CELEBRAR O DOMINGO TRIGÉSIMO
O evangelho do trigésimo domingo (Ano B), no relato segundo Marcos, anuncia o itinerário percorrido entre Jericó e Jerusalém: a caminhada serve para apresentar as condições para seguir Jesus Cristo. Eis que surge o cego Bartimeu: depois de curado por Jesus Cristo, decide seguir as suas pegadas (evangelho). Em Jesus Cristo, constituído sumo sacerdote em nosso favor (segunda leitura), cumpre-se a salvação anunciada pelo profeta Jeremias: os exilados voltam cheios de alegria (primeira leitura) e cantam as maravilhas de Deus (salmo). Em Jesus Cristo, hoje, tornamo-nos esse povo de salvos quando decidimos seguir as suas pegadas, quando lhe confiamos toda a nossa fé.
«Soltai brados de alegria»
O exílio do povo de Israel, na Babilónia, foi uma derrota e um tempo propício para fazer crescer o sentimento de abandono e de desânimo. Neste sentido, hoje, o exílio serve como uma metáfora para nos ajudar a compreender as atuais situações de desespero e desumanização.
No fragmento do livro de Jeremias proposto para primeira leitura, Deus dirige-se à comunidade exilada e anuncia-lhe uma nova realidade apenas fundada na fidelidade divina. Através do profeta, Deus faz chegar ao povo uma mensagem cheia de imperativos. «Soltai brados de alegria». O povo de Deus é convidado a soltar brados de alegria, a enaltecer, a fazer ouvir, a proclamar. São atos de alegria impensáveis para um povo reduzido ao silêncio do exílio. A razão desse júbilo é que Deus, o Deus da Aliança, quer salvar o povo que escolheu, apesar desse povo lhe ter sido infiel em vários momentos da história. Deus intervém para libertar e dar início a uma nova vida, uma vida completamente inesperada: vai terminar o jugo opressor da Babilónia; todos vão regressar a casa.
Jeremias é um profeta originário da tribo de Benjamim, herdeiro da teologia própria das tribos do Norte. Por isso, não é de estranhar a insistência em destacar Israel em detrimento de Judá, reino do Sul (o reino de Israel tinha desaparecido em 722 antes de Cristo).
No texto, importa destaca a força da primeira pessoa: «Vou trazê-los… reuni-los… vou trazê-los… levá-los-ei». Deus é o autor destas ações que hão de transformar a vida de Israel. Em seguida, o profeta Jeremias explica a grande peregrinação duma multidão que vai regressar a casa. Nesta multidão, incluem-se o cego, o coxo, a mulher grávida e «a que já deu à luz». Estas personagens representam as pessoas frágeis e indefesas que são objeto de um carinho especial da parte de Deus. Por fim, diz-se que terminou o medo e o caminho de regresso será absolutamente seguro, porque Deus é «um Pai para Israel».
Deus é Pai. Esta é também a teologia de Jesus Cristo: Deus é um Pai que ama todas as pessoas. Ninguém fica de fora, «já que ‘da alegria trazida pelo Senhor ninguém é excluído’ […]. Ninguém nos pode tirar a dignidade que este amor infinito e inabalável nos confere. Ele permite-nos levantar a cabeça e recomeçar, com uma ternura que nunca nos defrauda e sempre nos pode restituir a alegria» (EG 3).