Gaudium et Spes — Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo atual [10]
Natureza da paz
«A paz não é ausência de guerra; nem se reduz ao estabelecimento do equilíbrio entre as forças adversas, nem resulta duma dominação despótica. [...] É um fruto da ordem que o divino Criador estabeleceu para a sociedade humana [...]. A paz nunca se alcança duma vez para sempre, antes deve estar constantemente a ser edificada. [...] Absolutamente necessárias para a edificação da paz são ainda a vontade firme de respeitar a dignidade dos outros e a prática assídua da fraternidade. A paz é assim também fruto do amor, o qual vai além do que a justiça consegue alcançar. A paz terrena, nascida do amor do próximo, é imagem e efeito da paz de Cristo, vinda do Pai. Pois o próprio Filho encarnado, príncipe da paz, reconciliou com Deus, pela cruz, todos os seres humanos; restabelecendo a unidade [...], extinguiu o ódio e, exaltado na ressurreição, derramou nos corações o Espírito de amor» (78).Evitar a guerra
«Apesar de as últimas guerras terem trazido tão grandes danos materiais e morais, ainda todos os dias a guerra leva por diante as suas devastações em alguma parte da terra. Mais ainda, o emprego de armas científicas de todo o género para fazer a guerra, ameaça, dada a selvajaria daquelas, levar os combatentes a uma barbárie muito pior que a de outros tempos. Além disso, a complexidade da atual situação e o intrincado dos relações entre países tornam possível o prolongar-se de guerras mais ou menos larvadas, pelo recurso a novos métodos insidiosos e subversivos. Em muitos casos, o recurso aos métodos do terrorismo é considerado como uma nova forma de guerra. Tendo diante dos olhos este estado de prostração da humanidade, o Concílio quer, antes de mais, recordar o valor permanente do direito natural internacional e dos seus princípios universais» (79). Daí a necessidade de fazer valer os acordos e as convenções internacionais que exigem o respeito pela dignidade humana. «Saibam os homens e mulheres de hoje que darão grave conta das suas atividades bélicas. Pois das suas decisões atuais dependerá em grande parte o curso dos tempos futuros». Reafirmando a tradição de condenar sempre a guerra, declara que qualquer ação bélica genocida «é um crime contra Deus e o próprio ser humano, que se deve condenar com firmeza e sem hesitação» (80). Lembra, também, que «a corrida aos armamentos, a que se entregam muitas nações, não é caminho seguro para uma firme manutenção da paz; e de que o pretenso equilíbrio daí resultante não é uma paz segura nem verdadeira. [...] É preciso escolher outros caminhos, partindo da reforma das mentalidades, para eliminar este escândalo e poder-se restituir ao mundo, liberto da angústia que o oprime, uma paz verdadeira» (81). Neste contexto, é função das autoridades nacionais e internacionais buscar os meios mais aptos para assegurar a vida, garantir o direito e a justiça. É função de todos promover uma cultura que seja capaz de suplantar aquilo que divide a humanidade. Pouco adiantarão os esforços daqueles que buscam edificar a paz, «enquanto os sentimentos de hostilidade, desprezo e desconfiança, os ódios raciais e os preconceitos ideológicos dividirem os seres humanos e os opuserem uns aos outros. Daqui a enorme necessidade duma renovação na educação das mentalidades e na orientação da opinião pública. [...] Todos nós temos de reformar o nosso coração, com os olhos postos naquelas tarefas que podemos realizar juntos para o progresso da humanidade. [...] A Igreja de Cristo, no meio das angústias do tempo atual, não deixa de esperar firmemente. À nossa época quer ela propor, uma e outra vez, oportuna e importunamente, a mensagem do Apóstolo: ‘eis agora o tempo favorável’ para a conversão dos corações, ‘eis agora os dias da salvação’» (82).Este texto foi elaborado a partir das «fichas» apresentadas pelo «Ambiente Virtual de Formação» da Arquidiocese de Campinas, Brasil — www.ambientevirtual.org.br —