PREPARAR O DOMINGO TRIGÉSIMO SEGUNDO


Há alguns dias perguntaram-me, sem rodeios, quais podem ser as dimensões fundamentais de uma espiritualidade que corresponda ao mundo de hoje. Uma pergunta aparentemente simples, mas, ao mesmo tempo, cheia de profundidade. Respondi rapidamente e sem pensar muito: «Uma espiritualidade que queira responder à nossa realidade tem que ter os olhos bem abertos perante a vida, para contemplar Deus criador no meio da nossa história; deve recorrer sempre à luz oferecida pela Palavra de Deus para discernir os seus caminhos; e lançar-nos na construção da comunidade cristã, em todos os seus níveis».
As três dimensões que apareceram nesta resposta espontânea estão muito relacionados entre si e constituem uma unidade dinâmica que considero muito próxima da própria vida de Deus. Uma espiritualidade não é outra coisa senão uma dinâmica vital que nos põe em sintonia com Deus e nos faz agir segundo o Espírito de Deus. Portanto, não é algo gasoso, abstrato, elevado, desencarnado. Uma espiritualidade é um estilo de vida que se pode ver e comprovar em ações bem concretas.
A participação do cristão na vida de Deus, que é aquilo a que chamamos espiritualidade, faz que a pessoa entre na dinâmica vital própria de Deus uno e trino. A dinâmica que se estabelece constantemente entre o Pai criador que se revela na história, o Filho de Deus encarnado na pessoa de Jesus, e o Espírito Santo que continua a atuar no meio de nós para nos impulsionar a construir uma comunidade de amor. Santo Agostinho dizia que Deus tinha escrito dois livros: o primeiro e mais importante é o livro da vida, o livro da história que começou a escrever no princípio dos tempos e que continua a escrever hoje em cada um de nós; mas como fomos incapazes de ler neste livro os seus desígnios, Deus escreveu um segundo livro a partir do primeiro; este segundo livro é a Bíblia; mas a primeira Revelação está na História, na vida, nos acontecimentos de cada dia: tanto na vida pessoal, como grupal, comunitária, social, política, etc...
Esta é a razão pela qual a primeira dimensão de uma espiritualidade atual é olhar a vida. Aí nos encontramos com o que Deus quer de nós; aí podemos descobrir o que Deus está a construir. Trata-se de perceber a música de Deus, para cantar e bailar ao seu ritmo, para nos deixar invadir pela sua força criadora. É como entrar num rio e perceber para onde vai a corrente e deixar-nos levar por ela.
Isto é o que Jesus queria comunicar quando os saduceus, que negavam a ressurreição dos mortos, lhe propuseram essa difícil pergunta sobre qual dos sete irmãos, que estiveram casados sucessivamente com a mesma mulher, seria o seu esposo na ressurreição dos mortos... «O Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob’. Não é um Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos estão vivos». O Deus em quem acreditamos, por Jesus Cristo, é o Deus da vida, que se revela nos acontecimentos quotidianos; nesses acontecimentos que, muitas vezes, desprezamos, porque não parecem revelar-nos o rosto de Deus. Cuidemos que a nossa espiritualidade não se converta numa série de complicadas elucubrações, que nos distraem do que é verdadeiramente importante.

© Hermann Rodríguez Osorio, SJ
© Encuentros com la Palabra — blogue de Hermann Rodríguez Osorio
© tradução e adaptação de Laboratório da fé, 2013
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Preparar o domingo trigésimo segundo, Ano C, no Laboratório da fé


Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 6.11.13 | Sem comentários
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