Lemos hoje a segunda parte do «manifesto de Nazaré», cuja leitura foi iniciada no passado domingo. Recordemos o essencial do relato: encontrando-se na sinagoga de Nazaré, Jesus leu o capítulo 61 de Isaías que anuncia o Messias dos pobres e em seguida afirma que essa profecia se cumpre «hoje» (implicitamente, nele).
São três as reações do auditório: admiração, desprezo e, por último, ódio mortal. Ao princípio, todos lhe prestam atenção e ficam maravilhados com as suas palavras. Contudo, depois, nasce a dúvida nos seus corações, pois as «palavras cheias de graça» pronunciadas por Jesus não encaixam com a sua origem humilde.
A pergunta feita pelos presentes — «Não é este o filho de José?» — provoca uma longa intervenção de Jesus articulada em dois momentos: 1) diz-lhes um ditado já conhecido no mundo antigo («Médico, cura-te a ti mesmo») com o qual reconhece a hostilidade do auditório e confirma-o com outro ditado («Nenhum profeta é bem recebido na sua terra»), auto-apresentando-se assim como profeta; 2) recorre a dois exemplos do Antigo Testamento para ilustrar a sua experiência. O que estava a viver já tinha acontecido a dois grandes profetas de Israel: Elias e Eliseu.
Os dois exemplos mencionados encontram-se nos livros dos Reis: o milagre da farinha e do azeite (Primeiro Livro dos Reis 17, 7-16) e a cura do sírio Naamã (Segundo Livro dos Reis 5, 1-14). Nestes dois textos, Elias e Eliseu atuam em favor dos pagãos que, além de ser estrangeiros, eram marginalizados pela sociedade: uma pobre viúva de Sarepta e Naamã, um leproso sírio. A viúva e o leproso pertencem ao grupo dos pobres e dos oprimidos, a quem é destinada a libertação de Jesus (cf. Lucas 4, 18). A salvação, por isso, não é exclusiva de Israel, mas também atinge os povos pagãos. Dois exemplos do passado que iluminam o hoje de Jesus: Jesus veio para libertar não só o seu povo, mas todos aqueles que precisam da salvação. Cheios de indignação, os habitantes de Nazaré levantam-se para o precipitar no desfiladeiro, mas Jesus, incompreendido na sua terra, «seguiu o seu caminho».

© Nuria Calduch Benages (Misa dominical)
© Tradução e adaptação de Laboratório da fé

— Evangelho segundo Lucas 4, 21-30  > > >

 


Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 3.2.13 | Sem comentários
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