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Sacrosanctum Concilium — Constituição Conciliar sobre a Liturgia


Esta ficha é dedicada ao Ofício Divino (Liturgia das Horas) e ao Ano Litúrgico, respetivamente os capítulos IV e V da Constituição sobre a Sagrada Liturgia — «Sacrosanctum Concilium» (SC) — que lançou novas luzes sobre estes dois importantes temas litúrgicos. O primeiro reflete sobre a oração da Igreja e o segundo sobre a sua ação litúrgica no tempo. O objetivo de ambos foi renovar os aspetos pastorais e espirituais com a finalidade de contribuir para a santificação do povo de Deus.

Liturgia das Horas

O capítulo IV aborda o Ofício Divino, a Celebração da Oração Litúrgica (Liturgia das Horas) que a comunidade eclesial realiza em nome de Cristo. A oração sempre foi um dos elementos constitutivos da Igreja que cumpre o mandamento do Seu Senhor de orar incessantemente! (cf. Marcos 14, 38; Mateus 26, 41).
A Liturgia das Horas é formado por uma série de orações de louvor a Deus e de intercessão pela salvação do mundo que, segundo a tradição antiga cristã, se destina a consagrar o curso diurno e noturno do tempo (SC 84) no louvor individual ou coletivo. A SC propôs reformá-lo com a finalidade de adequá-lo à realidade moderna, porém, mantendo a sua importância teológica, enfatizando o louvor divino como oração do Cristo total, ou seja, como ação comunitária da Igreja inteira.
O Ofício Divino tem a sua origem no louvor que as primeiras comunidades cristãs realizavam através da recitação dos Salmos segundo a tradição judaica (Atos 2, 42 e Colossenses 3, 16). Na medida em que a Igreja se foi institucionalizando, também a Liturgia foi recebendo normas elaboradas pelos bispos para as suas dioceses, e pelos mosteiros nascentes, entre eles a Ordem de São Bento que definiu que os monges deveriam rezar os salmos em favor da Igreja, em determinadas horas do dia e da noite. Apesar de algumas mudanças terem ocorrido, esta estrutura é mantida até os nossos dias.
Como Ofício propriamente dito, surge na Idade Média quando, no século XI, foi sistematizado e organizado num livro denominado «Breviário», com os salmos, hinos, textos bíblicos e orações, que era usado para a oração dos clérigos (letrados). Como o povo não tinha acesso ao «Breviário», seja por questões culturais ou económicas, difundiu-se a prática da piedade popular da oração do Rosário, rezava-se as 150 Ave-Marias como uma forma de substituir os 150 Salmos.
Desde os tempos antigos, a Igreja confiou o Ofício Divino às comunidades religiosas e aos clérigos e, a partir do II Concílio do Vaticano, os leigos foram também convidados a celebrá-lo segundo as suas possibilidades, especialmente aos domingos e dias santos (SC 100). Para isso, foi fundamental a autorização da tradução na língua materna, possibilitando uma maior participação das pessoas nas celebrações.
A SC insistiu que o Ofício Divino fosse celebrado, sempre que possível, em comunidade, e destacou que, dentre as várias horas, as «Laudes» e as «Vésperas» (Oração da Manhã e da Tarde) eram as mais importantes. Solicitou que houvesse uma consonância entre as orações litúrgicas e os textos bíblicos (SC 90) e, para isso, foi proposta uma revisão dos textos e a sua distribuição de acordo com cada tempo litúrgico.
Em 1970, o novo livro de orações passa a ser chamado «Liturgia das Horas» abolindo o termo «Breviário»; e, em 1985, foi feita uma nova revisão e lançada uma segunda edição que passou a ter quatro livros, incorporando o «Ofício de Leituras». O primeiro é dedicado ao Advento e Natal, o segundo à Quaresma, Tríduo e Tempo Pascal, o terceiro contém as primeiras dezassete semanas do Tempo Comum, e o quarto vai desde a 18.ª até à 34.ª semana do Tempo Comum. Em Portugal, como noutros países, foi elaborada uma edição (um único livro) apenas com as Horas principais («Laudes» e «Vésperas») e a oração do fim do dia: «Completas».

Ano Litúrgico

O capítulo V da SC estabelece a reforma do Ano Litúrgico com o intuito de destacar a centralização do mistério da morte e ressurreição de Jesus Cristo nas celebrações litúrgicas, tanto durante o ano quanto na semana, isto é, o Concílio desejou afirmar que a Páscoa é o tempo por excelência no Ano Litúrgico, e que o domingo é o dia por excelência na semana. Diante disto, este capítulo emana orientações catequéticas para a revalorização do domingo como o «Dia da Páscoa do Senhor»; do «Tempo da Quaresma» como tempo de preparação penitencial para a grande festa da Páscoa; e considerações sobre o culto dos Santos, enfatizando que as suas festas não devem prevalecer sobre os mistérios da salvação (SC 111).
Segundo a SC 106, o domingo, o dia do Senhor, é mantido como o principal dia de festa, pois, segundo a tradição apostólica, tem a sua origem no mesmo dia da ressurreição de Cristo. Nele, a Igreja celebra o mistério central de nossa fé, a Páscoa semanal, o Mistério Pascal. Segundo as «Normas Universais para o Ano Litúrgico e o Calendário» (número 4), «por causa de sua especial importância, o domingo só cede sua celebração às Solenidades e Festas do Senhor. Os domingos do Advento, da Quaresma e da Páscoa gozam de precedência sobre todas as Festas do Senhor e todas as Solenidades. As Solenidades que ocorrerem nestes domingos sejam antecipadas para o sábado».
O Ano Litúrgico possui como fundamento bíblico-teológico a «História da Salvação» no qual a Igreja celebra o mistério da Encarnação, Nascimento, Ministério Público, Morte, Ressurreição, Ascensão, Pentecostes, e a espera da vinda do Senhor (SC 102) e é nele que o cristão vive inserido em Cristo. Não segue a mesma datação do calendário civil e o seu inicio dá-se no primeiro domingo do Advento, quatro domingos antes do 25 de dezembro, e termina na 34.ª semana do Tempo Comum. O Ano Litúrgico propõe um caminho espiritual, oferecendo um programa para se viver a graça do mistério de Cristo nos sucessivos momentos de sua vida. Para alcançar este objetivo, o Ano Litúrgico foi dividido em partes denominadas Tempos Litúrgicos, cada um dos quais relacionados com uma grande festividade integrada e atualizada no Tempo Cósmico, Biológico e Histórico. Por isso, toda a Liturgia é celebrada num tempo, e todo dia é dia celebrativo.
Os Tempos Litúrgicos são:
Tempo do Advento (cor roxa; no terceiro domingo pode-se usar a cor rosa) : inicia-se no domingo seguinte à festa de Cristo Rei (34.º domingo do Tempo Comum), e tem a duração de quatro semanas. Celebra-se nesse período a Solenidade da Imaculada Conceição (8 de dezembro).
Tempo de Natal (cor branca): no dia 25 de dezembro, comemora-se o «Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo»; no primeiro domingo após o Natal, a «Sagrada Família, Jesus Maria e José» (quando não há domingo entre o Natal e o primeiro dia do ano civil, celebra-se a 30 de dezembro); no primeiro dia do ano, «Santa Maria, Mãe de Deus»; no domingo seguinte, a «Epifania do Senhor» que é a manifestação de Deus ao mundo através do reconhecimento e adoração dos Magos; e, em seguida, o «Batismo do Senhor».
O primeiro ciclo do Tempo Comum (cor verde) inicia-se na segunda-feira depois do Batismo do Senhor e termina na terça-feira (Carnaval), véspera da quarta-feira de Cinzas.
Tempo da Quaresma (cor roxa; no quarto domingo pode-se usar a cor rosa): período de «quarenta dias» que se inicia na quarta-feira de Cinzas, dia em que são impostas as cinzas orientando para a conversão. Representa, simbolicamente, os 40 anos de travessia no deserto do Sinai, e relembra os 40 dias que Jesus esteve no deserto em preparação para iniciar a sua vida pública. Esse tempo tem por finalidade preparar a Páscoa com penitências, orações pessoais e comunitárias, para obter a conversão dos pecadores, jejuns e caridade (SC 109). A semana que precede a Páscoa é chamada «Semana Santa» (cor roxa), que se inicia com o Domingo de Ramos da Paixão do Senhor (cor vermelha).
Tríduo Pascal: inicia-se na tarde de quinta-feira da Semana Santa (cor branca) com a missa vespertina da «Ceia do Senhor», passando pela sexta-feira da «Paixão do Senhor» (cor vermelha), e culminando com a grande «Vigília Pascal» (cor branca), cuja celebração se realiza na noite de sábado, véspera da celebração da «Páscoa do Senhor».
Tempo da Páscoa (cor branca): tem duração de 50 dias e inicia-se no Domingo da Ressurreição do Senhor e termina no Domingo de Pentecostes (cor vermelha). No sétimo domingo, celebra-se a Solenidade da Ascensão do Senhor.
O segundo ciclo do Tempo Comum (cor verde) inicia-se na segunda-feira após a Solenidade de Pentecostes e encerra no sábado seguinte à solenidade de «Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo» (cor branca), onde se vive o tempo do crescimento da Igreja e celebra-se antecipadamente a volta de Cristo como Juiz, encerrando a história e inaugurando o Reino Eterno. Neste Tempo celebram-se também, as Solenidades (cor branca) da Santíssima Trindade, do Corpo de Deus (Corpo e Sangue de Cristo), do Sagrado Coração de Jesus, de São Pedro e São Paulo (cor vermelha) e Todos os Santos, entre outras.
A proposta da revisão do Ano Litúrgico e das Normas têm o objetivo de levar os fiéis a participarem mais ardentemente pela fé, pela esperança e pela caridade, em «todo o mistério de Cristo nas celebrações dominicais, desenvolvido no decurso de um ano»; aproximá-los da Igreja e levá-los a uma maior participação nas missas através das orações, dos cantos e dos ritos simplificados que, a partir de então, facilitaram a compreensão. A nova postura do presidente da celebração voltado para a comunidade e rezando na língua materna – e não de costas, rezando em latim, como era celebrado antes do Concílio – foi essencial para a mudança do conceito de «participação» dos fiéis, que antes apenas «assistiam» à celebração da Ceia do Senhor. Outros aspetos importantes do documento foram: a abertura dada para a utilização de novos instrumentos musicais que ajudassem na animação da Liturgia, e a possibilidade de maior participação ativa dos fiéis no exercício de diversas funções como comentadores, leitores, animadores e grupos de canto.

O culto à Virgem Maria e aos Santos

A partir do Concílio de Éfeso (431 depois de Cristo), o culto prestado pelo povo de Deus a Maria cresceu admiravelmente em amor, em oração e imitação, de forma que todos a veneram como a Mãe de Deus, a «Theotókos» (Constituição Dogmática sobre a Igreja — «Lumen Gentium», 66). No ciclo do Ano Litúrgico, Maria é venerada porque está indissoluvelmente unida à obra de salvação do seu Filho (SC 103). Quatro solenidades (cor branca) são dedicadas à Virgem Maria: no primeiro dia de janeiro, «Santa Maria, Mãe de Deus»; a 25 de março, «Anunciação do Senhor»; a 15 de agosto, «Assunção de Nossa Senhora»; a 8 de dezembro, «Imaculada Conceição de Nossa Senhora».
A Igreja venera os Santos e as suas relíquias autênticas, bem como as suas imagens e, está também inserida no Ano Litúrgico, a celebração da memória dos Mártires (cor vermelha) e outros Santos (cor branca) no «dies natalis» (dia da morte), que proclama o mistério pascal realizado na paixão e glorificação deles com Cristo. Estas celebrações têm o intuito de proclamar as grandes obras de Cristo realizadas nos seus servos (SC 111), e propõem aos fiéis os bons exemplos a serem imitados, conduzindo os seres humanos ao Pai, por meio do seu Filho Jesus, e implorando, pelos seus méritos, as bênçãos de Deus (SC 104).

Exercícios de piedade

Segundo a SC 105, em várias épocas do ano e seguindo a tradição, a Igreja completa a formação dos fiéis orientando-os pela opção da oração, do jejum e da caridade como práticas corporais e espirituais. E, isso ocorre, especialmente no tempo da Quaresma e nas festas dos Santos.
A penitência deve ser praticada não só de modo pessoal, mas servindo de dedicação ao próximo conforme as suas necessidades e disponibilidades.
O jejum pascal deve ser observado na Sexta-feira da Paixão e Morte do Senhor, estendendo-se também ao Sábado Santo, para que os fiéis possam chegar à alegria da Ressurreição do Senhor com elevação e largueza de espírito (SC 110).

© Ambiente Virtual de Formação — www.ambientevirtual.org.br —
© Arquidiocese de Campinas, Brasil
© Adaptado por Laboratório da fé, 2014



Questões para reflexão

  • O que conheces sobre as orações da Liturgia das Horas? São praticadas na tua comunidade?
  • Como é que podemos celebrar bem todo o Ano Litúrgico?
  • Que iniciativas são apresentadas na tua comunidade para que as celebrações sejam mais acolhedoras, orantes, e expressão de encontro com Deus?
  • O que ficaste a saber com a leitura desta ficha?

Partilha connosco a tua reflexão!


II Concílio do Vaticano, no Laboratório da fé, 2014

Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 7.7.14 | Sem comentários
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