Mês de maio, Mês de Maria


O papa João Paulo II, em 31 de janeiro de 1996, dedicou uma Audiência Geral ao tema «Anúncio da maternidade messiânica», para comentar o número 55 do oitavo capítulo (dedicado a Maria) da Constituição Dogmática sobre a Igreja — «Lumen Gentium» (LG), do II Concílio do VaticanoNo texto que se segue, o Papa coloca em destaque os textos do Antigo Testamento que se podem relacionar com a conceção de Jesus no seio de Maria: a profecia de Isaías (7, 14); a profecia de Natan (2Samuel 7, 13-14); a profecia de Miqueias (5, 2-3). A página do Vaticano apresenta a versão em espanhol e italiano; a tradução é da nossa responsabilidade.

1. Ao tratar da figura de Maria no Antigo Testamento, o Concílio (cf. Lumen Gentium, 55) refere-se ao conhecido texto de Isaías, que atraiu de modo particular a atenção dos primeiros cristãos: «A jovem está grávida e vai dar à luz um filho, e há de pôr-lhe o nome de Emanuel» (Isaías 7, 14).
No contexto do anúncio do anjo, que convida José a tomar Maria por sua esposa, «pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo», Mateus atribui um significado cristológico e mariano à profecia. Com efeito, acrescenta: «Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão de chamá-lo Emanuel, que quer dizer: Deus connosco» (Mateus 1, 22-23).
2. Esta profecia, no texto hebraico, não anuncia explicitamente o nascimento virginal do Emanuel. De facto, o vocábulo usado (almah) significa simplesmente uma mulher jovem, não necessariamente uma virgem. Além disso, é sabido que a tradição judaica não propunha o ideal da virgindade perpétua, nem nunca tinha expresso a hipótese de uma maternidade virginal.
Pelo contrário, na tradução grega, o vocábulo hebraico é traduzido pelo termo «párthenos», virgem. Neste facto, que poderia parecer apenas uma particularidade da tradução, podemos reconhecer uma misteriosa orientação dada pelo Espírito Santo às palavras de Isaías, para preparar a compreensão do nascimento extraordinário do Messias. A tradução do termo «virgem» explica-se pelo fundamento de que o texto de Isaías prepara com grande solenidade o anúncio da conceção e apresenta-o com um sinal divino (cf. Isaías 7, 10-14), despertando a espera de uma conceção extraordinária. Pois bem, que uma mulher jovem conceba um filho depois de se ter unido ao marido não constitui um facto extraordinário. Por outro lado, o oráculo não faz qualquer referência ao marido. Essa formulação sugere, portanto, a interpretação que foi dada pela versão grega.
3. No contexto original, a profecia de Isaías (7, 14) faz parte da resposta divina a uma falta de fé do rei Acaz, que, perante a ameaça de uma invasão dos exércitos dos reis vizinhos, procurava a sua salvação e a do seu reino através da proteção da Assíria. Ao aconselhá-lo a colocar a confiança apenas em Deus, renunciando a uma temível intervenção da Assíria, o profeta Isaías convida-o em nome do Senhor a um ato de fé no poder divino: «Pede um sinal ao Senhor teu Deus». Perante a recusa do rei, que prefere buscar a salvação na ajuda humana, o profeta pronuncia o célebre oráculo: «Escuta, pois, casa de David: Não vos basta ser molestos para os homens, senão que também ousais sê-lo para o meu Deus? Por isso, o Senhor, por sua conta e risco, vos dará um sinal. Olhai: a jovem está grávida e vai dar à luz um filho, e há de pôr-lhe o nome de Emanuel» (Isaías 7, 13-14).
O anúncio do sinal do Emanuel, Deus connosco, implica a promessa da presença divina na história, que encontrará o seu pleno significado no mistério da encarnação do Verbo.
4. No anúncio do nascimento prodigioso do Emanuel, a indicação da mulher que concebe e dá à luz mostra uma intenção de unir a mãe ao destino do filho — um príncipe destinado a estabelecer um reino ideal, o reino messiânico — e permite vislumbrar um desígnio divino particular que destaca o papel da mulher.
Com efeito, o sinal não é só o menino, mas também a conceção extraordinária, revelada depois no parto, um acontecimento cheio de esperança que sublinha o papel central da mãe.
Além disso, a profecia do Emanuel tem de se entender na perspetiva que marca o início da promessa feita a David, promessa que se lê no segundo livro de Samuel. Aqui, o profeta Natan promete ao rei a proteção divina para o seu descendente: «Ele construirá um templo ao meu nome, e Eu firmarei para sempre o seu trono régio. Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho» (2Samuel 7, 13-14).
Em relação à descendência de David, Deus quer desempenhar uma função paternal, que manifestará o seu significado pleno e autêntico no Novo Testamento, com a encarnação do Filho de Deus na família de David (cf. Romanos 1, 3).
5. O mesmo profeta Isaías, noutro texto muito conhecido, reafirma o caráter excecional do nascimento do Emanuel. Estas são as palavras: «Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado; tem a soberania sobre os seus ombros, e o seu nome é: Conselheiro-Admirável, Deus herói, Pai-Eterno, Príncipe da paz» (Isaías 9, 5). Assim, na série de nomes dados ao menino, o profeta expressa as qualidades da sua missão real: sabedoria, força, benevolência paterna e ação pacificadora.
Aqui já não se nomeia a mãe, mas a exaltação do filho, que dá ao povo tudo o que se pode esperar de um reino messiânico, também é partilhada pela mulher que o concebeu e deu à luz.
6. Do mesmo modo, uma famosa profecia de Miqueias (5, 2-3) faz alusão ao Emanuel. Diz o profeta: «Mas tu, Belém-Efrata, tão pequena entre as famílias de Judá, é de ti que me há de sair aquele que governará em Israel. As suas origens remontam aos tempos antigos, aos dias de um passado longínquo. Por isso, Deus abandonará o seu povo até ao tempo em que der à luz aquela que há de dar à luz» (Miqueias 5, 1-2). Nestas palavras ressoa a espera de um parto carregado de esperança messiânica, no qual se ressalta, uma vez mais, o papel da mãe, recordada e exaltada explicitamente pelo admirável acontecimento que traz alegria e salvação.
7. A bênção que Deus concedeu aos humildes e aos pobres (cf. Lumen Gentium, 55) preparou de um modo mais geral a maternidade virginal de Maria.
Os pobres, ao porem a sua confiança no Senhor, antecipam com a sua atitude o significado profundo da virgindade de Maria, que, renunciando à riqueza da maternidade humana, esperou de Deus toda a fecundidade da sua própria vida.
Como se vê, o Antigo Testamento não contém um anúncio formal da maternidade virginal, que só se revelou plenamente no Novo Testamento. Contudo, a profecia de Isaías (7, 14) prepara a revelação deste mistério, que neste sentido foi explicitada na tradução grega do Antigo Testamento. O evangelho de Mateus, citando a profecia traduzida desta forma, proclama o seu perfeito cumprimento mediante a conceção de Jesus no seio virginal de Maria.

© Copyright 1996 - Libreria Editrice Vaticana — www.vatican.va (versão em espanhol) —
© Tradução de Laboratório da fé, 2013

João Paulo II - Karol Józef Wojtyła
Postado por Anónimo | 10.5.13 | Sem comentários
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