Esta é a nossa fé [26]


Reflexão semanal 
sobre o Credo Niceno-constantinopolitano

A profissão de fé na Ascensão de Jesus Cristo («subiu aos Céus») tem um complemento que acrescenta: «onde está sentado à direita do Pai». Qual é o sentido desta afirmação? Há um simbolismo relacionado com esta terminologia sobre o qual vamos refletir. [Para ajudar a compreender melhor, ler: Salmo 110 (109); Catecismo da Igreja Católica, números 659 a 667]

«Disse o Senhor ao meu senhor: ‘Senta-te à minha direita’» — começa por afirmar o salmista. Os exegetas sugerem que se trata de um texto sobre a realeza. Neste sentido, a expressão «ao meu senhor» refere-se ao rei (cf. Bíblia Sagrada, Introdução ao Salmo 110, Difusora Bíblica, 957). Contudo, em vários textos do Novo Testamento, inclusive nos evangelhos, esta expressão é usada para se referir a Jesus Cristo. Por exemplo, nos Atos dos Apóstolos, Pedro serve-se deste salmo para anunciar a ressurreição de Jesus Cristo: «David não subiu ao Céu, mas ele próprio diz: ‘O Senhor disse ao meu Senhor: Senta-te à minha direita [...]. Saiba toda a casa de Israel, com absoluta certeza, que Deus estabeleceu como Senhor e Messias a esse Jesus por vós crucificado» (2, 34-36). No mesmo sentido podemos entender a afirmação no final do evangelho segundo Marcos: «O Senhor Jesus [...] foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de Deus» (16, 19). Esta relação com Jesus Cristo é também confirmada pelo próprio, aquando do julgamento no tribunal judaico. Trata-se de uma referência comum aos três evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). O próprio Jesus Cristo responde: «O Filho do Homem vai sentar-se à direita de Deus» (Lucas 22, 69). «Utilizando o Salmo 110, Jesus anuncia o começo do Reinado messiânico que, a partir da sua Páscoa, será reconhecido pela Igreja» (Bíblia Sagrada, Nota ao texto de Lucas, Difusora Bíblica, 1721).

Onde está sentado à direita do Pai. A expressão «está sentado» remete para uma situação solene e triunfal. A expressão «à direita» remete para uma situação hierárquica, isto é, trata-se de alguém «importante». Nas relações humanas, ainda hoje faz parte do protocolo dar um destaque especial à pessoa que é convidada a sentar-se à direita. Atribuir esta situação a Jesus Cristo é proclamar a sua honra. Mas é claro que se trata apenas de uma linguagem simbólica. Ao dizê-lo em relação a Jesus Cristo, não afirmamos uma postura corporal. Trata-se de evidenciar o estatuto especial de Jesus Cristo. Na Carta aos Efésios, Paulo põe em destaque a plenitude do Universo atribuída a Jesus Cristo pelo Pai: «ressuscitou-o dos mortos e sentou-o à sua direita, no alto do Céu, muito acima de todo o Poder, Principado, Autoridade, Potestade e Dominação e de qualquer outro nome que seja nomeado, não só neste mundo, mas também no que há de vir» (Efésios 1, 20-23). Na limitação da nossa linguagem para falar de Deus, esta é uma imagem visual simbólica que só tem sentido se ajudar a perceber melhor a presença de Jesus Cristo em Deus. O Catecismo da Igreja Católica [CIC] sublinha esta afirmação atribuindo-lhe duas características: a honra de Jesus Cristo (CIC 663) e a inauguração do Reino de Deus (CIC 664). «Com isto não se alude a um espaço cósmico distante, onde Deus tenha, por assim dizer, erigido o seu trono e, nele, dado um lugar também a Jesus. Deus não se encontra num espaço ao lado de outros espaços. Deus é Deus — Ele é o pressuposto e o fundamento de todo o espaço existente, mas não faz parte dele. A relação de Deus com todos os espaços é a de Senhor e Criador. A sua presença não é espacial, mas, precisamente, divina. ‘Sentar-se à direita de Deus’ significa participar na soberania própria de Deus sobre todo o espaço. [...] Ele entra na comunhão de vida e de poder com o Deus vivo, na situação de superioridade de Deus sobre todo o espaço. [...] Uma vez que está junto do Pai, Jesus não está longe, mas sim perto de nós. Agora já não se encontra num lugar concreto do mundo, como antes da ‘ascensão’; no seu poder, que supera todo e qualquer espaço, está presente junto de todos, podendo ser invocado por todos, através de toda a história e em todos os lugares» (Bento XVI, «Jesus de Nazaré. Parte II — Da Entrada em Jerusalém até à Ressurreição, Princípia Editora, Cascais 2011, 229-230).

«A Ascensão leva-nos a conhecer esta realidade tão consoladora para o nosso caminho: em Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, a nossa humanidade foi levada para junto de Deus; Ele abriu-nos a passagem; Ele é como um chefe de grupo, quando se escala uma montanha, que chega ao cimo e nos puxa para junto de si, conduzindo-nos para Deus» (Francisco, Audiência Geral, 17 de abril de 2013).

© Laboratório da fé, 2013


  
Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 25.4.13 | Sem comentários
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