PREPARAR O DOMINGO DA EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ
14 DE SETEMBRO DE 2014
Números 21, 4b-9
Naqueles dias, o povo de Israel impacientou-se e falou contra Deus e contra Moisés: «Porque nos fizeste sair do Egito, para morrermos neste deserto? Aqui não há pão nem água e já nos causa fastio este alimento miserável». Então o Senhor mandou contra o povo serpentes venenosas que mordiam nas pessoas e morreu muita gente de Israel. O povo dirigiu-se a Moisés, dizendo: «Pecámos, ao falar contra o Senhor e contra ti. Intercede junto do Senhor, para que afaste de nós as serpentes». E Moisés intercedeu pelo povo. Então o Senhor disse a Moisés: «Faz uma serpente de bronze e coloca-a sobre um poste. Todo aquele que for mordido e olhar para ela ficará curado». Moisés fez uma serpente de bronze e fixou-a num poste. Quando alguém, era mordido por uma serpente, olhava para a serpente de bronze e ficava curado.
O povo de Israel impacientou-se e falou contra Deus
O texto no seu contexto. A travessia do deserto não é a narração de uma epopeia, mas de um drama que, com frequência, se transforma em tragédia. Israel não é, em absoluto, um modelo de povo submisso. Revolta-se e chega a dizer que estava melhor no Egito, mesmo sendo escravos. E mais: acusa Deus de tirá-lo do Egito para o matar à fome. Blasfémia ou acusação justa? O castigo inicial transforma-se em perdão, graças à mediação de Moisés. O antigo símbolo da serpente de bronze, que dá vida temporariamente, fica como testemunho de um sinal aberto ao futuro: de uma árvore sairá a verdadeira vida.
O texto na história da salvação. A nossa mentalidade ocidental fica chocada ao ler que Deus, por causa de um protesto humano, possa mandar serpentes cujas mordeduras sejam mortíferas. O povo de Israel é arquétipo da humanidade que enfrenta as dificuldades da vida (deserto) e prefere a escravidão com pão à escassez em liberdade. O «bem-estar» a qualquer preço não é prometido por Deus; Deus promete a «terra», lugar de encontros e desencontros, de fidelidades e de pecados. A história desenvolve-se na terra prometida: o deserto é uma antecipação, com frequência, premonitória.
Palavra de Deus para nós: sentido e celebração litúrgica. A experiência do povo de Israel, na travessia pelo deserto, pode ser transposta para a nossa própria experiência. O deserto é lugar de prova em liberdade, de encontro com a vida em estado puro e exigente. A travessia da vida é dura: doenças, dificuldades económicas, crises familiares, desenraizamentos. Parece que desfalecemos; mas há «testemunhos de vida e de esperança». A Igreja leu sempre neste texto o anúncio do que será a árvore levantada da única e verdadeira salvação: a de Cristo na cruz.
© Pedro Fraile Yécora, Homiletica