Viver a fé! [2]


«O desígnio de amor de Deus para toda a Humanidade» é o título do conteúdo do primeiro capítulo (números 20 a 59) do Compêndio da Doutrina Social da Igreja. Nesta proposta — «viver a fé» — vamos resumir o primeiro capítulo em três temas. Neste tema, abordamos os dois primeiros pontos do capítulo: «A ação libertadora de Deus na história de Israel» (números 20 a 27) e «Jesus Cristo, cumprimento do desígnio de amor do Pai» (números 28 a 33).

A proximidade gratuita de Deus

O dom e a gratuidade são duas dimensões fundamentais para intuir a presença de Deus e, por isso, servem para iluminar a convivência humana. De facto, em qualquer experiência religiosa autêntica, Deus «aparece, por um lado, como origem daquilo que é, como presença que garante aos homens, socialmente organizados, as condições básicas de vida, pondo à disposição os bens necessários; por outro lado, como medida do que deve ser, como presença que interpela o agir humano – tanto no plano pessoal, como no social – sobre o uso dos mesmos bens nas relações com os outros» (20). Entretanto, a história bíblica revela que a proximidade gratuita de Deus, como relata o livro do Êxodo aquando da saída do Egito, «manifesta-se na libertação da escravidão e na promessa, tornando-se ação histórica na qual tem origem o processo de identificação coletiva do povo do Senhor, através da aquisição da liberdade e da terra que Deus lhe oferece em dom» (21). E toda a história de Israel comprova a constante presença gratuita de Deus. Para perpetuar essa presença, Deus estabelece uma Aliança com o seu povo concretizada, depois, através do «Decálogo»: os dez mandamentos. Eles «constituem um extraordinário caminho de vida, indicam as condições mais seguras para uma existência liberta da escravidão do pecado, [...] constituem as regras primordiais de toda a vida social» (22). O dom e a gratuidade divinas inspiram a vida social e económica do povo de Israel através da criação do «direito do pobre» (23), da lei do ano sabático (celebrado a cada sete anos) e do ano jubilar (a cada cinquenta anos): «é uma lei que prescreve, além do repouso dos campos, a remissão das dívidas e uma libertação geral das pessoas e dos bens: cada um pode retornar à sua família e retomar a posse do seu património» (24). Então, o dom e a gratuidade ficam obscurecidos e distorcidos pela experiência do pecado: «A rutura da relação de comunhão com Deus provoca a rutura da unidade interior da pessoa humana, da relação de comunhão entre o homem e a mulher e da relação harmoniosa entre os homens e as demais criaturas» (27).

Jesus Cristo é o cumprimento do desígnio de amor do Pai

«A benevolência e a misericórdia, que inspiram o agir de Deus e oferecem a sua chave de interpretação, tornam-se tão próximas do homem a ponto de assumir os traços do homem Jesus, o Verbo feito carne» (28). Jesus Cristo anuncia e torna visível o dom e a gratuidade do amor de Deus, nomeadamente junto dos mais pobres. Reconhecendo-se como Filho amado pelo Pai, retira daí a inspiração para a sua ação, com as «mesmas gratuidade e misericórdia de Deus, geradoras de vida nova, e tornar-se assim, com a sua própria existência, exemplo e modelo para os seus discípulos. Estes são chamados a viver como Ele e, depois da sua Páscoa de morte e ressurreição, também n’Ele e d’Ele, graças ao dom sobreabundante do Espírito Santo» (29). Assim, «com palavras e obras, e de modo pleno e definitivo com a sua morte e ressurreição, Jesus revela à humanidade que Deus é Pai e que todos somos chamados por graça a ser filhos d’Ele no Espírito (cf. Romanos 8, 15; Gálatas 4, 6), e por isso irmãos e irmãs entre nós. É por esta razão que a Igreja crê firmemente que ‘a chave, o centro e o fim de toda a história humana se encontram no seu Senhor e Mestre’» (31).

O mandamento do amor

«‘Caríssimos, se Deus nos amou assim, também nos devemos amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se nos amarmos uns aos outros, Deus está em nós e o Seu amor é perfeito em nós’ (1João 4, 11-12). A reciprocidade do amor é exigida pelo mandamento que o próprio Jesus define como novo e seu: ‘assim como eu vos amei, vós também vos deveis amar uns aos outros’ (João 13, 34). O mandamento do amor recíproco traça a via para viver em Cristo a vida trinitária na Igreja, Corpo de Cristo, e transformar com Ele a história até ao seu pleno cumprimento na Jerusalém Celeste» (32).

O mandamento do amor (recíproco), a «regra de ouro» da convivência humana, tem de «inspirar, purificar e elevar todas as relações humanas na vida social e política» (33).

© Laboratório da fé, 2014 
Os números entre parêntesis dizem respeito ao «Compêndio da Doutrina Social da Igreja» 
na versão portuguesa editada em 2005 pela editora «Princípia»





Laboratório da fé, 2014

Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 16.10.14 | Sem comentários
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