VIVER O DOMINGO: ao ritmo da liturgia


Vigésima oitava semana


Agradecer faz bem ao coração

O facto de sermos boas pessoas (com todos os «mas» que se possam acrescentar) é fruto apenas da nossa formação religiosa? Quem mais teve intervenção na formação da nossa personalidade (outras pessoas, ambientes, acontecimentos...)? É o momento para lhes dar graças. E também a Deus, que colocou no nosso caminho, com providência paterna, tudo o que nos constitui como pessoas.
Hoje, fixamo-nos (como no caso do samaritano agradecido) em tudo aquilo que, desde fora da nossa confissão religiosa — e, às vezes, em claro conflito com ela —, nos influenciou positivamente: literatura, cinema, música, arte... Obrigado, muitíssimo obrigado! Pensemos em cineastas, músicos criadores e intérpretes, pais e mães não crentes que são amorosíssimos com os seus filhos (biológicos ou adotivos), humoristas que nos fazem rir e outros que nos fazem pensar, organizações não governamentais que trabalham pelas causas mais nobres... Obrigado, muitíssimo obrigado!
De facto, a graça de Deus chega até nós das mais variadas formas. Deus não pede autorização a ninguém para agir, para fazer o que lhe apraz. Uma das miopias da nossa Igreja consistiu (ainda consiste?) em apresentar-se como a única distribuidora das graças de Deus. A experiência, mil vezes por dia, desmente esta argumentação.
Felizmente, não temos de escolher entre Deus e o Universo ou outra realidade qualquer: para nós, Deus é maior do que o Universo, é maior do que tudo o resto; a procura de Deus passa por tudo o que de melhor, de mais belo, de mais verdadeiro, de mais justo, podemos encontrar na vida.
A fé é o dom do encontro com Jesus Cristo; e um esforço de descoberta da sua ação nas nossas vidas. A fé permite acolher a salvação (DOMINGO: «A tua fé te salvou»), dom gratuito de Deus; depois conduz ao agradecimento e à ação de graças; depois leva ao canto de glória a Deus, ao louvor pelas suas maravilhas!
Como é que damos graças? Estamos à espera de grandes milagres (SEGUNDA: «Nenhum sinal lhe será dado») para nos sentirmos agradecidos? Parece que os cristãos têm medo da alegria, da música, da dança, do entusiasmo (TERÇA: «O vosso interior está cheio de rapina e perversidade»)... Pensemos nas nossas comunidades, nas nossas paróquias: tão frias e formalistas (QUARTA: «Desprezais a justiça e o amor de Deus»), sempre na defensiva, com uma linguagem eclesiástica tão desfasada da vida real...
O coração agradecido dilata-se pela força do amor (QUINTA: «Se morrer, dará muito fruto»). Agradecer é esticar ao máximo o coração. O agradecimento vence a distância do egoísmo, faz-nos viver em paz connosco e com os outros (SEXTA: «A vossa paz repousará sobre eles»), predispõe-nos à comunhão. O agradecimento faz-nos maiores do que alguma vez sonhámos, quando nos pede para amar sem medo (SÁBADO: «Não vos preocupeis»), para romper os limites instituídos de um amor mesquinho. O agradecimento é o melhor indicador para medir a «saúde espiritual» do nosso coração, isto é, a nossa fé.

O que posso fazer para ter mais fé? Esta semana mostra-nos que a fé não consiste simplesmente em cumprir ordens, mas também em proclamar a boa nova da salvação, em reconhecer a graça recebida. Só quem faz a experiência de um verdadeiro encontro com Jesus Cristo se pode abrir a uma vida nova com um coração agradecido.

A elaboração deste texto foi inspirada na obra de José Luis Cortés, El ciclo C, Herder Editorial,  nos textos publicados neste «Laboratório da fé» a propósito do vigésimo oitavo domingo e na homilia proposta no guião «Outubro Missionário 2013».

© Laboratório da fé, 2013

Vigésima oitava semana, no Laboratório da fé, 2013
Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 13.10.13 | Sem comentários
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