Anunciar a alegria da fé! [5]


«O que é que é feito, em nossos dias, daquela energia escondida da Boa Nova, suscetível de impressionar profundamente a consciência dos homens e mulheres? Até que ponto e como é que essa força evangélica está em condições de transformar verdadeiramente o ser humano deste nosso século? Quais os métodos que hão de ser seguidos para proclamar o Evangelho de modo a que a sua potência possa ser eficaz? Tais perguntas, no fundo, exprimem o problema fundamental que a Igreja hoje põe a si mesma e que nós poderíamos equacionar assim: [...] encontrar-se-á a Igreja mais apta para anunciar o Evangelho e para o inserir no coração dos seres humanos, com convicção, liberdade de espírito e eficácia? Sim ou não?» (EN 4) — escritas em 1975 pelo papa Paulo VI, no décimo aniversário da conclusão do Concílio, são palavras (ainda) atuais passados 40 anos (50 do Concílio).

Quem evangelizamos?

A alegria do Evangelho tem um alcance universal (cf. tema 3). Por isso, todos são destinatários da evangelização, a começar pelos que aceitam a missão de ser evangelizadores! O papa Francisco sintetiza a dinâmica evangelizadora em três âmbitos: «pastoral ordinária»; «pessoas batizadas que não vivem as exigências do Batismo»; os que «não conhecem Jesus Cristo». Para explicitar estes três âmbitos o Papa serve-se de palavras proferidas pelos seus antecessores (João Paulo II e Bento XVI): «Em primeiro lugar, mencionamos o âmbito da pastoral ordinária, ‘animada pelo fogo do Espírito a fim de incendiar os corações dos fiéis que frequentam regularmente a comunidade, reunindo-se no dia do Senhor, para se alimentarem da sua Palavra e do Pão de vida eterna’. Devem ser incluídos também neste âmbito os fiéis que conservam uma fé católica intensa e sincera, exprimindo-a de diversos modos, embora não participem frequentemente no culto. Esta pastoral está orientada para o crescimento dos crentes, a fim de corresponderem cada vez melhor e com toda a sua vida ao amor de Deus. Em segundo lugar, lembramos o âmbito das ‘pessoas batizadas que, porém, não vivem as exigências do Batismo’, não sentem uma pertença cordial à Igreja e já não experimentam a consolação da fé. Mãe sempre solícita, a Igreja esforça-se para que elas vivam uma conversão que lhes restitua a alegria da fé e o desejo de se comprometerem com o Evangelho. Por fim, frisamos que a evangelização está essencialmente relacionada com a proclamação do Evangelho àqueles que não conhecem Jesus Cristo ou que sempre O recusaram. Muitos deles buscam secretamente a Deus, movidos pela nostalgia do seu rosto, mesmo em países de antiga tradição cristã. Todos têm o direito de receber o Evangelho» (EG 14). Aliás, «João Paulo II convidou-nos a reconhecer que ‘não se pode perder a tensão para o anúncio’ àqueles que estão longe de Cristo, ‘porque esta é a tarefa primária da Igreja’» (EG 15).

Proselitismo ou atração?

O anúncio da alegria do Evangelho é um dever de todos os cristãos, «sem excluir ninguém, e não como quem impõe uma nova obrigação, mas como quem partilha uma alegria, indica um horizonte estupendo, oferece um banquete apetecível. A Igreja não cresce por proselitismo, mas ‘por atração’» (EG 14).

Pastoral missionária

Inspirada na Encíclica sobre a validade permanente do mandato missionário («Redemptoris Missio»), dada à Igreja pelo papa João Paulo II no dia sete de dezembro do ano de 1990, no vigésimo quinto aniversário do decreto conciliar «Ad gentes», a EG recorda que «a atividade missionária ‘ainda hoje representa o máximo desafio para a Igreja’ e ‘a causa missionária deve ser [...] a primeira de todas as causas’. Que sucederia se tomássemos realmente a sério estas palavras? Simplesmente reconheceríamos que a ação missionária é o paradigma de toda a obra da Igreja. Nesta linha, os Bispos latino-americanos afirmaram que ‘não podemos ficar tranquilos, em espera passiva, em nossos templos’, sendo necessário passar ‘de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária’. Esta tarefa continua a ser a fonte das maiores alegrias para a Igreja: ‘Haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não necessitam de conversão’ (Lucas 15, 7)» (EG 15).

Estou pronto para anunciar a alegria do Evangelho? Reconheço que, em primeiro lugar, preciso de ser evangelizado para ser um bom evangelizador? Quero ser um evangelizador que «partilha uma alegria» ou que «impõe uma nova obrigação»? A missão pode ser comparada a uma pesca: prefiro a linha (um a um) ou a rede (multidão)? Fico à espera ou vou ao encontro?

© Laboratório da fé, 2015 







Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 5.11.15 | Sem comentários
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