Viver a fé! [36]


«Proteger o ambiente» é a temática que ocupa o capítulo décimo do Compêndio da Doutrina Social da Igreja. Neste tema, abordamos os primeiros pontos: «aspetos bíblicos» (números 451 a 455); «o homem e universo das coisas» (456 a 460); «a crise na relação homem-ambiente» (461 a 465).

Aspetos bíblicos

«A experiência viva da presença divina na história é o fundamento da fé do povo de Deus [...]. A fé de Israel vive no tempo e no espaço deste mundo, que é visto não como um ambiente hostil ou um mal do qual deva libertar-se, mas frequentemente como o próprio dom de Deus, o lugar e o projeto que Ele confia à responsável direção e operosidade do ser humano» (451). De facto, «a relação do ser humano com o mundo é um elemento constitutivo da identidade humana. Trata-se de uma relação que nasce como fruto da relação, ainda mais profunda, do ser humano com Deus. O Senhor quis o ser humano como seu interlocutor: somente no diálogo com Deus a criatura humana encontra a própria verdade, da qual extrai inspiração e normas para projetar a história no mundo, um ‘jardim’ que Deus lhe deu para que seja cultivado e guardado. Nem o pecado elimina tal tarefa» (452). Entretanto, «a salvação definitiva, que Deus oferece a toda a humanidade mediante o seu próprio Filho, não atua fora deste mundo. Mesmo ferido pelo pecado, este é destinado a conhecer uma purificação radical da qual sairá renovado, transformado» (453). «O ingresso de Jesus Cristo na história do mundo culmina na Páscoa, onde a própria natureza participa do drama do Filho de Deus rejeitado e da vitória da Ressurreição» (454). «Não apenas a interioridade do humano é sanada, mas toda a sua corporeidade é tocada pela força redentora de Cristo; a criação inteira toma parte na renovação que brota da Páscoa» (455).

O homem e o universo das coisas

«A visão bíblica inspira as atitudes dos cristãos em relação ao uso da terra, assim como ao desenvolvimento da ciência e da técnica» (456). Na verdade, «os resultados da ciência e da técnica são, em si mesmos, positivos: [...] ‘as vitórias do género humano são um sinal da grandeza divina e uma consequência dos Seus desígnios inefáveis’. [...] Nesta perspetiva, o magistério tem repetidas vezes sublinhado que a Igreja Católica não se opõe de modo algum ao progresso» (457). «As considerações do magistério sobre a ciência e sobre a técnica em geral valem também para a sua aplicação ao ambiente natural e à agricultura» (458). Ora, «ponto de referência central para toda a aplicação científica e técnica é o respeito pelo ser humano, que deve acompanhar uma indispensável atitude de respeito para com os outros seres vivos. [...] ‘Toda e qualquer intervenção numa área determinada do ecossistema não pode prescindir da consideração das suas consequências noutras áreas e, em geral, das consequências no bem-estar das futuras gerações’» (459). E o ser humano não pode «esquecer que ‘a sua capacidade de transformar o mundo e, de certo modo, o “criar” com o próprio trabalho […] se desenrola sempre sobre a base da doação originária dos bens por parte de Deus’ [...]. É o próprio Deus que oferece ao ser humano a honra de cooperar com todas as forças da inteligência na obra da criação» (460).

A crise na relação homem-ambiente

«A mensagem bíblica e o magistério eclesial constituem os pontos de referência-parâmetro para avaliar os problemas que se põem nas relações entre o ser humano e o ambiente. [...] A tendência para a ‘exploração inconsiderada’ dos recursos da criação é o resultado de um longo processo histórico e cultural» (461). «A natureza aparece assim como um instrumento nas mãos do ser humano, uma realidade que ele deve constantemente manipular, sobretudo através da tecnologia [...]. O primado atribuído ao fazer e ao ter, mais do que ao ser, gera graves formas de alienação humana» (462). «Uma correta conceção do ambiente, se por um lado não pode reduzir de forma utilitarista a natureza a mero objeto de manipulação e desfrute, por outro lado não pode absolutizar a natureza e sobrepô-la em dignidade à própria pessoa humana. [...] O magistério tem manifestado a sua oposição a uma conceção do ambiente inspirada no ecocentrismo e no biocentrismo» (463). E «uma visão do ser humano e das coisas desligadas de qualquer referência à transcendência conduziu à negação do conceito de criação [...]. ‘A relação que o ser humano tem com Deus é que determina a relação do humano com os seus semelhantes e com o seu ambiente’» (464). Por isso, «o magistério enfatiza a responsabilidade humana de preservar um ambiente íntegro e saudável para todos» (465).

© Laboratório da fé, 2015 
Os números entre parêntesis dizem respeito ao «Compêndio da Doutrina Social da Igreja» 
na versão portuguesa editada em 2005 pela editora «Princípia» 





Laboratório da fé, 2014

Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 18.6.15 | Sem comentários
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