CELEBRAR O DOMINGO DÉCIMO QUARTO


A Liturgia da Palavra do décimo quarto domingo (Ano B) oferece uma unidade à volta da dificuldade em ser profeta, ou, noutros termos, sobre a dificuldade em ser cristão nos dias de hoje: «Piedade, Senhor, tende piedade de nós, porque estamos saturados de desprezo» (salmo). Situação que, porventura, se repete no seio das nossas famílias ou comunidades… O profeta Ezequiel, no seu tempo, também foi confrontado com um ambiente hostil (primeira leitura). Paulo, ao esbarrar com a oposição de alguns dos seus ouvintes (segunda leitura), reconhece a força que lhe vem de Deus. E o próprio Jesus Cristo é rejeitado pelos seus, «desprezado na sua terra, entre os seus parentes e em sua casa» (evangelho). A fé seja a nossa fortaleza!

«Filhos de cabeça dura e coração obstinado»
Os profetas fazem ressoar a voz de Deus no coração da história do povo de Israel, principalmente nos momentos de tribulação. Ezequiel é um sacerdote incorporado na primeira deportação de Jerusalém para Babilónia, por volta do ano 597 (antes de Cristo). Aí, converter-se-á num profeta que recorre a imagens com grande impacto e realiza ações simbólicas destinadas a deixar uma marca na vida do povo bíblico.
A tarefa profética encomendada a Ezequiel é dada pelo Espírito — «o Espírito entrou em mim» —, a força de Deus que faz agir as pessoas e faz falar os profetas.
No texto proposto para primeira leitura aparece a expressão «filho do homem», tão característica deste profeta, que indica a condição debilitada do destinatário. Quem recebe o Espírito é um homem débil e mortal, que também recebe a missão de anunciar o poder e a força da palavra divina no meio de um povo rebelde e infiel. Mas nem a rebeldia nem a oposição dos ouvintes calam a voz profética. É perante esses «filhos de cabeça dura e coração obstinado» que Ezequiel, constituído pelo Espírito como mensageiro, se torna uma presença da voz salvadora de Deus.
O profeta denuncia o comportamento e abre caminho à conversão. A palavra de Deus não pode ser aprisionada e o profeta é seu fiel servidor. Jesus Cristo seguirá esta linha profética: a sua missão, além de curar os doentes e de se colocar ao lado dos pobres, é também a de denunciar a dureza dos corações para provocar a conversão.

A melhor das notícias, nos dias de hoje, é que continuam a existir profetas, homens e mulheres que denunciam as exclusões e as desigualdades provocadas pela sociedade do progresso, que levam consolo e esperança aos pobres e marginalizados. As suas vidas generosas e solidárias são por si só uma interrogação que incomoda e faz pensar! Por isso, é hora de estar atentos aos profetas, é tempo de nos deixarmos questionar pelo seu testemunho. Mas, sobretudo, é tempo e hora de nos tornarmos profetas, homens e mulheres de Deus que, com as nossas vidas e as nossas palavras, colocamos questões a esta sociedade adormecida, denunciamos a injustiça sem medo, anunciamos a alegria do Evangelho, a única capaz de transformar a vida. Afinal, não é esta a nossa vocação de cristãs/ãos?

© Laboratório da fé, 2015


Celebrar o domingo décimo quarto (Ano B), no Laboratório da fé, 2015


Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 2.7.15 | Sem comentários
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