Nihil Obstat — blogue de Martín Gelabert Ballester
Segui muito por alto as notícias sobre o Sínodo. E, do pouco que li nas notícias, não gostei. Se não soubesse que se tratava de um acontecimento eclesial, teria pensado que eram notícias sobre uma guerra entre dois partidos diferentes, distantes e opostos. E que se tratava de ganhar a batalha da informação, como se essa batalha fosse decisiva para ganhar a guerra.
Em todas as sociedades há tendências e diferenças. Isso, em princípio, é bom, porque o contraste de pareceres ajuda a encontrar a verdade. E, na Igreja, é disso que se trata: não tanto de saber a opinião de um ou de outro, mas qual é a verdade a propósito das coisas. Ora, a verdade, diga-se o que se disser, vem em última instância do Espírito Santo (algo parecido dizia Tomás de Aquino). Por outro lado, quando determinados temas continuam a aparecer, apesar das resistências de alguns em falar deles, é porque estamos diante de um problema sério que requer melhores soluções do que as encontradas até agora.
Duas chaves teológicas vieram-me à mente quando lia as notícias sobre o Sínodo. Uma, a distinção entre verdade de fé e doutrina da Igreja. A doutrina muda. Nalgumas ocasiões, mudou pouco. Por exemplo, a mudança que aconteceu a propósito de algo tão sério como a necessidade do batismo para a salvação. Que Cristo seja o Salvador de todas e de todos, é uma verdade de fé. Que só seja possível aceder a esta salvação por meio do batismo é uma doutrina que se ensinou, mas que mudou, e mudou para melhor. A outra chave refere-se ao Magistério «vivo» da Igreja. Alguns apelam ao Magistério do passado para desqualificar o atual. Esquecem que ambos se interpretam mutuamente, mas deixando claro que o Magistério ao qual se deve dar atenção é, principalmente, o Magistério «vivo», ou seja, o do presente.
As polémicas não oferecem luz. Pelo contrário, criam maior divisão, ao reforçar as respetivas posições adversas. Contudo, alegro-me ao constatar que, nalguns temas considerados até agora intocáveis, os Padres Sinodais tenham adotado uma atitude muito positiva. Inclusive naqueles poucos números do Boletim oficial nos quais não se alcançou a maioria de dois terços a favor, houve uma maioria clara de mais de metade. Isso significa que é legítimo falar dessas coisas na Igreja. E significa, além disso, que quem opina que, em determinadas condições, as pessoas divorciadas que voltaram a casar, poderiam aceder à comunhão eucarística, não são assim tão poucos nem heréticos. Um católico deveria sentir-se representado pelos participantes no Sínodo. Porque se eles não nos representam, quem é que nos vai representar? Os que mais berram, os mais intransigentes, os mais excludentes?
A terminar. Custa-me entender que 64 Padres tenham votado contra a proposição 55 sobre a atenção pastoral às pessoas com orientação homossexual. É verdade: 118 votaram a favor.
Segui muito por alto as notícias sobre o Sínodo. E, do pouco que li nas notícias, não gostei. Se não soubesse que se tratava de um acontecimento eclesial, teria pensado que eram notícias sobre uma guerra entre dois partidos diferentes, distantes e opostos. E que se tratava de ganhar a batalha da informação, como se essa batalha fosse decisiva para ganhar a guerra.
Em todas as sociedades há tendências e diferenças. Isso, em princípio, é bom, porque o contraste de pareceres ajuda a encontrar a verdade. E, na Igreja, é disso que se trata: não tanto de saber a opinião de um ou de outro, mas qual é a verdade a propósito das coisas. Ora, a verdade, diga-se o que se disser, vem em última instância do Espírito Santo (algo parecido dizia Tomás de Aquino). Por outro lado, quando determinados temas continuam a aparecer, apesar das resistências de alguns em falar deles, é porque estamos diante de um problema sério que requer melhores soluções do que as encontradas até agora.
Duas chaves teológicas vieram-me à mente quando lia as notícias sobre o Sínodo. Uma, a distinção entre verdade de fé e doutrina da Igreja. A doutrina muda. Nalgumas ocasiões, mudou pouco. Por exemplo, a mudança que aconteceu a propósito de algo tão sério como a necessidade do batismo para a salvação. Que Cristo seja o Salvador de todas e de todos, é uma verdade de fé. Que só seja possível aceder a esta salvação por meio do batismo é uma doutrina que se ensinou, mas que mudou, e mudou para melhor. A outra chave refere-se ao Magistério «vivo» da Igreja. Alguns apelam ao Magistério do passado para desqualificar o atual. Esquecem que ambos se interpretam mutuamente, mas deixando claro que o Magistério ao qual se deve dar atenção é, principalmente, o Magistério «vivo», ou seja, o do presente.
As polémicas não oferecem luz. Pelo contrário, criam maior divisão, ao reforçar as respetivas posições adversas. Contudo, alegro-me ao constatar que, nalguns temas considerados até agora intocáveis, os Padres Sinodais tenham adotado uma atitude muito positiva. Inclusive naqueles poucos números do Boletim oficial nos quais não se alcançou a maioria de dois terços a favor, houve uma maioria clara de mais de metade. Isso significa que é legítimo falar dessas coisas na Igreja. E significa, além disso, que quem opina que, em determinadas condições, as pessoas divorciadas que voltaram a casar, poderiam aceder à comunhão eucarística, não são assim tão poucos nem heréticos. Um católico deveria sentir-se representado pelos participantes no Sínodo. Porque se eles não nos representam, quem é que nos vai representar? Os que mais berram, os mais intransigentes, os mais excludentes?
A terminar. Custa-me entender que 64 Padres tenham votado contra a proposição 55 sobre a atenção pastoral às pessoas com orientação homossexual. É verdade: 118 votaram a favor.
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Martín Gelabert Ballester, frade dominicano, nasceu em Manacor (Ilhas Baleares) e reside em Valencia (Espanha). É autor do blogue «Nihil Obstat» (em espanhol), que trata de questões religiosas, teológicas e eclesiais. Pretende ser um espaço de reflexão e diálogo. O autor dedica o seu tempo à pregação e ao ensino da teologia, especialmente antropologia teológica e teologia fundamental.
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