Encontro Mundial das Famílias

Em Manila, Filipinas: janeiro de 2003


No IV Encontro Mundial das Famílias (2003, em Manila, Filipinas), o Papa João Paulo II referiu-se ao tema — «A família cristã, boa nova para o terceiro milénio» — para «sublinhar a sublime missão da família que, tendo acolhido o Evangelho e deixando-se iluminar pela sua mensagem, assume o inevitável compromisso de tornar-se sua testemunha». Em primeiro lugar, o Papa pediu às famílias para viverem a sua vocação que nasce do sacramento do matrimónio, destacando o graça recebida pelo sacramento que é fonte de amor e de alegria. Em seguida, apresentou a família como «património da humanidade», salientando que «o futuro da humanidade passa pela família». Nesse sentido, desafiou as famílias a serem protagonistas na Igreja e no mundo. A terminar, apresentou a oração, dando o exemplo do Rosário, como «garantia de unidade num estilo de vida coerente».

1. Com a mente e a oração estou convosco, amadas famílias das Filipinas e de mais diversas regiões da terra, que vos congregastes em Manila para o vosso IV Encontro Mundial: saúdo-vos afectuosamente em nome do Senhor!
Nesta ocasião, tenho a alegria de enviar uma saudação cordial e propiciadora das melhores bênçãos para todas as famílias do mundo, que vós representais: a todas «graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e da de Jesus Cristo, nosso Senhor» (1Timóteo 1, 2). [...]
2. Sei que, na sessão teológico-pastoral que acabastes de celebrar, aprofundastes o tema: «A família cristã, boa nova para o terceiro milénio». Escolhi estas palavras para o vosso Encontro Mundial, a fim de sublinhar a sublime missão da família que, tendo acolhido o Evangelho e deixando-se iluminar pela sua mensagem, assume o inevitável compromisso de tornar-se sua testemunha.
Queridas famílias cristãs, anunciai com alegria ao mundo inteiro o tesouro maravilhoso de que sois portadoras enquanto igrejas domésticas! Esposos cristãos, na vossa comunhão de vida e amor, na vossa mútua entrega e no acolhimento generoso dos filhos, sede em Cristo luz do mundo! O Senhor pede-vos para serdes cada dia uma lâmpada que não fica escondida, mas é colocada «em cima do velador e assim alumia a todos os que estão em casa» (Mateus 5, 15).
3. Antes de mais nada, sede «boa nova para o terceiro milénio», vivendo com empenho a vossa vocação. O matrimónio, que um dia mais ou menos distante celebrastes, é o vosso modo específico de ser discípulos de Jesus, de contribuir para a edificação do Reino de Deus, de caminhar para a santidade a que é chamado todo o cristão. Como afirma o II Concílio do Vaticano, os esposos cristãos, cumprindo a sua missão conjugal e familiar, «avançam sempre mais na própria perfeição e mútua santificação» (Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo atual — «Gaudium et Spes», 48).
Acolhei plenamente e sem reservas o amor que, no sacramento do matrimónio, Deus Se antecipa a dar-vos, tornando-vos assim capazes de amar (cf. 1João 4, 19). Permanecei sempre ancorados nesta certeza, a única que pode dar sentido, força e alegria à vossa vida: o amor de Cristo jamais se afastará de vós, não vacilará a sua aliança de paz convosco (cf. Isaías 54, 10). Os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis (cf. Romanos 11, 29). Ele gravou o vosso nome nas palmas das suas mãos (cf. Isaías 49, 16).
4. A graça, que recebestes no matrimónio e que perdura no tempo, provém do coração trespassado do Redentor, que Se imolou no altar da Cruz pela Igreja, sua esposa, afrontando a morte para a salvação de todos.
Por isso, esta graça traz consigo a peculiaridade da sua origem: é a graça do amor que se oferece, do amor que se dá e perdoa; do amor altruísta, que se esquece da dor própria; do amor fiel até à morte; do amor fecundo de vida. É a graça do amor benevolente, que tudo crê, tudo suporta, tudo espera, tudo desculpa, do amor que não tem fim e sem o qual tudo o mais nada é (cf.  Coríntios 13, 7-8).
Com certeza que isto não é sempre fácil, e na vida diária não faltam as ciladas, as tensões, o sofrimento e mesmo o cansaço. Mas, no vosso caminho, não estais sozinhos. Convosco vive e atua Jesus, como esteve em Caná da Galileia, numa hora de aflição para aqueles esposos recém-casados. De facto, o Concílio lembra também que o Salvador vem ao encontro dos esposos cristãos e permanece com eles para que, assim como Ele amou a Igreja e Se entregou por ela, de igual modo os esposos, dando-se um ao outro, se amem com perpétua fidelidade (cf. Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo atual — «Gaudium et Spes», 48).
5. Esposos cristãos, sede «boa nova para o terceiro milénio», testemunhando com convicção e coerência a verdade acerca da família.
A família fundada sobre o matrimónio é património da humanidade, constitui um bem grande e sumamente precioso, necessário para a vida, o desenvolvimento e o futuro dos povos. Segundo o plano da criação estabelecido desde o princípio (cf. Mateus 19, 4.8), aquela é o âmbito onde a pessoa humana, feita à imagem e semelhança de Deus (cf. Génesis 1, 26), é concebida, nasce, cresce e se desenvolve. A família, enquanto formadora por excelência de pessoas (cf. A família cristã no mundo de hoje, 19-27), é indispensável para uma verdadeira «ecologia humana» (Centesimus annus, 39).
Agradeço os testemunhos que destes nesta tarde e que acompanhei com atenção. Fazem-me recordar a experiência adquirida como sacerdote, como Arcebispo em Cracóvia e ao longo destes quase 25 anos de Pontificado: como já afirmei mais vezes, o futuro da humanidade passa pela família (cf. A família no mundo de hoje — «Familiaris consortio», 86).
Recomendo-vos, queridas famílias cristãs, que testemunheis com a vida de cada dia que, mesmo entre muitas dificuldades e obstáculos, é possível viver em plenitude o matrimónio como experiência repleta de sentido e como «boa nova» para os homens e mulheres do nosso tempo. Sede protagonistas na Igreja e no mundo: isto é uma exigência que brota do próprio matrimónio que celebrastes, do vosso ser igreja doméstica, da missão conjugal que vos caracteriza como células primordiais da sociedade (cf. «Apostolicam Actuositatem», 11).
6. Finalmente, para serdes «boa nova para o terceiro milénio», queridos esposos cristãos, não esqueçais que a oração em família é garantia de unidade num estilo de vida coerente com a vontade de Deus.
Recentemente, ao proclamar o Ano do Rosário, recomendei esta devoção mariana como oração da família e pela família: de facto, ao recitar o Rosário, «põe-se Jesus no centro, partilham-se com Ele alegrias e sofrimentos, colocam-se nas suas mãos necessidades e projectos, e d'Ele se recebe a esperança e a força para o caminho» (O Rosário da Virgem Maria, 41).
Enquanto vos confio a Maria, Rainha da Família, para que acompanhe e sustente a vossa vida, tenho a alegria de anunciar-vos que o V Encontro Mundial das Famílias realizar-se-á em Valência, Espanha, no ano 2006.
Concedo agora a todos a minha Bênção, que vos deixo com uma recomendação: com a ajuda de Deus, fazei do Evangelho a regra fundamental da vossa família, e da vossa família uma página do Evangelho escrita para o nosso tempo!

© Copyright 2003 - Libreria Editrice Vaticana — www.vatican.va —

Papa João Paulo II

Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 15.5.13 | Sem comentários
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