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Lumen Gentium — Constituição Dogmática sobre a Igreja


Sem sombra de dúvidas, a Constituição Dogmática sobre a Igreja — «Lumen Gentium» (LG) é um dos documentos mais importantes do II Concílio do Vaticano, pois trouxe aos leigos e leigas, e à própria Igreja enquanto instituição hierárquica – conhecida e respeitada no período pré-conciliar como uma «sociedade perfeita fora da qual não existe salvação» – uma nova imagem da Igreja como «Povo de Deus», formada por todos os batizados em Cristo, e com Ele transformados num Reino de sacerdotes para Deus. Sacerdotes, profetas e reis que, independentemente do sacerdócio comum ou do sacerdócio ministerial, participam do Sacerdócio único de Cristo (Hebreus 5, 1-10).
Pelo conteúdo e pelas profundas implicações para o futuro, a elaboração e a votação da LG foram um tanto conturbadas e muito discutidas. Ao texto inicial, elaborado em quatro capítulos, foram apresentadas cerca de quatro mil emendas, o que resultou na alteração para sete capítulos, originando a primeira Constituição Dogmática deste Concílio. O Frei e depois Bispo, Boaventura Kloppenburg, na Introdução Geral dos Documentos do Concílio afirma que, tal como a «Dei Verbum», a «Lumen Gentium» é dogmática porque «teve a intenção formal de ensinar, propor doutrinas e mesmo doutrinas novas». Com o texto consolidado, o documento foi aprovado e solenemente promulgado pelo Papa Paulo VI a 21 de dezembro de 1964; todavia, a novidade deste documento provocou, e provoca ainda hoje, uma certa dificuldade de aceitação dentro da própria Igreja.

A LG está dividida em 8 capítulos:
  • I – O Mistério da Igreja; 
  • II – O Povo de Deus; 
  • III – A Constituição Hierárquica da Igreja e em especial o Episcopado; 
  • IV – Os leigos; 
  • V – Vocação Universal à Santidade na Igreja; 
  • VI – Os Religiosos; 
  • VII – A Índole Escatológica da Igreja Peregrina e sua União com a Igreja Celeste; 
  • VIII – A Bem-Aventurada Virgem Maria Mãe de Deus no Mistério de Cristo e da Igreja. 

Neste estudo, os capítulos da «Lumen Gentium» serão tratados em cinco fichas assim nomeadas: O Mistério da Igreja; O Povo de Deus; Uma Igreja Ministerial; Vocação à santidade e índole escatológica da Igreja; A Bem-Aventurada Virgem.

O Mistério da Igreja
O primeiro capítulo da LG aborda o Mistério da Igreja, afirmando que «Cristo é a luz dos povos» cuja claridade resplandece na face de uma Igreja que se mostra em Cristo, ao mundo, como sacramento ou sinal, e também como instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano. «E, retomando os ensinamentos dos Concílios anteriores, deseja oferecer aos seus fiéis e a todo o mundo, um ensinamento mais preciso sobre a sua natureza e a sua missão universal» (LG 1). Ao expor que «as presentes condições do mundo tornam ainda mais urgente este dever da Igreja, a fim de que todos os seres humanos… alcancem também a unidade total em Cristo», a LG assume a necessidade de dialogar com a modernidade, com as demais confissões cristãs e com as religiões não cristãs.
Aborda também o plano divino para a salvação, pela bondade, sabedoria, e vontade livre e insondável do Pai Eterno ao criar o mundo, decidindo elevar os humanos à participação da sua vida divina, não os abandonando quando pecaram em Adão, mas proporcionando-lhes sempre os auxílios necessários para se salvarem, na perspetiva de Cristo Redentor, Aquele que cumprindo a vontade do Pai Eterno em plena obediência aos seus desígnios, instaurou na Terra o Reino dos Céus cujo mistério nos revelou e consumou a redenção resgatando o género humano, oferecendo a salvação (LG 2).
A Igreja, ou seja, o Reino de Cristo, já presente em mistério, cresce visivelmente no mundo pelo poder de Deus. Ela é parte do plano de salvação de Deus. Ela não é nossa, é de Deus. A sua missão é ser o lugar, o espaço, a comunidade onde a humanidade pode encontrar Deus em Jesus Cristo e ser santificada no seu Espírito Santo. Por isso, a Igreja, preparada pelo Pai, fundada pelo Filho e continuamente santificada pelo Espírito, é semente do Reino de Deus que nela já atua misteriosamente. É nela que se experimenta, de modo mais intenso, o Reino trazido por Jesus!
O início e o crescimento da Igreja são expressos no sangue e na água que brotaram do lado aberto de Jesus crucificado (João 19, 34), e anunciados nas palavras do Senhor acerca da Sua morte na cruz: «Quando Eu for elevado da terra, atrairei todos a mim» (João 12, 32). Sempre que no altar se celebra o sacrifício da cruz, no qual «Cristo, nossa Páscoa, foi imolado» (1Coríntios 5,7), realiza-se também a obra da nossa redenção. Pelo Sacramento do Pão Eucarístico, ao mesmo tempo, é representada e realizada a unidade dos fiéis, que «constituem um só corpo em Cristo» (1Coríntios 10, 17). Todos os seres humanos são chamados a esta união com Cristo, luz do mundo, do qual vimos, por quem vivemos, e para o qual caminhamos (LG 3).
Consumada a obra confiada ao Filho, Deus envia o Espírito Santo para santificar a Igreja que nascia, para assim dar acesso aos crentes até ao Pai, por Cristo, num só Espírito. Pelo Espírito da vida, fonte que jorra para a vida eterna, o Pai dá vida aos humanos mortos pelo pecado, até que um dia ressuscitem em Cristo os seus corpos mortais. Este Espírito que habita na Igreja e no coração dos fiéis, como num templo, leva a Igreja ao conhecimento da verdade total, unificando-a na comunhão e no mistério, dotando-a e dirigindo-a com os diversos dons hierárquicos e carismáticos, embelezando-a com os seus frutos e rejuvenescendo-a com a força do Evangelho (LG 4). Enriquecida pelos dons do seu Fundador, a Igreja recebe a missão de anunciar e estabelecer em todos os povos, o Reino de Cristo e de Deus, constituindo-se, ela mesma, na Terra, a semente e o início deste Reino.
O mistério da Santa Igreja manifesta-se na sua fundação. O Senhor Jesus deu início à Sua Igreja pregando a Boa Nova do advento do Reino de Deus prometido desde há séculos nas Escrituras: «cumpriu-se o tempo, o Reino de Deus está próximo» (Marcos 1,15; Mateus 4,17). Este Reino manifesta-se na palavra, nas obras e na presença de Cristo (LG 5).
A Igreja dá-nos a conhecer a sua natureza íntima, servindo-se das várias imagens vislumbradas na Sagrada Escritura: como redil, cuja única e necessária porta é Cristo (João 10, 1-10); como rebanho, do qual o próprio Deus é Pastor em Cristo (João 10, 11; 1Pedro 5, 4); como lavoura ou campo de Deus (1Coríntios 3, 9), onde cresce a oliveira antiga, cuja raiz santa são os patriarcas e da qual se obteve e se completará a reconciliação dos judeus e dos gentios (Romanos 11, 13-26); como construção de Deus (1Coríntios 3, 9), na qual Cristo se comparou à pedra que os construtores rejeitaram e que se tornou a pedra angular (Mateus 21, 42); e, ainda, como Jerusalém celeste e Nossa Mãe (Gálatas 4, 26) descrita no Livro do Apocalipse (19, 7; 21, 2.9; 22, 17) como a «Esposa Imaculada» do «Cordeiro Imaculado» (LG 6).
Refere-se, ainda, como Corpo Místico de Cristo (1Coríntios 12, 13) cuja Cabeça é o próprio Cristo e cujos membros são os seus filhos configurados com Cristo pelo Batismo, formando o corpo da Igreja. Entre os membros existe a diversidade de funções, e esta diferença provém dos dons do Espírito Santo que os distribui conforme as necessidades da Igreja para formarem um corpo único, assim como o corpo humano, cujos membros se devem conformar com a Cabeça, que é o Cristo Senhor, imagem do Deus invisível (LG 7).
Cristo como único mediador, constitui e sustenta indefectivelmente [que não pode falhar ou deixar de ser; apoio indefectível; certo, infalível] a sua Igreja Santa sobre a terra, como organismo visível, comunidade de fé, de esperança e de amor e, por meio dela, comunica a todos a verdade e a graça (presença de Deus nos seres humanos). No entanto, esta Igreja é uma sociedade dotada de órgãos hierárquicos, além de ser também o corpo místico de Cristo; é uma assembleia visível e uma comunidade espiritual. A Igreja terrestre e a Igreja ornada com os dons celestes não devem ser consideradas como duas entidades, mas como uma única realidade complexa, formada pelo duplo elemento humano e divino. É, portanto, ao mesmo tempo uma Igreja visível e espiritual, que continua seu peregrinar entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus, anunciando a cruz e a morte do Senhor, até que Ele venha e se manifeste em luz total no final dos tempos (LG 8).

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© Arquidiocese de Campinas, Brasil
© Adaptado por Laboratório da fé, 2013



Questões para reflexão

  • Sendo Jesus Cristo a «Luz dos povos», em que perspetiva é que a Igreja também pode ser chamada «luz dos povos»?
  • Partindo do pressuposto que a «Lumen Gentium» proporcionou uma nova visão da Igreja e do seu relacionamento com o mundo, parece-te importante ou necessário que seja conhecida, difundida e estudada? Após este estudo sobre a Constituição Dogmática sobre a Igreja — «Lumen Gentium», o que destacas de importante para a vida dos fiéis e da Igreja
  • Das várias imagens da Igreja que a «Lumen Gentium» apresenta, para ti, qual delas é a que a melhor a identifica? Acrescentarias alguma outra imagem para apresentar a Igreja?

Partilha connosco a tua reflexão!


II Concílio do Vaticano, no Laboratório da fé, 2013

Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 21.6.13 | Sem comentários
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