Mistério da fé! [2]


O Catecismo da Igreja Católica [CIC] apresenta, no segundo capítulo, um esquema uniforme em relação ao aprofundamento da Liturgia e dos Sacramentos. Assim, em cada tema há a preocupação em responder a quatro questões: «Quem celebra?»; «Como celebrar?»; «Quando celebrar?»; «Onde celebrar?». Vamos seguir a mesma sequência. Por isso, começamos por questionar: Quem celebra na Liturgia? [Para ajudar a compreender melhor, ler: Apocalipse 7, 9-14; Catecismo da Igreja Católica, números 1135 a 1144]

«O louvor, a glória, a sabedoria, a ação de graças, a honra, o poder e a força 

devem ser dadas ao nosso Deus»

— é uma das aclamações referidas pelo autor do livro do Apocalipse, na descrição de uma «visão» da liturgia que acontece nos Céus. O centro desta liturgia celeste é ocupado pelo «trono de Deus» onde está sentado o «Cordeiro», isto é, Jesus Cristo. Nela participa também uma «multidão enorme», que se encontra de «de pé» em sinal de vitória. É uma multidão incontável («que ninguém podia contar») constituída por «todas as nações, tribos, povos e línguas», isto é, os cristãos. Vestem-se com «túnicas brancas», porque já participam da vitória do «Cordeiro». Há ainda referência a «anjos», «anciãos» e «quatro seres vivos».
Sem ignorar que se trata de uma «visão» profética, o livro do Apocalipse ajuda-nos a perceber a centralidade da liturgia celeste; esta é o modelo, a fonte de inspiração de toda a liturgia terrena, como afirma o Catecismo da Igreja Católica: «na liturgia da terra, participamos, saboreando-a de antemão, na liturgia celeste, celebrada na cidade santa de Jerusalém, para a qual nos dirigimos como peregrinos e onde Cristo está sentado à direita de Deus» (1090); «através das suas ações litúrgicas, a Igreja peregrina participa já, por antecipação, na liturgia do céu» (1111).

Liturgia: quem celebra?

«Em toda a liturgia cristã, o que se celebra e se vive é o mistério da nossa salvação realizado em Jesus Cristo. A Santíssima Trindade é a origem, o conteúdo e o centro de toda a liturgia cristã» (Arquidiocese de Braga, «Programa Pastoral 2013+14: Fé Celebrada», Braga 2013, 12). Na verdade, a liturgia é sempre obra da Santíssima Trindade: «Deus Pai é bendito e adorado como fonte de todas as bênçãos da criação e da salvação, com que nos abençoou no seu Filho, para nos dar o Espírito da adoção filial» (CIC 1110). Na liturgia — à imagem da «visão» do Apocalipse —, há vários tipos de participantes. Quem preside à celebração é sempre o «Cordeiro» (Jesus Cristo). «É o próprio Cristo Senhor que em todos os eventos litúrgicos terrenos celebra a Liturgia cósmica, que envolve anjos e seres humanos, vivos e falecidos, passado, presente e futuro, o Céu e a terra» (YOUCAT. Catecismo Jovem da Igreja Católica, 170). A liturgia é exercício da presença de Jesus Cristo, isto é, a continuação no tempo da sua ação sacerdotal mediante a qual se realiza a obra da nossa salvação. «Para realizar tão grande obra, Cristo está sempre presente na sua igreja, especialmente nas ações litúrgicas» (Constituição Conciliar sobre a Sagrada Liturgia — «Sacrosanctum Concilum» [SC], 7). A liturgia é uma manifestação da presença real, santificadora e redentora de Jesus Cristo. Esta presença de Jesus Cristo acontece na assembleia. «Está presente quando a Igreja reza e canta, Ele que prometeu: ‘Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles’ (Mateus 18, 20)» (SC 7) [cf. tema 1]. Porque é expressão da Igreja, a assembleia cristã tem de possuir as mesmas características: crente («apostólica»; aberta («católica»); reconciliada («una»); ativa ou dinâmica («santa»). Então, «é toda a comunidade, o Corpo de Cristo unido à sua Cabeça, que celebra» (CIC 1140); «a assembleia que celebra é a comunidade dos batizados. [...] Este ‘sacerdócio comum’ é o de Cristo, único sacerdote, participado por todos os seus membros» (CIC 1141). No entanto, na assembleia, «nem todos os membros têm a mesma função», como refere a Carta aos Romanos (12, 4). Assim, temos ministérios ordenados (bispos, presbíteros e diáconos) e «ministérios particulares» («Mesmo os acólitos, os leitores, comentadores, e os membros do coro desempenham um verdadeiro ministério litúrgico» (SC 29; CIC 1143). Podemos concluir que «toda a assembleia é ‘liturga’, cada qual segundo a sua função» (CIC 1144).

O Catecismo da Igreja Católica, como acontece várias vezes neste apartado, recupera uma afirmação do documento conciliar (SC 29) para lembrar: «Nas celebrações litúrgicas, limite-se cada um, ministro ou simples fiel, ao exercer o seu ofício, a fazer tudo e só o que é da sua competência, segundo a natureza do rito e as leis litúrgicas».






Reflexões semanais sobre a «fé celebrada» (liturgia e Sacramentos) — Laboratório da fé, 2013
Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 16.10.13 | Sem comentários
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