CELEBRAR O DOMINGO DO CORPO E SANGUE DE JESUS CRISTO
A Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo («Corpo de Deus») celebra a «Nova e Eterna Aliança» em Jesus Cristo. Os textos da Escritura propostos na Liturgia da Palavra (Ano B) relatam, progressivamente, o amor de Deus pela Humanidade revelado em termos de «Aliança». No tempo de Moisés, Deus estabelece uma Aliança com o povo (primeira leitura). Mais tarde, anuncia-se uma nova Aliança selada com o sangue de Jesus Cristo (segunda leitura), da qual, a Igreja, novo povo de Deus, faz memória em cada eucaristia (evangelho). Esta é o «sacrifício de louvor» (salmo) que cada um de nós oferece ao Pai em reconhecimento de tão grande amor.
«Faremos tudo o que o Senhor ordenou»
Há dois meses tivemos uma celebração centrada na Eucaristia: a Quinta-feira Santa. A Eucaristia tem suficiente importância e riqueza para lhe serem dedicadas duas celebrações especiais ao longo do ano!
O livro do Êxodo, depois da grande intervenção libertadora de Deus em favor dum povo escravo no Egito, situa a ação junto do monte Sinai. Este monte, o centro literário e teológico da caminhada do povo pelo deserto, tornar-se-à uma referência central para o judaísmo posterior.
Deus pronunciara as «dez palavras» ou «dez mandamentos». O povo compromete-se a obedecer: «Faremos tudo o que o Senhor ordenou». Moisés coloca-o por escrito. A Escritura será capital na experiência religiosa do povo de Israel. É a perpetuação da memória!
O texto da primeira leitura descreve com detalhes o rito da Aliança entre Deus e Israel: Moisés construiu um altar, mandou oferecer novilhos em holocausto (recordemos que a religião de Israel se expressava cultualmente com sacrifícios de animais), derramou metade do sangue dos novilhos sobre o altar e aspergiu o povo com a outra metade. Este sangue tem um papel fundamental: é sinal (selo) da fidelidade à Aliança.
O sangue, na mentalidade do povo bíblico, era portador da vida. Partilhar o sangue é partilhar a vida. Aspergir o sangue sobre as pessoas era implicar a vida do povo no cumprimento da Aliança. Por isso, o autor da Epístola aos Hebreus (segunda leitura) recorreu à imagem do sangue derramado por Jesus Cristo na cruz para expressar a «Nova e Eterna Aliança» entre Deus e a Humanidade.
A Eucaristia é o sacramento central da vida cristã. Escutamos muitas vezes esta afirmação com palavras semelhantes e de muitas e variadas formas. E também escutamos, outras tantas vezes, que a Eucaristia é aborrecida… Como conjugar estas duas experiências que são tão reais e contraditórias? Habitualmente, propõe-se dois caminhos: procura-se aprofundar o sabor teológico da Eucaristia (a sua transcendência e espiritualidade); procura-se que a celebração se torne mais participativa e expressiva. Ambos os caminhos são necessários e devem continuar a ser explorados. Mas é também importante propor a conjugação dos dois: a Eucaristia como uma Aliança vital, uma Aliança onde se dá a conhecer o seu aroma transcendente e onde se exprime a sua fragrância presente na vida quotidiana de cada pessoa.