«Tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos» [Lucas 15, 32]


A Quaresma não pode ser um tempo de meras práticas rituais de outros tempos. A Quaresma tem de ser uma experiência atualizada de forma criativa, na nossa vida e nas nossas comunidades, para seguir (com) Jesus. 
A Quaresma é um desafio à conversão. O principal objetivo que orienta o plano pastoral consiste em «redescobrir a identidade cristã e o dom da fé, para uma ‘autêntica e renovada conversão ao Senhor’ Jesus Cristo». Muitos cristãos vivem hoje a fé ignorando o grande projeto que Deus tem para continuar a mudar o mundo, para tornar possível uma vida mais humana. Não sabem que esse projeto, ao qual Jesus chama «reino de Deus», é o objetivo de toda a sua vida e também a principal razão da sua condenação. «Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado». Chegou o momento de recuperar o projeto do reino de Deus, nas nossas comunidades. A Quaresma tem de nos ajudar a entrar na dinâmica do reino de Deus, dando o nosso contributo para a construção de um mundo mais saudável, mais digno, mais humano, mais alegre para todos, a começar pelos «últimos».
A Quaresma é um itinerário para a Luz Pascal. É o Espírito Santo, o mesmo que conduziu Jesus, que nos conduz à renovação do compromisso do Batismo, na celebração da Vigília Pascal. Este compromisso adquire, neste Ano da Fé, uma dimensão especial. «Professo um só batismo para remissão dos pecados». Somos batizados pelo Espírito, o único que pode regenerar a fé débil e vacilante das nossas comunidades. Tudo o resto vem a seguir! Em primeiro lugar é preciso seguir Jesus e seguir com Jesus. Temos de enraizar a nossa fé em Jesus Cristo como a única verdade que nos permite viver e caminhar de forma criativa e alegre em direção ao futuro. O maior risco que podemos correr é pretender ser cristãos sem seguir Jesus. O tempo quaresmal há de ajudar-nos a dar conteúdo a esse seguimento. Jesus convida-nos a ir com ele para um lugar tranquilo para receber, através dos seus ensinamentos, um «mestrado em Jesus», isto é, aprofundar o Evangelho.
A Quaresma é um tempo propício para o exercício da caridade. «A celebração da Quaresma, no contexto do Ano da Fé, proporciona-nos uma preciosa ocasião para meditar sobre a relação entre fé e caridade: entre o crer em Deus, no Deus de Jesus Cristo, e o amor, que é fruto da acção do Espírito Santo e nos guia por um caminho de dedicação a Deus e aos outros. [...] Essencialmente, tudo parte do Amor e tende para o Amor. O amor gratuito de Deus é-nos dado a conhecer por meio do anúncio do Evangelho. Se o acolhermos com fé, recebemos aquele primeiro e indispensável contacto com o divino que é capaz de nos fazer ‘enamorar do Amor’, para depois habitar e crescer neste Amor e comunicá-lo com alegria aos outros» (Mensagem do Papa para a Quaresma).
A Quaresma prepara-nos para a alegria e a festa. Um dos exemplos evidentes deste amor gratuito de Deus está patente na figura do Pai Misericordioso revelado na parábola do evangelho segundo Lucas. Jesus dirige-se, em primeiro lugar, aos que se consideram fiéis, bons praticantes da religião judaica; mas acreditam num Deus ausente, sem relação com o ser humano. Por isso, a maravilhosa conclusão que podemos retirar é que o pai da parábola é o mais humano de todas as personagens. Deus é mais humano do que os seus filhos! «Tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos». O Deus de Jesus Cristo não (nos) deixa outra alternativa: corre ao encontro do filho mais novo e cobre-o de beijos; ao filho mais velho convida-o a entrar noutra lógica: sem festa e alegria não há paternidade nem filiação verdadeiras!

© Laboratório da fé, 2013


Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 13.2.13 | Sem comentários
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