Mistério da fé! [31]


Os sinais e símbolos (cf. tema 3) ocupam um lugar importante no contexto da vida humana; o mesmo acontece no contexto litúrgico. Por isso, dedicamos este tema à explicação dos sinais e símbolos associados ao Sacramento da Unção dos Enfermos. [Para ajudar a compreender melhor, ler: Lucas 10, 30-35; Catecismo da Igreja Católica (CIC), números 1499 a 1532]

«Vai e faz tu também o mesmo»

— diz Jesus Cristo, no evangelho segundo Lucas, ao concluir o diálogo com aquele que lhe questionou sobre quem é o «meu próximo», depois de lhe contar a parábola do bom samaritano. O papa Francisco disse que esta parábola é «um ícone bíblico que expressa em toda a sua profundidade o mistério que transparece na Unção dos Enfermos [...]. Todas as vezes que celebramos este Sacramento, o Senhor Jesus, na pessoa do sacerdote, torna-se próximo de quem sofre e está gravemente doente, ou é idoso. Diz a parábola que o bom samaritano se ocupa do homem sofredor derramando sobre as suas feridas óleo e vinho. O óleo faz-nos pensar no que é abençoado pelos bispos todos os anos, na Missa crismal da Quinta-Feira Santa, precisamente em vista da Unção dos enfermos. O vinho, ao contrário, é sinal do amor e da graça de Cristo que brota do dom da sua vida por nós e expressam em toda a sua riqueza na vida sacramental da Igreja. Por fim, a pessoa sofredora é confiada a um hoteleiro, a fim de que continue a ocupar-se dela, sem se preocupar com a despesa. Mas, quem é este hoteleiro? É a Igreja, a comunidade cristã, somos nós, aos quais todos os dias o Senhor Jesus confia aqueles que estão aflitos, no corpo e no espírito, para que possamos continuar a derramar sobre eles, sem medida, toda a sua misericórdia e salvação» (Francisco, Audiência Geral de 26 de fevereiro de 2014).

Unção com o Óleo dos Enfermos

«Com a unção é significada e conferida a graça do Ressuscitado, para sublinhar que Cristo faz seu o meu corpo doente: alivia-o do peso dos sofrimentos, cura-o espiritual e fisicamente, fortalece-o, conforta-me, envolve os meus pecados em perdão cheio de amor, permite-me compreender o sentido da dor à luz da sua paixão a que me une. Portanto, neste sacramento, Jesus continua a fazer o que fazia com os doentes quando estava na terra e o que recomendou que os seus discípulos fizessem: “Curai os doentes e dizei-lhes: ‘O reino de Deus já está próximo de vós’” (Lucas 10, 9). Mas a unção dos doentes não é um gesto mágico; requer a fé como cada um dos outros sacramentos. Quando o doente se confia ao poder do Senhor poderá superar também os medos e as tentações próprias de quem sofre, terá serenidade e paz interior, sentir-se-á encorajado a esperar pela cura e, ao mesmo tempo, a acolher todos os possíveis desenvolvimentos do mal. O sacramento da unção também prepara para a morte próxima ou longínqua não como objeto específico, mas porque a morte é preanunciada pela doença, especialmente quando é grave» (Carlo Maria Martini, «O corpo», Paulinas, Prior Velho 2003, 73-74).

Os sinais e símbolos associados ao sacramento da Unção dos Enfermos são comuns a outros sacramentos: imposição das mãos (cf. tema 15); unção com o óleo (cf. tema 11).

Sentido cristão da doença

«O ato pelo qual um homem chega a dotar a doença de sentido cristão e a vivê-la na fé é uma ação do Espírito Santo que se insere num itinerário, numa caminhada humana de ‘relação’ com a doença, que é acidentado e contraditório, repleto de incógnitas e de surpresas, de gestos de assunção e de regressões, de passos atrás, de rejeições, de momentos de paz e de momentos de rebelião, de desconforto e de vontade de combater. [...] O ‘sentido cristão’ da experiência de doença acontece no encontro entre o Espírito Santo, a humanidade individual do doente, a sua fé e o ambiente que o rodeia. Por isso, quando se fala e se escreve sobre a doença e sobre a atitude espiritual diante dela, é importante sair da linguagem categórica, normativa, impositiva do ‘é preciso’, ‘deve-se’, etc. Não é só um problema de correção de linguagem, mas também de respeito por aquilo que só pode ser um evento da liberdade do doente, iluminado pelo Espírito Santo e apoiado pela fé» (Enzo Bianchi e Luciano Manicardi, «Ao lado do doente. O sentido da doença e o acompanhamento dos doentes», Coleção «Cuidar e Curar», ed. Paulinas, Prior Velho 2012, 12-13).

«Gostaria que o Espírito dado neste sacramento me ajudasse e a muitos outros a ler a morte na sua realidade, como o cumprimento definitivo do Batismo, a consecução e obtenção da vida filial e fraterna» (C. M. Martini, 74).






Reflexões semanais sobre a «fé celebrada» (liturgia e Sacramentos) — Laboratório da fé, 2014
Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 15.5.14 | Sem comentários
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