Mistério da fé! [5]


Uma coordenada essencial na existência humana, além do tempo («Quando celebrar?» - tema 4) é o lugar, o espaço. Na verdade, podemos dizer que o lugar que ocupamos, o espaço em que nos movemos, faz parte de nós, pois é, ao mesmo tempo, expressão e consequência da nossa matéria carnal. Neste sentido, percorrido este itinerário, precisamos de responder à questão: «Onde celebrar?» [Para ajudar a compreender melhor, ler: 2Coríntios 6, 14-18; Catecismo da Igreja Católica, números 1179 a 1186]

«Nós somos o templo do Deus vivo»

— refere a Segunda Carta aos Coríntios, para lembrar que o ser humano é templo de Deus, é habitado por Deus. Esta é uma «novidade» realizada através de Jesus Cristo: Deus habita em cada ser humano. Tem razão Paulo ao dizer, em vários dos seus escritos, que somos templo de Deus e que o Espírito Santo habita em nós. Inaugurado por Jesus Cristo, «o culto ‘em espírito e verdade’ (João 4, 24) da Nova Aliança não está ligado a nenhum lugar exclusivo. Toda a terra é santa e está confiada aos filhos dos homens. O que tem primazia, quando os fiéis se reúnem num mesmo lugar, sãs as ‘pedras vivas’ que se juntam para ‘a edificação dum edifício espiritual’ (1Pedro 2, 4-5). O corpo de Cristo ressuscitado é o templo espiritual donde brota a fonte de água viva. Incorporados em Cristo pelo Espírito Santo, ‘nós somos o templo do Deus vivo’ (2Coríntios 6, 16)» (Catecismo da Igreja Católica [CIC], 1179). Está claro que a ressurreição de Jesus Cristo, a sua vitória sobre a morte, torna-o presente em todo os lugares do mundo. Jesus Cristo é o verdadeiro «templo», o nosso «espaço de vida». E, pela graça Batismo, ao ressurgir com Jesus Cristo para uma uma vida nova, também o cristão se torna «templo» de Deus, uma «habitação de Deus» (Efésios 2, 22).

Liturgia: onde celebrar?

É verdade que se pode celebrar em qualquer lugar, num ambiente aberto ou fechado. No entanto, não podemos ignorar que o espaço celebrativo tem um valor simbólico (cf. tema 3), é um verdadeiro sinal litúrgico. Por isso, «enquanto a oração como simples ato religioso pode ser feita em todos os lugares, a liturgia, no entanto, como um ato de culto público e ordenado, requer um lugar, geralmente um edifício, onde possa ser realizada como rito sagrado» (Departamento das celebrações litúrgicas do Sumo Pontífice). Neste sentido, a Igreja aprova a construção de edifícios destinados a atos de culto, à realização de celebrações litúrgicas. «Na sua condição terrena, a Igreja tem necessidade de lugares onde a comunidade possa reunir-se: as nossas igrejas visíveis, lugares sagrados, imagens da Cidade santa, da Jerusalém celeste para a qual caminhamos como peregrinos» (CIC 1198). Jean Corbon diz que «a igreja de pedra ou de madeira onde entramos para participar na liturgia eterna é, sem dúvida, um espaço do nosso mundo, mas a sua novidade está em ser um espaço aberto pela Ressurreição [...], um espaço realmente habitado por um mundo libertado da morte. É aí que celebramos a liturgia» (Jean Corbon, «A fonte da liturgia», ed. Paulinas, Lisboa 1999, 145). O Catecismo da Igreja Católica destaca, como pontos de referência dos edifícios destinados ao culto, o altar, o sacrário, o óleo do Santo Crisma, a cadeira, o ambão, a fonte batismal e o lugar da reconciliação. Os edifícios destinados à prática das celebrações litúrgicas «não são simples lugares de reunião, mas significam e manifestam a Igreja que vive nesse lugar, morada de Deus com os homens reconciliados e unidos em Cristo» (CIC 1180). A Igreja, enquanto comunidade de crentes reunidos, congregados à volta de Jesus Cristo, é que é «templo» de Deus. No início do cristianismo, o edifício não se designava «igreja», mas «casa da igreja», isto é, morada da comunidade. «Para o cristão, é claro que o templo propriamente não é o lugar da presença de Deus (João 4, 23), mas o lugar da presença da assembleia na qual precisamente Deus se torna presente» (Dionisio Borobio, «La celebración en la Iglesia I. Liturgia e Sacramentologia fundamental», ed. Sígueme, Salamanca 1995, 223). Temos de ter bem claro que «o edifício de culto cristão não é o equivalente do templo pagão, onde a câmara com a imagem da divindade também era considerada, de alguma forma, a casa dela. Como diz São Paulo aos atenienses: ‘Deus não habita em templos construídos pelo homem’ (Atos dos Apóstolos 17, 24)» (Departamento das celebrações litúrgicas do Sumo Pontífice).

«Finalmente a igreja tem uma significação escatológica. [...] A igreja visível simboliza a casa paterna. [...] É a casa de todos os filhos de Deus, amplamente aberta e acolhedora» (CIC 1186).






Reflexões semanais sobre a «fé celebrada» (liturgia e Sacramentos) — Laboratório da fé, 2013
Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 6.11.13 | Sem comentários
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