CELEBRAR O DOMINGO DÉCIMO SEGUNDO


Vento, mar, tempestade, fenómenos meteorológicos que destroem tudo… Os Apóstolos ficam indignados perante a tranquilidade de Jesus Cristo, mas Ele interpela-os sobre a falta de fé (evangelho). Já no Antigo Testamento, a tempestade marítima simbolizava o perigo (primeira leitura) e, nesse sentido, uma ameaça à relação com Deus. Por isso, em todos os tempos, o ser humano dominado pela angústia grita para Deus e espera a salvação (salmo). Ora, em Jesus Cristo, morto e ressuscitado, a salvação é oferecida a todos e para sempre (segunda leitura). Acredito na dinâmica salvadora de Jesus Cristo?

«O Senhor respondeu a Job do meio da tempestade»
O décimo segundo domingo (Ano B) oferece, na primeira leitura, um texto do livro de Job. Trata-se de uma obra sapiencial composta por uma parte em prosa — o prólogo e o epílogo — em que se descreve os sofrimentos e as desgraças de um homem que, no final, é recompensado por Deus. É como uma história com um final feliz!
A parte central do livro é poética. Contém os diálogos de Job com os seus amigos. Estes insistem em classificar a desgraça como um castigo divino: Deus é justo; Job é pecador, culpado. Job recusa-se a aceitar: protesta e reivindica a sua inocência.
No final do livro, Deus — o grande desafiado — fala com Job. O fragmento da primeira leitura faz parte desse diálogo. «O Senhor respondeu a Job do meio da tempestade». Mas as respostas de Deus são novas perguntas sobre a ordem e o sentido do Universo (neste caso, sobre a força do mar), perguntas para as quais o ser humano também não tem resposta. Em rigor, Deus não responde às interrogações colocadas por Job ao longo do livro. Mas aceita entrar em diálogo. A solidariedade de Deus com Job torna-se suficiente para lhe dar sentido à vida. Além disso, nas «respostas» de Deus percebe-se um convite a contemplar a vida com olhos de fé.
«A experiência de Job só encontra a sua resposta autêntica na Cruz de Jesus, ato supremo de solidariedade de Deus para connosco, totalmente gratuito, totalmente misericordioso. E esta resposta de amor ao drama do sofrimento humano, especialmente do sofrimento inocente, permanece para sempre gravada no corpo de Cristo ressuscitado, naquelas suas chagas gloriosas que são escândalo para a fé, mas também verificação da fé» (Francisco, Mensagem para o Dia Mundial do Doente, 2015).

Quantas vezes experimentamos o desânimo, o fracasso, a frustração, as surpresas negativas da vida! E, face a esta crua realidade, parece que Deus «está a dormir» ou nos abandona. É certo que, nos momentos difíceis, ficamos «cegos» e não somos capazes de ver mais nada além do que estamos a sentir e a viver. E falta-nos a capacidade para aceitar que o silêncio de Deus não é ausência, mas profunda solidariedade. «A força da fé não consiste na ‘imperturbabilidade da convicção’, mas na capacidade de suportar também as dúvidas, as obscuridades, de suster o peso do mistério — mantendo a lealdade e a esperança» (T. Halík, O meu Deus é um Deus ferido). «Ainda não tendes fé?».

© Laboratório da fé, 2015

Celebrar o domingo segundo primeiro (Ano B), no Laboratório da fé, 2015

Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 18.6.15 | Sem comentários
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