CELEBRAR O DOMINGO DÉCIMO SÉTIMO
Em cada eucaristia, Deus oferece-nos o alimento da Palavra (Liturgia da Palavra) e do Pão (Liturgia Eucarística). Os textos bíblicos propostos para o décimo sétimo domingo (Ano B) despertam a nossa atenção para celebrar esse duplo «alimento»: «Abris, Senhor, as vossas mãos e saciais a nossa fome» (salmo). O profeta Eliseu já tinha anunciado e prefigurado essa abundância: em período de fome, distribui os pães pelo seu povo (primeira leitura). Jesus Cristo fará o mesmo, revelando-se como aquele que sacia todos os famintos (evangelho). Ele é «um só Senhor» que nos une em «um só Corpo» (segunda leitura). Agora, compete-nos a nós abrir as mãos para multiplicar, partilhar…
«Comerão e ainda há de sobrar»
O fragmento da primeira leitura, retirado do Segundo Livro dos Reis, pertence à tradição dos atos de Eliseu, o profeta de Deus, discípulo de Elias. Estes dois homens atuam no reino do Norte ou de Israel. Não deixaram qualquer obra profética escrita e deles só sabemos os atos prodigiosos recolhidos nos Primeiro e Segundo Livros dos Reis.
Uma vez fixado na «Terra Prometida», o povo é exortado a ser fiel à Aliança. Esta será a grande missão de Elias e do seu servo, o também profeta Eliseu: ambos conhecem o perigo constante da idolatria. Neste contexto, os profetas recordam que o Deus de Israel não é como as divindades das nações vizinhas. O Deus de Israel (YHWH) é um Deus preocupado com o seu povo, um Deus ao lado dos mais pobres, que olha para as suas necessidades, escuta os seus lamentos.
O episódio narrado é duma simplicidade espantosa. O profeta Eliseu recebe uma oferenda com as primícias da colheita do ano: a cevada e o trigo foram cegados e moídos; da farinha fizeram pães que foram oferecidos ao homem de Deus.
Eliseu não guarda para si este dom que lhe é oferecido, mas distribui-o pela comunidade. Ao servo parece-lhe insensato querer partilhar uma quantidade tão escassa de alimento com centenas de pessoas. Mas Eliseu diz que é a vontade de Deus: «Comerão e ainda há de sobrar». E assim sucedeu! Estamos diante da força poderosa da palavra de Deus para quem está disposto a deixar-se orientar por ela.
A resposta de Eliseu é uma antecipação do que é relatado no evangelho: reparte e confia em Deus. Não é só um gesto que convida a partilhar como forma de multiplicar o pouco que existe, mas um gesto de confiança na providência divina. Cada um dispõe do que tem, muito ou pouco, e Deus faz maravilhas!
A ação realizada pelo profeta Eliseu (e por Jesus Cristo) mostra que o «lógico» não é repartir o muito que se tem, mas partilhar o (pouco) que existe. Assim se passa do «eu» da «propriedade privada» ao «nós» do «destino universal dos bens», como bem propõe a doutrina social da Igreja. A fome da multidão não se sacia com um simples repartir o que temos a mais, mas partilhando tudo, ainda que seja pouco. A experiência demonstra precisamente que a lógica do repartir o «muito» (que sobra) nunca chega para todos, enquanto a partilha do «pouco» (que existe) chega para todos!