Mês de maio, Mês de Maria


O papa João Paulo II, nos dias 26 de fevereiro e 5 de março de 1997, dedicou uma Audiência Geral ao tema da presença de «Maria nas bodas de Caná». Na sequência do comentário ao capítulo mariano da Constituição Dogmática sobre a Igreja — «Lumen Gentium» (LG) do II Concílio do Vaticano, o Papa destaca a disponibilidade de Maria para cooperar com Deus na missão do seu Filho, Jesus Cristo. 
Na primeira Audiência, apresenta o pedido de Maria como cheio de atualidade para todos os tempos: «O pedido de Maria: 'Fazei o que Ele vos disser', conserva um seu valor sempre actual para os cristãos de todas as épocas, e é destinado a renovar o seu efeito maravilhoso na vida de cada um. Ela exorta a uma confiança sem hesitação, sobretudo quando não se compreendem o sentido e a utilidade de quanto Cristo pede». A terminar, João Paulo II refere que este episódio das bodas de Caná nos anima a ser «corajosos na fé».
Na segunda Audiência, João Paulo II, segue ainda mais de perto o texto do número 58 da «Lumen Gentium» — Constituição Dogmática sobre a Igreja do II Concílio do Vaticano. Além de refletir sobre a importância da presença de Maria para a ação de Jesus Cristo, também dedica uma parte ao tema do matrimónio, motivado pela circunstância que estava a acontecer em Caná. Antes de terminar dizendo que «em Caná, Maria inicia o caminho da fé da Igreja, precedendo os discípulos e orientando para Cristo a atenção dos servos», refere ainda a ligação de Caná com o Sacramento da Eucaristia.

Caríssimos Irmãos e Irmãs:
1. No episódio das bodas de Caná, São João apresenta a primeira intervenção de Maria na vida pública de Jesus e põe em relevo a sua cooperação na missão do Filho.
Desde o início da narração, o evangelista avisa que «a mãe de Jesus estava presente» (2, 1) e, como que a querer sugerir que essa presença está na origem do convite dirigido pelos esposos ao próprio Jesus e aos Seus discípulos (cf. Redemptoris Mater, 21), acrescenta: «Jesus e os Seus discípulos foram convidados para as bodas» (2, 2). Com tais observações, João parece indicar que em Caná, como no evento fundamental da Encarnação, Maria é aquela que introduz o Salvador.
O significado e o papel que assume a presença da Virgem, manifestam-se quando vem a faltar o vinho. Ela, experiente e prudente dona de casa, percebe isso imediatamente e intervém para que não termine a alegria de todos e, principalmente, para socorrer os esposos em dificuldade.
Dirigindo-se a Jesus com as palavras: «Não têm vinho» (Jo. 2, 3), Maria exprime- Lhe a sua preocupação por essa situação, aguardando uma Sua intervenção resolutiva. Mais precisamente, segundo alguns exegetas, a Mãe espera um sinal extraordinário, dado que Jesus não tinha vinho à disposição.
2. A escolha de Maria, que teria podido, talvez, providenciar noutro lugar o vinho necessário, manifesta a coragem da sua fé porque, até àquele momento, Jesus não tinha realizado algum milagre, nem em Nazaré, nem na vida pública.
Em Caná a Virgem mostra mais uma vez a sua total disponibilidade a Deus. Ela que, na Anunciação, crendo em Jesus antes de O ver, contribuíra para o prodígio da concepção virginal, aqui, confiando no poder não ainda revelado de Jesus, suscita o Seu «primeiro sinal», a prodigiosa transformação da água em vinho. Desse modo, ela precede na fé os discípulos que, como refere João, hão-de crer depois do milagre: Jesus «manifestou a Sua glória e os Seus discípulos acreditaram n’Ele» (Jo. 2, 11). Antes, obtendo o sinal prodigioso, Maria oferece- lhes um apoio à fé.
3. A resposta de Jesus às palavras de Maria: «Que temos nós com isso, mulher A minha hora ainda não chegou » (Jo. 2, 4) exprime uma aparente rejeição, quase pondo à prova a fé de Maria.
Segundo uma interpretação, Jesus a partir do momento que inicia a Sua missão, parece colocar em discussão a natural relação de filho, chamado em causa pela mãe. A frase, na língua falada do ambiente, quer, de facto, evidenciar uma distância entre as pessoas, com a exclusão da comunhão de vida. Esta distância não elimina respeito e estima; o termo «mulher», com o qual Ele Se dirige à mãe, é usado numa aceção que retornará nos diálogos com a Cananeia (cf. Mateus 15, 28), com a Samaritana (cf. João 4, 21), com a adúltera (cf. João 8, 10) e com Maria Madalena (cf. João 20, 13), em contextos que manifestam uma relação positiva de Jesus com as Suas interlocutoras.
Com a expressão: «Que temos nós com isso, mulher?», Jesus pretende colocar a cooperação de Maria no plano da salvação que, empenhando a sua fé e a sua esperança, pede a superação do seu papel natural de mãe.
4. De maior relevo aparece a motivação formulada por Jesus: «A Minha hora ainda não chegou» (João 2, 4).
Alguns estudiosos do texto sagrado, seguindo a interpretação de Santo Agostinho, identificam essa «hora» com o evento da Paixão. Para outros, porém, ela refere-se ao primeiro milagre em que haveria de ser revelado o poder messiânico do profeta de Nazaré. Outros, ainda, pensam que a frase é interrogativa e prolonga a pergunta anterior: «Que temos nós com isso, mulher? A Minha hora ainda não chegou». Jesus faz com que Maria entenda que afinal Ele já não depende dela, mas deve tomar a iniciativa para realizar a obra do Pai. Maria, então, abstém-se docilmente de insistir junto d’Ele e dirige-se, ao contrário, aos servidores para os convidar a ser-Lhe obedientes.
Em todo o caso a sua confiança no Filho é recompensada. Jesus, a Quem ela deixou totalmente a iniciativa, realiza o milagre, reconhecendo a coragem e a docilidade da Mãe: «Disse-lhes Jesus: “Enchei de água essas talhas”; e encheram- nas até à borda» (João 2, 7). Também a obediência deles, portanto, contribui para a obtenção do vinho em abundância.
O pedido de Maria: «Fazei o que Ele vos disser», conserva um seu valor sempre actual para os cristãos de todas as épocas, e é destinado a renovar o seu efeito maravilhoso na vida de cada um. Ela exorta a uma confiança sem hesitação, sobretudo quando não se compreendem o sentido e a utilidade de quanto Cristo pede.
Assim como na narração da Cananeia (Mateus 15, 24-26), a aparente rejeição de Jesus exalta a fé da mulher, assim as palavras do Filho: «A Minha hora ainda não chegou», juntamente com o cumprimento do primeiro milagre, manifestam a grandeza da fé que a Mãe tem e a força da sua oração.
O episódio das bodas de Caná anima-nos a ser corajosos na fé e a experimentar na nossa existência a verdade da palavra evangélica: «Pedi e vos será dado» (Mateus 7, 7; Lucas 11, 9).



Em Caná, Maria levou Jesus a realizar o primeiro milagre


Queridos Irmãos e Irmãs
1. Ao narrar a presença de Maria na vida pública de Jesus, o II Concílio do Vaticano recorda a sua participação em Caná por ocasião do primeiro milagre: «Nas bodas de Caná, movida de compaixão, levou Jesus Messias a dar início aos Seus milagres (cf. João 2, 1-11)» (LG 58).
Seguindo a esteira do evangelista João, o Concílio faz notar o papel discreto e, ao mesmo tempo, eficaz da Mãe que, com a sua palavra, leva o Filho ao «primeiro sinal». Ela, embora exerça uma influência discreta e materna, com a sua presença resulta, no final, determinante. A iniciativa da Virgem aparece ainda mais surpreendente, se se considera a condição de inferioridade da mulher na sociedade judaica. Em Caná, com efeito, Jesus não só reconhece a dignidade e o papel do génio feminino, mas, acolhendo a intervenção de Sua Mãe, oferece-lhe a possibilidade de ser participante na obra messiânica. Não contrasta com esta intenção de Jesus o apelativo «Mulher», com o qual Ele se dirige a Maria (cf. João 2, 4). Ele, de facto, não contém em si nenhuma conotação negativa e será de novo usado por Jesus em relação à Mãe, aos pés da Cruz (cf. João 19, 26). Segundo alguns intérpretes, este título «Mulher» apresenta Maria como a nova Eva, mãe de todos os crentes na fé.
O Concílio, no texto citado, usa a expressão «movida de compaixão», deixando entender que Maria era inspirada pelo seu coração misericordioso. Tendo divisado a eventualidade do desapontamento dos esposos e dos convidados pela falta de vinho, a Virgem compadecida sugere a Jesus que intervenha com o seu poder messiânico.
A alguns o pedido de Maria parece desproporcionado, porque subordina a um acto de piedade o início dos milagres do Messias. À dificuldade respondeu Jesus mesmo que, com o seu assentimento à solicitação materna, demonstra a superabundância com que o Senhor responde às expectativas humanas, manifestando também quanto pode o amor de uma mãe.
2. A expressão «dar início aos milagres», que o Concílio retomou do texto de João, chama a nossa atenção. O termo grego «archè», traduzido por início, princípio, foi usado por João no Prólogo do seu Evangelho: «No princípio já existia o Verbo» (1, 1). Esta significativa coincidência induz a estabelecer um paralelo entre a primeira origem da glória de Cristo na eternidade e a primeira manifestação da mesma glória na sua missão terrena.
Ressaltando a iniciativa de Maria no primeiro milagre e recordando depois a sua presença no Calvário, aos pés da Cruz, o evangelista ajuda a compreender como a cooperação de Maria se estende à inteira obra de Cristo. O pedido da Virgem coloca-se no interior do desígnio divino de salvação.
No primeiro sinal operado por Jesus os Padres da Igreja divisaram uma forte dimensão simbólica, acolhendo, na transformação da água em vinho, o anúncio da passagem da antiga à nova Aliança. Em Caná, precisamente a água das jarras, destinada à purificação dos Judeus e ao cumprimento das prescrições legais (cf. Marcos 7, 1-15), torna-se o vinho novo do banquete nupcial, símbolo da união definitiva entre Deus e a humanidade.
3. O contexto de um banquete de núpcias, escolhido por Jesus para o Seu primeiro milagre, remete ao simbolismo matrimonial, frequente no Antigo Testamento para indicar a Aliança entre Deus e o Seu povo (cf. Oseias 2, 21; Jeremias 2, 1-8; Salmo 44; etc.) e no Novo Testamento para significar a união de Cristo com a Igreja (cf. João 3, 28-30; Efésios 5, 25-32; Apocalipse 21, 1-2; etc.).
A presença de Jesus em Caná manifesta, além disso, o projecto salvífico de Deus a respeito do matrimónio. Nessa perspectiva, a falta de vinho pode ser interpretada como alusiva à falta de amor, que infelizmente, não raro, ameaça a união esponsal. Maria pede a Jesus que intervenha em favor de todos os esposos, que só um amor fundado em Deus pode libertar dos perigos da infidelidade, da incompreensão e das divisões. A graça do Sacramento oferece aos esposos esta força superior de amor, que pode corroborar o empenho da fidelidade também nas circunstâncias difíceis.
Segundo a interpretação dos autores cristãos, o milagre de Caná contém, além disso, um profundo significado eucarístico. Realizando-o na proximidade da solenidade da Páscoa judaica (cf. João 2, 13), Jesus manifesta, como na multiplicação dos pães (cf. João 6, 4), a intenção de preparar o verdadeiro banquete pascal, a Eucaristia. Esse desejo, nas bodas de Caná, parece sublinhado ainda mais pela presença do vinho, que alude ao sangue da Nova Aliança, e pelo contexto de um banquete.
Desse modo Maria, depois de ter estado na origem da presença de Jesus na festa, obtém o milagre do vinho novo, que prefigura a Eucaristia, sinal supremo da presença do seu Filho ressuscitado entre os discípulos.
4. No final da narração do primeiro milagre de Jesus, que se tornou possível pela fé sólida da Mãe do Senhor no seu divino Filho, o evangelista João conclui: «Os Seus discípulos acreditaram n’Ele» (2, 11). Em Caná, Maria inicia o caminho da fé da Igreja, precedendo os discípulos e orientando para Cristo a atenção dos servos.
A sua perseverante intercessão encoraja, além disso, aqueles que às vezes se encontram diante da experiência do «silêncio de Deus». Eles são convidados a esperar para além de toda a esperança, confiando sempre na bondade do Senhor.

© Copyright 1997 - Libreria Editrice Vaticana — www.vatican.va —

João Paulo II - Karol Józef Wojtyła
Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 14.5.13 | Sem comentários
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