CELEBRAR O DOMINGO SEXTO


Naquela época, a lepra era causa de exclusão (primeira leitura): os leprosos eram rejeitados pela comunidade. Hoje, acontece que, por motivos de higiene ou de profilaxia, certas doenças são também motivo de exclusão, mas é sobretudo a pobreza que gera afastamento em relação à sociedade. A palavra de Deus desperta a nossa indiferença! Apresenta-nos como modelo de fé um leproso curado por Jesus Cristo (evangelho). A palavra de Deus fortalece a nossa confiança (salmo), a nossa fé! Alicerçados em todos os que nos precederam, somos «imitadores» de Paulo (segunda leitura), discípulos de Jesus Cristo, nossa alegria.

«Deverá morar à parte, fora do acampamento»
O livro do Levítico contém uma grande coleção de leis da tradição sacerdotal de Israel. O texto da primeira leitura do sexto domingo (Ano B) situa-se na terceira parte do livro, designada como «código da pureza ritual» (capítulos 11 a 15), onde são reportadas diversas categorias: animais puros e impuros; purificação da mulher que dá à luz; purificação da lepra; impureza sexual.
A lepra — naquele tempo não correspondia à doença como a conhecemos hoje, mas designava vários tipos de doenças da pele — era, do ponto de vista social, uma doença muito grave; e os sacerdotes tinham a obrigação de declarar impuras as pessoas infetadas, excluindo-as de qualquer tipo de vida comunitária.
O leproso, segundo a cosmovisão refletida no Levítico, não podia participar no culto a Deus, era colocado à margem — «deverá morar à parte, fora do acampamento» —, como se fosse um morto. A vida fora do acampamento, aquando da peregrinação pelo deserto, também significava, simbolicamente, a exclusão do ambiente abrangido pela presença protetora de Deus. 

Hoje, este texto precisa de ser iluminado pelo relato do evangelho e pelas nossas situações vitais.
No nosso contexto mais próximo, a lepra não é uma doença habitual e, além do mais, tem cura. Contudo, continuam a existir homens e mulheres considerados «impuros», obrigados a «morar à parte», fora da sociedade!
No tempo de Jesus Cristo, continuava a ser proibido ser tocado ou tocar um leproso. Por isso, quando Jesus Cristo toca o leproso, não só se atreve a um gesto proibido, mas também mostra desacordo em relação à situação de exclusão por parte da sociedade. A Boa Nova de Jesus Cristo supõe recuperar a pessoa em todas as suas dimensões.
Como em outras ocasiões, Jesus Cristo não se fica pelas palavras, mas «vai tocar o intocável. Estende a mão àqueles que é interdito tocar. […] Prefere incorrer no perigo da contaminação, desejando tocar a ferida do outro; querendo compartilhar, como só o toque compartilha, aquele sofrimento; ajudando a vencer os ostracismo interiorizado por aquela separação forçada. O que é que cura o homem leproso? Cura-o saber-se tocado, e tocado no sentido de encontrado, assumido, aceite, reconhecido, resgatado. Quando toda a distância se vence, o toque de Jesus reconstrói a nossa humanidade» (José Tolentino Mendonça, «A mística do instante», ed. Paulinas).

© Laboratório da fé, 2015

Celebrar o domingo sexto (Ano B), no Laboratório da fé, 2015

Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 12.2.15 | Sem comentários
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