CELEBRAR O DOMINGO SEGUNDO DA QUARESMA
Até onde pode ir o amor? É uma questão que, normalmente, não se coloca porque, em geral, o amor (autêntico) não tem limites: «Amar é tudo dar» — disse Santa Teresinha do Menino Jesus. Sim, Deus deu-nos tudo (segunda leitura) e nós damos-lhe graças (salmo). Portanto, não é errado aceitar determinados sacrifícios para demonstrar o amor! Abraão conheceu essa provação (primeira leitura); e não a recusou. Ora, a Quaresma coloca-nos na «escola» de Abraão: a escola da fé, da confiança plena. A Palavra é-nos dada para consolidar a nossa fé e a nossa esperança. Deus fala-nos, escutemo-lo (evangelho)!
«Serão abençoadas todas as nações da terra»
O texto da primeira leitura proposto para o segundo domingo da Quaresma (Ano B) é uma das narrações mais estranhas em toda a Bíblia. Alguns considerá-lo-ão escandaloso: Deus dá uma ordem cruel a Abraão; e este responde com uma «obediência cega». É assim que temos de entender a fé?!
Antes de mais, convém esclarecer que o primeiro objetivo do texto é descrever uma evolução cultural (proposta por Deus): substituir o sacrifício de seres humanos, como acontecia em muitas das culturas daquele tempo e região, pelo sacrifício de animais.
Mas também há um objetivo relacionado com a temática da fé, da confiança em Deus, cujos caminhos, muitas vezes, são insondáveis.
Deus tinha prometido a Abraão que teria um filho — ele e a sua esposa já se encontravam em «idade avançada» — que seria herdeiro da promessa duma «numerosa descendência». A promessa cumpre-se: Isaac.
Ora, nesta narração, o ancião (e fiel) Patriarca é posto à prova: confia e obedece ao Autor do dom ou só aprecia o dom recebido? A questão central é: Abraão acredita em Deus em troca duma herança?
Abraão começa por escutar uma voz (Deus) que o chama pelo nome e lhe pede que entregue o seu filho. Sem mais indicações. E Abraão obedece, sem vacilar. Depois, outra voz — que, na verdade, é a voz de Deus através de um mensageiro (Anjo) — volta a chamá-lo pelo nome. A resposta é, de novo, imediata: «Aqui estou». Por fim, a voz constata: «Agora sei que na verdade temes a Deus».
Sim, Abraão demonstrou que tem mais confiança em Deus, do que desejo do dom. Assim se confirma e renova a promessa: «serão abençoadas todas as nações da terra».
Uma vez mais, temos de interpretar este texto com a chave da «História da Salvação». Deus não quer a destruição, mas a vida, como Noé teve ocasião de testemunhar (domingo passado). Mas os caminhos de Deus continuam insondáveis. A «escuta obediente» da voz de Deus é caminho de salvação, mesmo quando atravessada por paradoxos, momentos de dificuldade estrema.
Abraão recebeu o título de «pai dos crentes»: primeiro, porque esperou contra toda a esperança no cumprimento da promessa; depois, porque não recusou abdicar do próprio dom da promessa.
A fé é uma experiência tremenda que, às vezes, pode ter um custo elevado! E, para melhor o entender, precisamos de ler este texto à luz da plenitude da Sexta-feira da Paixão, quando o Pai entrega o seu Filho.
Abraão recebeu o título de «pai dos crentes»: primeiro, porque esperou contra toda a esperança no cumprimento da promessa; depois, porque não recusou abdicar do próprio dom da promessa.
A fé é uma experiência tremenda que, às vezes, pode ter um custo elevado! E, para melhor o entender, precisamos de ler este texto à luz da plenitude da Sexta-feira da Paixão, quando o Pai entrega o seu Filho.