem tem ouvidos para ouvir, oiça. Se quiser, claro...
© Santiago Casanova Miralles — www.imision.org —
© Santiago Casanova Miralles — www.imision.org —
© Tradução e adaptação de Laboratório da fé, 2013
A utilização ou publicação deste texto precisa de prévia autorização
A utilização ou publicação deste texto precisa de prévia autorização
- Outros textos relacionados > > >