Viver a fé! [20]
O protagonismo da família na vida social ocupa o quarto e último ponto do quinto capítulo — «a família, célula vital da sociedade» — do Compêndio da Doutrina Social da Igreja (números 246 a 254). Este ponto surge na continuidade do anterior (cf. tema 19: «a subjetividade social da família»): «A subjetividade social das famílias, tanto singularmente tomadas como associadas, exprime-se ainda em múltiplas manifestações de solidariedade e de partilha, não somente entre as próprias famílias, como também mediante várias formas de participação na vida social e política» (246). Além da alínea sobre a solidariedade familiar (números 246 e 247), este ponto aborda ainda a relação entre a família, a vida económica e o trabalho (números 248 a 254).
Solidariedade familiar
«A solidariedade pertence à família como dado constitutivo e estrutural». A solidariedade é uma consequência da «realidade familiar fundada no amor. [...] Esta solidariedade pode assumir o rosto do serviço e da atenção a quantos vivem na pobreza e na indigência, aos órfãos, aos deficientes, aos enfermos, aos anciãos, a quem está de luto, a todos os que estão na dúvida, na solidão ou no abandono; uma solidariedade que se abre ao acolhimento, à guarda ou à adoção; que sabe fazer-se voz de toda a situação de mal-estar junto das instituições, para que estas intervenham de acordo com as próprias finalidades específicas» (246). Assim, é fundamental que a família se sinta «sujeito» e não apenas «objeto de ação política [...]. Para tanto, deve ser corroborado o associativismo familiar: ‘As famílias têm o direito de formar associações com outras famílias e instituições, com o fim de cumprir a tarefa familiar de modo conveniente e eficaz, como também de proteger os direitos, promover o bem e representar os interesses da família» (247).Família e vida económica
A relação entre a família e a vida económica é «particularmente significativa». Antes de mais, convém lembrar que «a ‘economia’ nasceu do trabalho doméstico: a casa foi durante muito tempo, e ainda – em muitos lugares – continua a ser, unidade de produção e centro de vida. O dinamismo da vida económica, por outra parte, desenvolve-se com a iniciativa das pessoas e realiza-se, segundo círculos concêntricos, em redes cada vez mais vastas de produção e de troca de bens e de serviços, que envolvem as famílias de forma crescente. A família, portanto, há de ser considerada, com todo o direito, protagonista essencial da vida económica, orientada não pela lógica do mercado, mas segundo a lógica da partilha e da solidariedade entre as gerações» (248).Família e trabalho
A relação entre a família e o trabalho é «absolutamente particular»: «o trabalho é essencial enquanto representa a condição que torna possível a fundação de uma família, cujos meios de subsistência se obtêm mediante o trabalho. O trabalho condiciona também o processo de crescimento das pessoas, pois uma família vítima do desemprego corre o risco de não realizar plenamente as suas finalidades. O contributo que a família pode oferecer à realidade do trabalho é precioso e, sob muitos aspetos, insubstituível. É um contributo que se expressa quer em termos económicos, quer mediante os grandes recursos de solidariedade que a família possui e que constituem um importante apoio para quem, dentro dela, se acha sem trabalho ou está à procura de um emprego» (249). «Para tutelar esta relação essencial entre família e trabalho, um elemento a estimar e salvaguardar é o salário-família, ou seja, um salário suficiente para manter e fazer viver dignamente a família» (250). «Nas relações entre família e trabalho, uma atenção particular deve ser reservada ao trabalho da mulher em família, o assim chamado ‘trabalho de atenção’, que reclama também as responsabilidades do homem como marido e como pai» (251). Neste contexto, o Compêndio da Doutrina Social da Igreja reafirma que «a sociedade e, em particular, as instituições estatais – no respeito da prioridade e ‘antecedência’ da família – são chamadas a garantir e a favorecer a genuína identidade da vida familiar e a evitar e combater tudo o que a altere ou fira. [...] A sociedade e o Estado não podem, portanto, nem absorver, nem substituir, nem reduzir a dimensão social da própria família» (252). «Tudo isto requer a realização de políticas familiares autênticas e eficazes» (253).O reconhecimento «da prioridade da família sobre qualquer outra comunidade e sobre a própria realidade estatal leva leva a superar as conceções meramente individualistas e a assumir a dimensão familiar como perspetiva, cultural e política, irrenunciável na consideração das pessoas» (254).
© Laboratório da fé, 2015
Os números entre parêntesis dizem respeito ao «Compêndio da Doutrina Social da Igreja»
na versão portuguesa editada em 2005 pela editora «Princípia»
- A família, protagonista da vida social — Viver a fé! [20] — pdf
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