Gaudium et Spes — Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo atual [9]


A temática relacionada com a política, na Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo atual («Gaudium et Spes»), ocupa o quarto capítulo da segunda parte, que é dedicada a «alguns problemas mais urgentes». Este capítulo reconhece as hodiernas transformações profundas que também afetam a comunidade política «especialmente no que se refere aos direitos e deveres de cada um no exercício da liberdade cívica, na promoção do bem comum e na estruturação das relações dos cidadãos entre si e com o poder público» (GS 73). E destaca que a crescente consciência sobre a dignidade humana pede uma ordem política e jurídica que assegure os direitos de todos a participar ativamente na vida e na gestão da sociedade. Por isso, os padres conciliares condenam as formas políticas que impedem a liberdade civil ou religiosa em benefício dos partidos e/ou dos próprios governos.

Natureza e fim da comunidade política

A comunidade política existe em vista do bem comum. «Os indivíduos, as famílias e os diferentes grupos que constituem a sociedade civil, têm consciência da própria insuficiência para realizar uma vida plenamente humana e percebem a necessidade duma comunidade mais ampla, no seio da qual todos conjuguem diariamente as próprias forças para cada vez melhor promoverem o bem comum. E por esta razão constituem, segundo diversas formas, a comunidade política. A comunidade política existe, portanto, em vista do bem comum; nele encontra a sua completa justificação e significado e dele deriva o seu direito natural e próprio. Quanto ao bem comum, ele compreende o conjunto das condições de vida social que permitem aos indivíduos, famílias e associações alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição. [...] O exercício da autoridade política, seja na comunidade como tal, seja nos organismos representativos, deve-se sempre desenvolver e atuar dentro dos limites da ordem moral, em vista do bem comum» (GS 74). Ora, faz parte da natureza humana participar politicamente na sociedade através do voto livre, que é tanto um direito quanto um dever. «É plenamente conforme com a natureza do ser humano que se encontrem estruturas jurídico-políticas nas quais todos os cidadãos tenham a possibilidade efetiva de participar livre e ativamente, dum modo cada vez mais perfeito e sem qualquer discriminação, tanto no estabelecimento das bases jurídicas da comunidade política, como na gestão da coisa pública e na determinação do campo e fim das várias instituições e na escolha dos governantes. Todos os cidadãos se lembrem, portanto, do direito e simultaneamente do dever que têm de fazer uso do seu voto livre em vista da promoção do bem comum. A Igreja louva e aprecia o trabalho de quantos se dedicam ao bem da nação e tomam sobre si o peso de tal cargo, em serviço dos seres humanos». E pede que «todos os cristãos tenham consciência da sua vocação especial e própria na comunidade política». Além disso, valoriza a importância da educação política: «deve atender-se cuidadosamente à educação cívica e política, hoje tão necessária à população e sobretudo aos jovens, para que todos os cidadãos possam participar na vida da comunidade política» (GS 75).

A comunidade política e a Igreja

É fundamental que haja clareza sobre as relações da comunidade política e a Igreja; e «que se distingam claramente as atividades que os fiéis, isoladamente ou em grupo, desempenham em próprio nome como cidadãos guiados pela sua consciência de cristãos, e aquelas que exercitam em nome da Igreja e em união com os seus pastores». Contudo, a Igreja e comunidade política estão ao serviço da sociedade: façam-no em mútua cooperação. «Ambas servem a vocação pessoal e social [...]. E tanto mais eficazmente exercitarão este serviço para bem de todos, quanto melhor cultivarem entre si uma sã cooperação». Mas sem pôr em causa a autonomia e independência. «A Igreja que, em razão da sua missão e competência, de modo algum se confunde com a sociedade nem está ligada a qualquer sistema político determinado, é ao mesmo tempo o sinal e salvaguarda da transcendência da pessoa humana». Por isso, não devem servir-se uma da outra e tampouco usufruir de vantagens advindas desta relação. Até porque a Igreja tem por missão ensinar e denunciar o que não estiver de acordo com os direitos humanos. «Aderindo fielmente ao Evangelho e realizando a sua missão no mundo, a Igreja — a quem pertence fomentar e elevar tudo o que de verdadeiro, bom e belo se encontra na comunidade humana — consolida, para glória de Deus, a paz entre os seres humanos» (GS 76).

Este texto foi elaborado a partir das «fichas» apresentadas pelo «Ambiente Virtual de Formação» da Arquidiocese de Campinas, Brasil — www.ambientevirtual.org.br —

© Laboratório da fé, 2015

II Concílio do Vaticano, no Laboratório da fé, 2015


Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 29.10.15 | Sem comentários
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