— Laboratório da fé na Pastoral da Saúde —
Nos próximos «capítulos» contar-vos-ei histórias, narrativas de vida, testamentos vitais e alguns vitalícios. Verídicos. Confidenciados. Em memória das pessoas que sirvo e na minha memória. Suficientemente alterados, garantindo a confidencialidade. Suficientemente preservados, garantindo a sofreguidão e a leveza, a crueza e a parábola. Acrescentarei a cada história um pequeno apontamento pessoal.
Quatro critérios perpassam a escolha e a construção das narrativas:
1. A vida está cheia de milagres e (por essa razão) a história está grávida de Deus. Há perfume no jardim das oliveiras, para ser parido.
2. A evangelização e a aventura da fé partem do coração e dirigem-se aos corações. Há perfume de Deus sempre que me falam/falo ao coração.....
3. A fé cura. A Palavra de Deus cura. O perdão cura. A escuta cura. Os sacramentos curam. Há perfume na fé.
4. «É praticamente impossível sobreviver a uma situação de sofrimento se não formos capazes de conseguir contar uma história articulada sobre a mesma, pelo menos a nós próprios» [3]. Há perfume nas histórias que tentarei contar-vos.
[1] Fonte web não confirmada.
[2] Torga M., Diário VI.
[3] RORTY, em OLIVEIRA, Clara Costa – PELLANDA, Nize – BOETTCHER, Dulci – REIS, Ana, Aprendizagem e sofrimento: narrativas, Edunisc, Santa Cruz do Sul, 2012, p. 26.
«Sabemos pronunciar belas palavras sobre o sofrimento. Eu próprio as pronunciei com ardor. Diga, por favor, aos padres para não as proferirem, nós ignoramos o que são as dores» [1]. Estas foram as palavras pretensamente confidenciadas pelo Cardeal Veuillot, arcebispo de Paris, nos últimos momentos de vida, vítima de cancro. Mais ou menos reais, estas palavras situam-nos no mistério do sofrimento, sempre inefável e sempre atemorizador. Atingem-nos no discurso apressado e ligeiro – às vezes até apoteótico – do anúncio do mistério pascal em situações de dor. O jardim das oliveiras solicitou somente presenças interpretativas. Na árvore da cruz não se escutaram vãs consolações mas gritos, provocações, promessas e presenças significativas. O túmulo vazio pediu somente testemunhas do perfume do corpo ressuscitado.
Sinto-me, também por isso, desautorizado a falar do sofrimento; permito-me somente tentar ser, cirurgicamente, testemunha paciente, vidente paciente, padre paciente, visitador paciente da cartografia do corpo e do espírito sendo ministro de um Amor primeiro - no contexto hospitalar - para os doentes, familiares, profissionais de saúde e voluntários. E se o Hospital é, teoricamente, o átrio da saúde, inevitavelmente nos confronta com o corpo-crise, o corpo-memória, o corpo-futuro, o corpo-família, o corpo-Cristo.
O padre, neste caso enquanto Assistente Espiritual e Religioso Hospitalar, é guardião deste corpo-crise, da epifania do corpo total, nas suas necessidades mais imediatas e mais profundas. Guardião, inutilitário mas não inútil, de histórias com rosto, nome, cheiro... Sobretudo das histórias dramáticas, que exigem dose dupla de tempo e confiança. E, creio como M. Torga: «no fundo do seu coração desiludido, atrás da ironia com que nos agride, a humanidade confia em nós» [2].
Sinto-me, também por isso, desautorizado a falar do sofrimento; permito-me somente tentar ser, cirurgicamente, testemunha paciente, vidente paciente, padre paciente, visitador paciente da cartografia do corpo e do espírito sendo ministro de um Amor primeiro - no contexto hospitalar - para os doentes, familiares, profissionais de saúde e voluntários. E se o Hospital é, teoricamente, o átrio da saúde, inevitavelmente nos confronta com o corpo-crise, o corpo-memória, o corpo-futuro, o corpo-família, o corpo-Cristo.
O padre, neste caso enquanto Assistente Espiritual e Religioso Hospitalar, é guardião deste corpo-crise, da epifania do corpo total, nas suas necessidades mais imediatas e mais profundas. Guardião, inutilitário mas não inútil, de histórias com rosto, nome, cheiro... Sobretudo das histórias dramáticas, que exigem dose dupla de tempo e confiança. E, creio como M. Torga: «no fundo do seu coração desiludido, atrás da ironia com que nos agride, a humanidade confia em nós» [2].
Nos próximos «capítulos» contar-vos-ei histórias, narrativas de vida, testamentos vitais e alguns vitalícios. Verídicos. Confidenciados. Em memória das pessoas que sirvo e na minha memória. Suficientemente alterados, garantindo a confidencialidade. Suficientemente preservados, garantindo a sofreguidão e a leveza, a crueza e a parábola. Acrescentarei a cada história um pequeno apontamento pessoal.
Quatro critérios perpassam a escolha e a construção das narrativas:
1. A vida está cheia de milagres e (por essa razão) a história está grávida de Deus. Há perfume no jardim das oliveiras, para ser parido.
2. A evangelização e a aventura da fé partem do coração e dirigem-se aos corações. Há perfume de Deus sempre que me falam/falo ao coração.....
3. A fé cura. A Palavra de Deus cura. O perdão cura. A escuta cura. Os sacramentos curam. Há perfume na fé.
4. «É praticamente impossível sobreviver a uma situação de sofrimento se não formos capazes de conseguir contar uma história articulada sobre a mesma, pelo menos a nós próprios» [3]. Há perfume nas histórias que tentarei contar-vos.
[1] Fonte web não confirmada.
[2] Torga M., Diário VI.
[3] RORTY, em OLIVEIRA, Clara Costa – PELLANDA, Nize – BOETTCHER, Dulci – REIS, Ana, Aprendizagem e sofrimento: narrativas, Edunisc, Santa Cruz do Sul, 2012, p. 26.
Padre Jorge Filipe Vilaça Barbosa