CELEBRAR O DOMINGO TRIGÉSIMO QUARTO
Na última solenidade do Ano Litúrgico (Ano B), Jesus Cristo faz rimar realeza com humildade e verdade: não se trata de um rei à maneira do mundo! A sua realeza não é deste mundo. Ele veio para «dar testemunho da verdade» (evangelho), para nos libertar do pecado (segunda leitura). Jesus Cristo é o Servo perfeito, o filho do homem que deu a vida para obter a salvação de todos e reunir todas as nações na sua glória (primeira leitura). O poder da sua majestade (salmo) brota do serviço, da doação, da fidelidade, do amor. Ele é «Aquele que é, que era e que há de vir, o Senhor do Universo».
«O seu reino não será destruído»
O capítulo sete de Daniel inicia a segunda parte do livro (7, 1 — 12, 13), que é caracterizada por «visões» de pendor apocalíptico difíceis de interpretar.
Daniel tem uma primeira visão em que vislumbra quatro feras, «quatro grandes animais, diferentes uns dos outros» (7, 3). Atribuiu-se esta referência às últimas grandes potências sanguinárias que importunaram o povo bíblico (desde o tempo de Nabucodonosor): babilónicos, medos, persas, macedónios. É importante esta referência para entender o alcance da nova figura que, entretanto, aparece no texto proposto para primeira leitura.
O profeta é testemunha de um facto surpreendente que ocorre no céu: um «Ancião» — figura que se interpreta como uma referência a Deus —, sentado como juiz, julga o quarto animal, que é o mais insolente. Trata-se do rei da Síria, Antíoco IV, que oprimia religiosamente o povo de Israel, perseguia os judeus que permaneciam fiéis à fé dos seus antepassados.
A luta só em aparência é política, porque, na realidade, por detrás dos grandes impérios há uma potência sobre-humana que combate contra o Deus da Aliança: a interpretação da história há de ser, pois, teológica, lida a partir de Deus. É certo que os impérios passam e não há estabilidade duradoira, mas a opressão do povo bíblico pede uma intervenção divina que interrompa as sucessivas investidas do mal.
Daniel constata a necessidade de instaurar o Reino de Deus, um reino que substitua a série dos impérios humanos, um reino liderado por uma figura humana, um «filho do homem», que mostrará a decisão divina de alterar o rumo da história: «O seu poder é eterno, não passará jamais, e o seu reino não será destruído».
O texto culmina numa mensagem de esperança: não são os poderes deste mundo que dominam a história; o triunfo será do verdadeiro Senhor da história, Deus, que há de instaurar o seu Reino através do seu enviado: «alguém semelhante a um filho do homem». A última palavra pertence a Deus. Assim, o povo adquire a chave que permite interpretar o sentido da história. Esta figura do «filho do homem», que vem de Deus, a quem é dado o domínio universal, que reina sobre todos os povos, é vista pela teologia cristã como uma antecipação profética do domínio universal de Jesus Cristo. Ele não usará o poder para escravizar como fazem os poderosos deste mundo, mas para nos libertar e fazer de nós seus irmãos, filhos de Deus.