CELEBRAR O DOMINGO TRIGÉSIMO SEGUNDO


Um ensinamento sobre a sinceridade de coração: Deus não olha às aparências, conhece o íntimo dos nossos pensamentos; e a sinceridade da fé é garantia da nossa salvação. Neste trigésimo segundo domingo (Ano B), o que está em causa é a generosidade, a caridade: a viúva de Sarepta partilha o pouco que tem para alimentar o profeta Elias (primeira leitura), a pobre viúva, no Templo, não hesita em dar tudo o que possui (evangelho). Deus, que «ampara o órfão e a viúva» (salmo 145), aprecia a beleza do gesto, a gratuidade da oferenda. A nossa salvação não pode ser comprada pelos nossos méritos; é uma dádiva recebida graças à oferta vital («sacrifício») de Jesus Cristo (segunda leitura).

«A mulher foi e fez como Elias lhe mandara»
Os livros dos Reis contêm narrações sobre as diversas atividades dos profetas Elias e Eliseu. Estes viveram numa época muito antiga da história de Israel (século nono antes de Cristo). São uns personagens singulares de quem não temos qualquer escrito próprio. Esta é a característica principal dos grandes profetas bíblicos: homens que comunicam a palavra de Deus que dá sentido à história de um tempo concreto. Neste caso, apenas temos conhecimento de atos singulares e prodigiosos realizados por intermédio de Elias e Eliseu.
A história narrada no Primeiro Livro dos Rei — texto proposto para primeira leitura — tem como protagonista o profeta Elias, o porta-voz de Deus contra a corrupção política e espiritual da vida israelita. A função do profeta consiste em contribuir para romper com o ciclo de violência e de apostasia que caracterizava o Reino do Norte desde a sua fundação.
As atitudes de Acab, rei de Israel, fizeram aumentar «a ira do Se­nhor, Deus de Israel, mais do que todos os reis de Israel, seus predecessores» (cf. 1Reis 16, 29-34). Então, Deus enviou uma seca extrema. Em consequência, o profeta, perseguido pelo rei, teve que fugir. Depois de várias peripécias, chega a Sarepta, uma cidade fenícia.
A viúva com quem o profeta se encontra não é uma adoradora do Deus de Israel. Ela diz: «Tão certo como estar vivo o Senhor, teu Deus…». Neste fragmento, aprendemos uma lição importante sobre o amor universal de Deus, um amor que vai para além dos estreitos limites dos reinos de Israel (Norte) e de Judá (Sul). E também recebemos o testemunho da bondade e da compaixão duma pessoa não crente para com um homem de Deus.
«A mulher foi e fez como Elias lhe mandara», mesmo sem ter qualquer outro recurso para sobreviver juntamente com o seu filho. O profeta, perante a generosidade extrema da mulher anuncia um prodígio. Não se trata de um qualquer poder mágico de Elias; a comida milagrosa é um dom de Deus à mulher que teve compaixão pelo profeta.

O texto questiona as nossas oferendas: fazemos contas ao que damos, damos «as sobras» ou aquilo que nos faz falta? Vale a pena experimentar que a dinâmica do compartilhar multiplica o que parece pouco, acrescenta em vez de subtrair. Essa é a caridade que brota, não das aparências, mas do íntimo do coração.

© Laboratório da fé, 2015



Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 6.11.15 | Sem comentários
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