VIVER O DOMINGO: ao ritmo da liturgia
Trigésima terceira semana
Confiança a toda a prova
Jesus Cristo anuncia que o caminho do cristão nem sempre é «cor de rosa»! Os últimos dias do Ano Litúrgico assinalam com intensidade a dimensão escatológica (fim dos tempos) da vida cristã. Para se referirem a essa dimensão, os textos bíblicos recorrem a uma linguagem apocalítica, desenvolvida no tempo dos Profetas e recuperada em algumas narrativas evangélicas. Anunciar as perseguições aos cristãos, as guerras entre as nações, as divisões nas famílias, não se trata de um «furo jornalístico». As nossa história e o nosso quotidiano estão cheias destes casos. Este discurso apocalíptico (e assustador) não pretende levar ao pânico. É exatamente o oposto. Temos de deixar a tentação de ver nos acontecimentos políticos, nas catástrofes naturais ou grandes calamidades, o preâmbulo do «fim do mundo».A primeira coisa que temos de ter (sempre) presente é que Jesus Cristo vem trazer-nos uma boa notícia. Por isso, este género de discurso não deve ser tomado à letra, porque não foi redigido para predizer o futuro de maneira exata. Ele foi escrito para nos ajudar a ultrapassar as provações do presente. O núcleo da mensagem é: seja o que for que vos aconteça, não temais. Jesus Cristo diz claramente qual deve ser a nossa atitude: confiança a toda a prova, que não cede nem às catástrofes nem às perseguições.
Isto não quer dizer que os cristãos perseguidos vão escapar aos seus perseguidores. Isto não quer dizer que os cristãos estão imunes a todo o tipo de desastres ou sofrimentos. As palavras de Jesus Cristo ensinam-nos que todo o nosso ser está nas mãos de Deus. Pela própria morte, é-nos assegurado que permaneceremos mergulhados na vida de Deus. É a nossa própria segurança, a nossa tranquilidade, o facto de não nos deixarmos abalar, que servirá de testemunho.
Temos de aprender a retirar do Evangelho a sabedoria (DOMINGO: «Eu vos darei língua e sabedoria») para viver a nossa adesão a Jesus Cristo. Ser constante na adversidade é uma boa prova de fogo para depurar a própria fé (SEGUNDA: «A tua fé te salvou»). Os textos bíblicos apocalíticos não são um «filme de terror»; são um apelo à esperança (TERÇA: «Salvar o que estava perdido»), um grito de resistência no meio da injustiça generalizada. O justo há de saber que o mal não tem a última palavra (QUARTA: «Pensavam que o reino de Deus ia manifestar-se imediatamente»), que Deus está do seu lado. O mais fácil é sucumbir à tentação da oferta de poder (QUINTA: «Não deixarão em ti pedra sobre pedra»), à tentação de abandonar a fé (SEXTA: «fizestes dela ‘um covil de ladrões’») e o que ela significa de projeto para mudar o mundo. A perseverança na fé e na fidelidade a Jesus Cristo dar-nos-á a vida (SÁBADO: «Todos estão vivos»).
A fé é perseverante ou é uma fantasia. Esta semana recorda que a perseverança — não a resignação — é a chave. Uma perseverança que nasce da confiança (a fé) no Deus de Jesus Cristo. Em espera, mas sem ficar de braços cruzados! A forma como vivemos revela que somos sinal de esperança ou de desânimo?
A elaboração deste texto foi inspirada nos comentários de P. Jacques Fournier e Maria Noëlle Thabut e também nos textos publicados neste «Laboratório da fé» a propósito do trigésimo terceiro domingo.
© Laboratório da fé, 2013