CELEBRAR O DOMINGO TRIGÉSIMO TERCEIRO
Na reta final do ano litúrgico, a Liturgia da Palavra remete para o «final dos tempos». É preciso estar preparado? Jesus Cristo alerta: não sabemos o dia nem a hora desse fim do mundo que suscita tantas especulações… Mas a fé abre-nos novas perspectivas: Jesus Cristo vai reunir-nos na glória (evangelho) e, uma vez que o seu perfeito e «único sacrifício» nos salva (segunda leitura), saborearemos a vida eterna que nos foi prometida (primeira leitura). É esta convicção, esta confiança, que aclamamos (salmo 15), certos do amor com que somos amados.
«Brilharão como estrelas por toda a eternidade»
O livro de Daniel pertence ao género apocalíptico. Não se pode ler como o quarto dos «profetas maiores» (Isaías, Jeremias e Ezequiel), mas como representante da apocalítica judaica canónica: textos que têm uma predileção pelo contraste entre o presente dececionante e a esperança num futuro glorioso!
O protagonista situa-se na Babilónia, no império que resulta dos sucessos de Nabucodonosor, o conquistador e destruidor de Jerusalém, causador da deportação do povo de Deus. Mas, na realidade, refere-se à época da opressão causada pelos reis helenistas da Síria contra Jerusalém e da perseguição religiosa que acabou por desencadear a revolta dos Macabeus, no século segundo antes de Cristo.
Na segunda parte deste livro especial e complexo — escrito em três línguas: hebraico, aramaico, grego — estão as «visões de Daniel». Na imagética do texto proposto para primeira leitura do trigésimo terceiro domingo (Ano B) contempla-se o futuro escatológico. Os eleitos de Deus são aqueles cujos nomes estão «inscritos no livro de Deus». Estes, apesar dos sofrimentos, serão salvos. O mundo divino representado aqui por Miguel – «o grande chefe dos Anjos, que protege os filhos do teu povo» – irrompe na história para levar a cabo o seu plano. Encontramo-nos num contexto singular: a luta das forças que obstaculizam o plano divino contra o Deus que salva o seu povo. O resultado final é uma vitória clara de Deus, que agrega a si os sábios e os justos: «brilharão como estrelas por toda a eternidade».
O texto é muito especial porque é, provavelmente, o primeiro do Antigo Testamento em que se evoca a ressurreição dos mortos (embora não se use o termo): «Muitos dos que dormem no pó da terra acordarão, uns para a vida eterna, outros para a vergonha e o horror eterno».
O Ano Litúrgico atualiza e realiza o mistério global da salvação. É preciso orientar o olhar para o futuro, movidos pela esperança, enquanto vivemos a experiência presente com constância e paciência. É importante percorrer o caminho que conduz ao final glorioso. Os crentes (cristãos) têm a missão ser testemunhas da esperança enquanto partilham com os irmãos as circunstâncias da vida, sejam marcadas pelo sofrimento, sejam marcadas pela alegria. A interpretação dos textos apocalípticos possui estas duas versões: esperança para o futuro e testemunho consolador para o presente. Uma tarefa nada fácil de assumir no concreto do dia a dia!