CELEBRAR O DOMINGO DA EPIFANIA
A Epifania dá a plenitude ao Natal. A Luz atinge a sua máxima intensidade! Esta luz, a luz do Natal, é para todos os povos (primeira leitura), pois a realização das promessas diz respeito a todos (segunda leitura), a estrela que brilha na noite pode pôr a caminho quem quer que levante os olhos e se deixe conduzir por ela (evangelho). Se, como os Magos, observamos o sinal da salvação, se estamos dispostos a deixar-nos inquietar pelos apelos de Deus, escutemos a sua Palavra: ela revela-nos o seu amor por todos os homens e mulheres; e recorda-nos a nossa missão de anunciar aos fracos e aos pobres (salmo) que Deus vem para nos salvar.
«Quando o vires ficarás radiante, palpitará e dilatar-se-á o teu coração»
A Liturgia da Palavra abre com uma maravilhosa visão do profeta Isaías. Desde o primeiro momento, a proclamação do texto tem de levar o ouvinte a perceber o entusiasmo do profeta!
Israel, ao longo da história, passou por profundos períodos de escuridão (o exílio na Babilónia, por exemplo). Agora, chega a época da luz. Uma luz que é um dom de Deus.
Num primeiro momento, os verbos pertencem ao campo semântico da luz: a aurora e o amanhecer impõem-se à noite e à escuridão. Depois, aparecem as imagens dos peregrinos em direção à cidade, não para fazer aumentar a pobreza, mas para encher a cidade de tesouros. O texto é um hino à esperança na restauração de Jerusalém, ainda desolada, mas convidada a olhar para um futuro cheio de prosperidade: «Quando o vires ficarás radiante, palpitará e dilatar-se-á o teu coração».
O profeta Isaías apresenta a vinda de Deus como a vinda da Luz: uma luz que brilha no meio do mundo. Jerusalém e os seus habitantes transformam-se em sinal da presença de Deus. A profecia proposta para o domingo da Epifania (popularmente designado como «dia de Reis») faz de nós — ouvintes e destinatários — testemunhas do extraordinário movimento realizado em Jerusalém: da escuridão para a luz, do desespero para a esperança, da consternação para a tranquilidade, da tristeza para a alegria.
A Luz de Deus põe fim ao exílio. Israel, ao longo da história, tinha sido sempre um povo de segunda categoria, entre vizinhos ricos e poderosos. A partir de agora, as coisas vão mudar: as riquezas excêntricas das nações, com as quais antes nem sequer podia sonhar, são agora oferecidas ao povo de Deus. Jerusalém tornar-se o lugar da luz que brilha sobre o mundo. Contudo, convém recordar que o centro não é o «lugar» mas a própria luz: as riquezas levadas a Jerusalém são para adorar o Senhor, para proclamar «as glórias do Senhor».
No anúncio do acontecimento cristão, mantém-se a centralidade da Luz (estrela), mas dá-se uma deslocação do «lugar» e do «conteúdo»: os tesouros do oriente não se dirigem para Jerusalém, mas para Belém; a riqueza trazida não é tanto a material («tesouros do mar… riquezas das nações»), quanto a que «revela» o mistério do Menino diante do qual se hão de prostrar os Magos (a profecia refere ouro e incenso; falta a mirra do evangelho).