PREPARAR O DOMINGO DE RAMOS [SEXTO DA QUARESMA]

13 DE ABRIL DE 2014


Isaías 50, 4-7

O Senhor deu-me a graça de falar como um discípulo, para que eu saiba dizer uma palavra de alento aos que andam abatidos. Todas as manhãs Ele desperta os meus ouvidos, para eu escutar, como escutam os discípulos. O Senhor Deus abriu-me os ouvidos e eu não resisti nem recuei um passo. Apresentei as costas àqueles que me batiam e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam. Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio, e, por isso, não fiquei envergonhado; tornei o meu rosto duro como pedra, e sei que não ficarei desiludido.



Sei que não ficarei desiludido


O texto no seu contexto
. O povo de Israel está no desterro; pensam que Deus os castigou pela mão de Nabucodonosor, rei da Babilónia. Já não há qualquer esperança no regresso a Jerusalém; estão convencidos de que vão morrer ali, longe da própria terra. O livro do Segundo Isaías (Isaías 40 – 55) é um contraponto a esta mentalidade: o livro anuncia que a salvação está próximo, que vão regressar. Mas como será? Quem realizará a salvação? A figura do Servo de Yahveh é o segundo ponto a ter em conta: a salvação que chega não vem dos exércitos nem do império (Babilónia). Muito menos dos que troçam da fé íntimo, pessoal e profunda dos judeus deportados. Deus revela-se na figura enigmática do servo, apoiando, iluminando, abrindo o coração e a inteligência ao verdadeiro sentido da vida e do sofrimento.

O texto na história da salvação. Nos Cânticos do Servo (são quatro; no Domingo de Ramos é lida uma parte do terceiro), os primeiros cristãos viram a prefiguração do Messias. É uma leitura arriscada, pois os judeus pensavam numa interpretação coletiva (o Servo, para eles, seria o povo de Israel posto à prova). Ao ler a Sagrada Escritura como uma unidade indivisível, e ao colocar o acontecimento pascal de Cristo como foco que dá luz a toda a Escritura, o Cântico adquire uma visão nova. O crente que confia em Deus chega até a sofrer a violência irracional do opressor. Os caminhos de Deus passam por romper as cadeias da vingança e do ódio para inaugurar os tempos da reconciliação e da paz. O Servo não é um «pobre néscio» nem uma «vítima inconsciente», mas um «sábio» que confia no paradoxal plano de Deus: «sei que não ficarei desiludido».

Palavra de Deus para nós: sentido e celebração litúrgica. A enigmática figura do «Servo de Yahveh» permanece obscura quando a reduzimos a um homem tratado injustamente. O «Servo» tem uma palavra de consolo a dizer, oferece o seu próprio corpo, não resiste violentamente ao mal; e, sobretudo, sabe que Deus não o vai defraudar. A Igreja viu, desde sempre, na figura do «Servo» o anúncio profético de Jesus na sua Paixão. Para os cristãos, a salvação vem só de Deus e do seu Filho. Os sinóticos (evangelho segundo Marcos, Mateus e Lucas) insistem em apresentar Jesus como o Servo de Deus, como o Cordeiro sem pecado que carrega os pecados da humanidade e, desta forma, salva.

© Pedro Fraile Yécora, Homiletica
© tradução e adaptação de Laboratório da fé, 2014
A utilização ou publicação deste texto precisa da prévia autorização do autor


Preparar o Domingo de Ramos, sexto domingo da Quaresma (Ano A), no Laboratório da fé, 2014

Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 12.4.14 | Sem comentários
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