— reflexão semanal sobre o credo niceno-constantinopolitano — 

O segundo artigo do «Credo» é dedicado a Jesus Cristo, a segunda Pessoa de Deus (Uno e Trino). «Jesus Cristo é o Senhor» é uma afirmação de fé comum aos primeiros cristãos. É também a afirmação inicial sobre Jesus Cristo presente no «Credo», como vamos acolher no tema desta semana. [Para ajudar a compreender melhor, ler: João 13, 3-15; Catecismo da Igreja Católica, números 422 a 440 e 446 a 455

«Vós chamais-me ‘o Mestre’ e ‘o Senhor’, e dizeis bem, porque o sou» — ao dizer isto, o próprio Jesus mostra aos Apóstolos qual é o seu senhorio, através do gesto de lhes lavar os pés. Na cultura daquele tempo e lugar, ser o «Mestre e o Senhor» equivalia a dizer que era aquele que tinha o controlo, o domínio sobre todos os outros, a total autoridade para tomar uma decisão. O «senhor» designava o dono dos servos e dos escravos. Em maiúscula, os romanos utilizavam-no para se referirem ao Imperador. Os judeus atribuíam este título a Deus. Ora, no texto joanino, Jesus revela algo de «escandaloso». Ao contrário das regras sociais, o que é designado como «Senhor» é o que se ajoelha para lavar os pés aos servos. E é desta forma que Jesus Cristo se dá a conhecer como «Senhor», acrescentando: «Se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros». 

Creio. No segundo artigo do «Credo» repete-se a expressão inicial: «Creio». Nele está o centro da nossa fé cristã: a Pessoa de Jesus. Afirma o beato João Paulo II, no texto de referência para este milénio: «Certamente não nos move a esperança ingénua de que possa haver uma fórmula mágica para os grandes desafios do nosso tempo; não será uma fórmula a salvar-nos, mas uma Pessoa, e a certeza que Ela nos infunde: Eu estarei convosco!» (Carta Apostólica «No Início do Novo Milénio», 37

Em um só Senhor. O nome de Deus, para os hebreus, merecia uma tal veneração que não se atreviam a pronunciá-lo. Na leitura das Escrituras, onde estava escrito «YHWH» (Yahweh, Javé) pronunciavam «Adonai», isto é, «Senhor». Mais tarde, na tradução grega da Bíblia converte-se no nome próprio de Deus (Kyrios, Senhor). Dizer que Jesus Cristo é o «Senhor» (Kyrios) é proclamar a sua divindade: «ninguém pode dizer: ‘Jesus é Senhor’, senão pelo Espírito Santo» — diz Paulo na Primeira Carta aos Coríntios (12, 1). Deus, em Jesus Cristo, faz-se um ser humano. Por isso, Jesus Cristo é o nosso único Senhor. 

Jesus. Na Bíblia, o nome de uma personagem não é dado ao acaso. A atribuição de um nome levanta um pouco o véu sobre a missão. É o que acontece também com Jesus. A palavra «Jesus» (em hebreu Yehoshua, Yoshua, Josué, Jesus) significa «Deus salva», «Deus é salvação». É o nome revelado pelo anjo a Maria e a José, «porque Ele salvará o povo dos seus pecados (Mateus 1, 20). O nome diz a identidade e a missão: ser o «Salvador». Ao atribuir o nome ao menino, José exerce a paternidade legal sobre Jesus e insere-o na descendência de David. Neste processo, a salvação de Deus toma corpo na nossa história. Na linha das profecias do Antigo Testamento, o evangelista acrescenta «que hão de chamá-lo Emanuel, que quer dizer: Deus connosco» (Mateus 1, 23). «Em suma, Jesus é o nome que recorda [...] um encontro benéfico com Deus. ‘Crer em Jesus’ significa reconhecer que Deus não é indiferente [...] à nossa vida quotidiana, mas quer entrar nela para levar libertação, consolação, salvação e verdade» (Dionigi Tettamanzi, «Esta é a nossa fé!», Paulinas, Prior Velho 2005, 43). 

Cristo. Os discípulos de Jesus, após a Ressurreição, começam a utilizar com mais frequência o título de «Cristo» para se referirem ao Mestre. Os próprios discípulos passam a ser designados de «cristãos» (Atos dos Apóstolos 11, 26). A palavra «Cristo» traduz para o grego o título hebraico de «Messias» (Mashiah): a pessoa consagrada por uma unção de óleo para uma missão particular (o rei, os sacerdotes, os profetas). Ao nome de Jesus é acrescentado este título (Cristo), para expressar que Ele é o «Ungido», o cumprimento vivo de todas as profecias. Em Jesus, o «Cristo», torna-se plena a História da Salvação. Os escritos dos evangelhos mostram-nos que, tal como acontece no título de «Senhor», Jesus tem de ajudar os discípulos e todo o povo a reformular a conceção de «Messias». Não se trata de um político, de um restaurador da independência de Israel, um chefe revolucionário. Ele é o Messias que se revela no Senhor que lava os pés aos seus servos, que dá a vida para salvar o povo de todos os seus pecados. 

Bento XVI exorta-nos: «O Ano da Fé é convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo» («A Porta da Fé», 6).


 

Postado por Marcelino Paulo Ferreira | 22.11.12 | Sem comentários
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